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Eleições 2022 Sabatinas racismo

Presidenciáveis têm dificuldade em priorizar questão racial nas propostas

Nas sabatinas realizadas pela Folha, campanhas seguiram roteiros de eleições anteriores com falas genéricas e poucos compromissos assumidos

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São Paulo


Os problemas sociais existentes no Brasil não afetam da mesma maneira a população do país. As pessoas negras figuram como as mais impactadas negativamente em diversos índices relacionados com saúde, educação, desemprego e violência, para ficar apenas em alguns temas.

Mesmo assim, os candidatos à Presidência mais bem colocados nas pesquisas não apresentam de forma direta e objetiva projetos que levam em conta a questão racial em sua formulação. Pouco falam nos debates e entrevistas. Menções genéricas podem ser vistas nos planos de governo. Às vezes, nem isso.

Esta não é uma novidade desta eleição, mas não deixa de surpreender que ainda continue acontecendo em um país formado por cerca de 54% de pessoas negras.

Ao longo dos anos, governos de diferentes espectros políticos negligenciaram a base fundadora de boa parte, para não dizer da maioria, das desigualdades enfrentadas pelo país. O legado de décadas de racismo velado, somado aos espólios de séculos de escravidão, pavimentou o caminho até os dias atuais nos quais negros aparecem negativamente em praticamente todos os indicadores sociais.

Jornalista da Folha Tayguara Ribeiro durante as sabatinas sobre racismo com representantes dos candidatos à Presidência - Marcelo Chello - 13.set.22/Folhapress

Na na última década (2010 - 2019), 78% das pessoas que morreram vítimas de arma de fogo eram negras, segundo o Instituto Sou da Paz. O Atlas da Violência 2021 mostra que pessoas negras têm 2,6 vezes mais chances de morrer assassinadas no Brasil. Em 2022, o número de pessoas encarceradas está na casa dos 820 mil, 67,5% negros.

Estudo da organização Crioula mostra que a mortalidade materna é 77% maior entre mulheres negras. De acordo com o IBGE, 65% dos desempregados de longa duração —pessoas que estão sem trabalho há dois anos ou mais-- são pretos e pardos.

Também segundo o instituto, no segundo trimestre deste ano, enquanto o desemprego entre pretos e pardos ficou na casa dos 11%, entre pessoas brancas foi de 7,5%.

Em um ciclo de sabatinas realizado pela Folha para debater o tema e tentar conhecer melhor o que os candidatos pensam e pouco falam sobre o assunto, os representantes das campanhas de Lula (PT), Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) concordaram que embora tenham ocorrido avanços, ainda existem dificuldades para colocar a questão racial na centralidade na hora de elaborar as ações públicas.

Os três candidatos que lideram as pesquisas para a Presidência —Jair Bolsonaro (PL) não enviou representantes para as sabatinas da Folha— garantem ser favoráveis às cotas raciais em universidades e concursos públicos.

Segundo seus representantes, caso um deles seja eleito, poderemos esperar, inclusive, a ampliação das cotas, com vistas a pós-graduação.

Durante as entrevistas, a campanha de Lula afirmou que a inserção de jovens negros no mercado de trabalho e a criação de ações para que cheguem a cargos de chefia devem ser feitas por meio de qualificação profissional —pública e privada. Um futuro governo petista pretende incentivar o aumento da diversidade nas empresas.

Para combater o desemprego, Ciro Gomes promete criar um programa de capacitação profissional para pessoas negras e periféricas. O presidenciável quer ainda dar incentivos fiscais a empresas que contratem pessoas negras.

Além disso, o candidato pretende estabelecer um programa de renda mínima para ajudar pessoas em vulnerabilidade social.

A campanha de Tebet pretende atuar em políticas que criam condições econômicas e sociais que mantenham as famílias assistidas —desde creches em tempo integral até a criação de benefícios e programas sociais.

As medidas visam também as questões ligadas a segurança pública, violência... Já que as dificuldades vivenciadas pela população negra aparecem de forma interconectadas. Pouco acesso ao saneamento básico vai afetar as condições de saúde. Educação de baixa qualidade poderá impactar a empregabilidade, por exemplo.

A campanha da emedebista pretende investir em inteligência para barrar o crime organizado e recriar o Ministério da Segurança Pública. Também intenta conter a entrada de armas ilegais nas fronteiras do país e criar mecanismos para paralisar o acesso a armamentos.

Nessa área, segundo seu representante, Ciro Gomes (PDT) vai rever a Lei de Drogas, sancionada em 2006, para combater os altos índices de homicídio e encarceramento de pessoas negras.

Já Lula deve trabalhar para o aprimoramento do Sistema Único de Segurança Pública, formado pelos municípios, estados e União.

A capacitação técnica dos policiais também deve ser ponto de atenção, junto com a busca por alternativas para a diminuição do encarceramento da população negra, segundo a campanha do petista.

Os candidatos se esforçaram em mostrar que os projetos gerais irão beneficiar a população negra, mas ainda não elaboram, de forma geral, propostas específicas que considerem a desigualdade racial existente no país.




Assista às sabatinas

Nilma Gomes, da campanha de Lula (PT)




Nestor Neto, da campanha de Tebet (MDB)



Ivaldo Paixão, da campanha de Ciro (MDB)

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