Descrição de chapéu Interior de São Paulo

Origem de gás tóxico que matou mulher em Pontal (SP) segue desconhecida

Polícia encontra caminhão-tanque abandonado e apura se substância vazou do veículo; três pessoas seguem internadas

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Ribeirão Preto

Quase dois dias após a dispersão de um gás que matou uma mulher e intoxicou cerca de 95 pessoas em Pontal (a 315 km de SP), a polícia e a prefeitura da cidade de 52 mil habitantes ainda investigam qual substância provocou o incidente e como ela se originou.

Três pacientes seguem internados em hospitais de Ribeirão Preto e de Sertãozinho, na região. Uma delas está intubada e as outras sofreram complicações respiratórias.

Entrada da Santa Casa de Pontal (SP), onde dezenas de pessoas foram socorridas após a dispersão de um gás tóxico na noite de terça (4) - Reprodução/TV Globo

Chamada de "névoa visível" pela Cetesb (companhia ambiental do estado), a substância alcançou um perímetro de cerca de 100 metros quadrados na noite de terça (4), tendo se dissipado após uma hora. Moradores de cinco bairros sentiram falta de ar, ardência na garganta, dor no peito, mal-estar e vômito.

Segundo o órgão, o entorno do bairro de origem, Campos Elíseos, "é constituído basicamente por casas e oficinas de indústrias". Em busca de indícios de problemas ou situações que pudessem ter gerado a emissão dos gases, quatro empresas e um depósito de produtos químicos de uma delas foram revistados, mas nada foi encontrado.

A Polícia Civil investiga se um caminhão-tanque foi o responsável pelo despejo irregular ou vazamento acidental do gás. Um veículo com aviso de transporte de substância perigosa foi encontrado abandonado nesta quinta (6) em uma estrada nas redondezas. "Vamos periciá-lo para saber se pode ter ou não envolvimento com o incidente", afirmou o delegado responsável pelo caso, Igor Dorsa.

A procura pelo veículo começou depois que moradores relataram no final da tarde de quarta (5) terem ouvido um barulho forte antes de a nuvem tóxica se espalhar. Pela manhã, o motorista de outro caminhão foi identificado por meio de câmeras de segurança e ouvido, mas a polícia descartou a relação dele com o caso.

A suspeita inicial levantada, a de produção clandestina de produtos químicos por moradores, já havia sido afastada na quarta após perícia em todo o bairro.

Os investigadores aguardam agora os laudos especiais do Instituto de Criminalística e do Instituto Médico Legal para esclarecer a morte da trabalhadora rural Alessandra Alves da Silva, 38. Ela cozinhava em casa quando passou mal e, segundo a prefeitura, já chegou ao hospital sem vida.

"A partir da identificação da substância vamos fazer o rastreamento aqui na cidade de Pontal de quem teria trabalhado com ela no dia", explica o delegado. O resultado deve sair de 30 a 40 dias.

O serralheiro Wagner Teixeira mostra placa danificada após a passagem da nuvem de gás em Pontal (SP) - Danielle Castro - 5.out.2022/Folhapress

Em nota, a Cetesb informou que toda a rede de drenagem de águas pluviais foi verificada. A agência ambiental disse ainda ter sondado "cinco poços de visitas de esgoto e estenderam as vistorias até a estação elevatória de esgoto do município, num raio de até 400 metros do centro dos acontecimentos, porém nada encontrando de suspeito".

As vistorias na cidade também envolveram técnicos da Agência Ambiental de Franca e Ribeirão Preto, na região de Pontal, Corpo de Bombeiros, Vigilância Sanitária e órgão de meio ambiente municipal, além da polícia.

Nesta quinta, as aulas e serviços públicos de Pontal que haviam sido suspensos foram retomados. Cerca de mil pessoas que haviam sido desalojadas por segurança também já voltaram para as suas casas.

Mistério

A proporção dos danos causados pelo gás tóxico na cidade impressiona especialistas. Eles acreditam que só um evento significativo poderia ter causado o estrago com tamanha alcance e rapidez —o gás atingiu cinco bairros, intoxicou pessoas e danificou a vegetação rasteira e objetos de metais.

Francisco Brandão, sócio e químico responsável da empresa de produtos de limpeza e higiene Quimiart, de Ribeirão Preto, diz acreditar as características do acidente apontam para um ácido como o clorídrico ou o fluorídrico.

"Pela nossa experiência de fabricação de produtos que usam esses ácidos, eles provocam mesmo essa reação violenta de metais, essa corrosão", afirmou Brandão. Uma serralheria no bairro Campos Elíseos relatou um prejuízo de R$ 20 mil em peças metálicas danificadas após a passagem da névoa tóxica.

Brandão avalia que a substância original deve ter sido produzida em alguma fábrica, sendo na sequência descartada no esgoto ou em algum córrego e em boa quantidade.

Para Elia Tfouni, especialista em química inorgânica e professor da USP (Universidade de São Paulo), é muito grave o fato de a causa do problema ainda ser desconhecida. "Há um monte de gases possíveis, mas como não viram nada? Algumas perguntas precisam ser feitas, principalmente se algo ilegal trouxe esses desdobramentos", afirma.

A Promotoria de Justiça de Pontal abriu procedimento para investigar "a existência e extensão do dano ambiental, a lesão à saúde pública e demais direitos difusos da coletividade", além de acompanhar o suporte dado pela prefeitura à população.

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