Descrição de chapéu indígenas

Foto em homenagem a crianças indígenas mortas ganha World Press Photo

Mais importante prêmio de fotojornalismo também reconheceu reportagem sobre queimada de terras

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Cruz de madeira ornada com vestido infantil, em uma homenagem às crianças indígenas mortas num internato canadense; foto é a vencedora do WPP 2022 - Amber Bracken/The New York Times/WPP
São Paulo

Uma fileira de cruzes de madeira cravadas na beira de uma estrada, ornadas com vestidos infantis. A imagem vencedora do World Press Photo deste ano, o mais importante prêmio de fotojornalismo do mundo, é uma homenagem às crianças indígenas mortas num internato canadense para o qual foram enviadas para serem convertidas para a cultura ocidental e católica.

A foto desoladora da documentarista canadense Amber Bracken, feita para uma reportagem do jornal The New York Times, é uma lembrança do sistema de escolas católicas voltadas para a assimilação de crianças indígenas, que começou a operar no Canadá no século 19.

Cerca de 150 mil estudantes passaram por tais instituições, e ao menos 4.100 morreram durante o período em que estiveram internas, como resultado de maus tratos, negligência, doença ou acidente.

"A história colonial não é uma história antiga. É uma história viva com a qual os sobreviventes ainda estão lutando. Se queremos falar sobre reconciliação ou cura, precisamos realmente manter e honrar o coração que ainda existe lá", disse a fotógrafa sobre a imagem.

Bracken é a quinta mulher a ganhar a láurea que, pela primeira vez em 67 anos, foi concedida para uma fotografia sem a presença humana.

No ano passado, uma vala comum com 215 corpos de crianças indígenas foi descoberta na província de Colúmbia Britânica. Relatos indicam que os indígenas eram retirados de casa e levados à força para os internatos; muitos nunca voltaram, eram considerados desaparecidos, e suas famílias não recebiam explicações.

A história voltou à tona há poucos dias, quando o papa Francisco pediu desculpas formais aos povos indígenas do Canadá pelo papel da Igreja Católica nos internatos. Em julho do ano passado, o papa já havia expressado tristeza pelo caso —o premiê Justin Trudeau fez reiterados apelos para que o Vaticano assumisse a responsabilidade por seu controverso papel na administração de tais escolas.

Outro vencedor deste ano foi o australiano Matthew Abbott, com uma reportagem fotográfica que realizou para a revista National Geographic. Ele retratou a tradição da queima fria, executada pelo povo Nawarddeken, do norte da Austrália. Trata-se de uma queima de terras estratégica, que evita incêndios florestais destrutivos nos meses mais quentes do ano, comuns na Austrália, e acaba por proteger o meio ambiente.

Pelo método da queima fria, empregado há séculos, o fogo se move lentamente, queimando apenas a vegetação rasteira e removendo o acúmulo de combustível que alimenta as chamas maiores. "Para eles [o povo Nawarddeken], o fogo é parte da vida cotidiana, não algo a ser temido", afirma o fotógrafo, acrescentando que conheceu a tradição pela primeira vez em 2008, antes de executar a reportagem que levou o prêmio.

O World Press Photo também reconheceu o trabalho do fotojornalista da Folha Lalo de Almeida, que ganhou na categoria de longa duração por seu trabalho na Amazônia. O trabalho, iniciado em 2012 e concluído no ano passado, consiste numa sequência de 30 fotografias que documentam a ocupação amazônica e o seu impacto na floresta e nos habitantes da região.

Por fim, na categoria formato aberto, o World Press Photo foi dado para o vídeo "Blood Is a Seed", ou o sangue é uma semente, que questiona o desaparecimento de sementes, a migração forçada, a colonização e a consequente perda de conhecimento ancestral.

O trabalho da artista visual equatoriana Isadora Romero é composto por fotografias digitais e analógicas, algumas das quais tiradas com filme vencido e que subsequentemente receberam desenhos de seu pai.

Em uma viagem à sua aldeia ancestral de Une, na Colômbia, a artista explora memórias esquecidas da terra e das plantações e aprende sobre seu avô e bisavó, ambos guardiões de sementes e que cultivavam diversas variedades de batata, apenas duas das quais ainda existem.

De acordo com a organização do World Press Photo, os trabalhos premiados convidam os espectadores a saírem do ciclo de notícias e refletirem sobre os efeitos devastadores da colonização e a importância de preservar o conhecimento indígena.

"As histórias e fotografias dos vencedores estão interconectadas. Todos os quatro, de maneiras únicas, abordam as consequências da corrida da humanidade pelo progresso e seus efeitos devastadores em nosso planeta. Esses projetos não apenas refletem sobre a urgência imediata da crise climática, mas também nos dão uma visão de possíveis soluções", afirmou a chefe do júri, Rena Effendi.

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