Descrição de chapéu chuva

Entenda por que é tão difícil prever o tempo na primavera

Caráter de transição da estação dificulta que meteorologistas consigam saber quando e onde chove ou esquenta

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São Paulo

Sair de casa nas últimas semanas exige uma escolha minuciosa: roupa leve ou cachecol, guarda-chuva e galocha? Pessoas de todo o Brasil têm sido surpreendidas por pancadas de chuva, dias frios interrompidos por sol e a ocorrência de tempestades com granizo. Olhar a previsão do tempo, no entanto, pode não ajudar muito durante a primavera.

Especialistas dizem que a estação, assim como o outono, é um período de transição entre a estiagem do inverno e as chuvas de verão, e que essa característica aumenta a chance de erros na previsão meteorológica.

Isso acontece por causa da alta variação de temperaturas pelo Brasil, combinada com a ação de sistemas meteorológicos que surgem no início da primavera e só vão se consolidar no fim da estação.

foto de câmera de trânsito mostra veículos em rodovia que tem grandes porções com gelo após chuva de granizo
Motoristas enfrentam chuva de granizo na rodovia Fernão Dias, na região de São Gonçalo do Sapucaí (MG) - Reprodução

Os corredores de umidade, por exemplo, iniciam nessa época do ano e são responsáveis por levar as chuvas para o interior do país.

A maior parte da precipitação que chega às regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul está associada à umidade e à formação de nuvens na floresta amazônica. A circulação de ventos, que se organiza a partir das temperaturas mais altas, carrega as chuvas para outras regiões do Brasil.

No fim da primavera, a umidade da Amazônia, junto com ventos surgidos nas proximidades da linha do Equador, deve formar a Zona de Convergência do Atlântico Sul, principal responsável pela ocorrência de chuvas no Centro-Sul do país.

Outro sistema são as áreas de baixa pressão atmosférica formadas perto do Paraguai, chamadas de cavados meteorológicos em seu estágio inicial, que favorecem a ocorrência de chuvas no interior de estados do Sul e em Mato Grosso do Sul.

É justamente um cavado que desanima quem pretende ir à praia no Rio de Janeiro ou aproveitar espaços abertos em Minas Gerais e São Paulo esta semana. Posicionado sobre os três estados na manhã de terça-feira (4), o sistema provoca chuvas e a queda de temperatura, afirma Andrea Gama, meteorologista do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) em Brasília.

"O tempo vai ficar assim no Rio de Janeiro: nesta quarta [5] com temperaturas abaixo de 25ºC, quinta [6] e sexta [7] com temperaturas próximas a 30ºC, No sábado [8] cai, no domingo [9] volta a aquecer", diz a Andrea.

Mas não é só isso. "No decorrer desses dias tem mais chuva hoje e amanhã, para na quinta, volta na sexta um pouquinho, para no sábado e volta no domingo. A primavera tem essa característica", completa.

Um erro frequente na meteorologia nessa época do ano é saber onde vão ocorrer os eventos influenciados pelos sistemas da primavera. Quanto maior a variação de temperaturas pelo país, mais difícil é saber onde vão ocorrer chuvas ou esfriar e esquentar, diz a meteorologista Carine Gama, da Climatempo.

"Você ainda não tem uma temperatura homogênea pelo Brasil, o gradiente é muito grande. Calor e umidade geram pancadas de chuva, mas ainda não temos calor e precisamos da umidade da região Norte", afirma.

Segundo Marlene Leal, do Inmet no Rio de Janeiro, a interação entre de temperaturas mais altas com umidade e as frentes frias tende a ocasionar a chuva que pega de surpresa quem sai do trabalho.

"Essa combinação favorece a formação de nuvens de maior desenvolvimento vertical, causando aquelas pancadas nos fins de tarde, acompanhadas de trovoadas e rajadas de vento", diz a meteorologista. Marlene explica que a combinação com frentes frias deixa o tempo mais instável, dificultando a previsão.

As frentes frias potencializam as tempestades. O granizo, por exemplo, ocorre quando o gelo formado no topo das nuvens, a partir dos cinco quilômetros de altura, precipita muito rápido com a chegada das nuvens em regiões com temperaturas já quentes, não havendo tempo para que o gelo derreta antes de chegar ao solo.

Em publicação na rede social, o Inmet registrou a ocorrência de granizo na terça em Teresópolis e Petrópolis, no interior do Rio de Janeiro.

Mudanças climáticas e fenômenos como o La Niña, que está em seu terceiro ano, mudam a posição de ventos e tendem a alterar a ocorrência e o volume de chuva no Centro-Sul e no Norte do Brasil. Essa mudança está entre as causas de tempestades na Bahia em dezembro de 2021 e temperaturas altas no Rio Grande do Sul no começo deste ano.

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