Descrição de chapéu Interior de São Paulo

Vazamento de gás tóxico deixa 1 morto, causa pânico e lota hospital de Pontal (SP)

Dezenas de pessoas com falta de ar deixaram suas casas na noite desta terça (4); causa é investigada

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São Paulo e Ribeirão Preto

O vazamento de um gás tóxico ainda não identificado deixou uma pessoa morta e fez com que dezenas procurassem atendimento médico, com falta de ar, em Pontal (a 315 km de SP), na noite desta terça-feira (4).

Segundo a prefeitura, três pessoas continuavam internadas nesta quarta (5) em hospitais da região, sendo duas intubadas. Mais de 90 pacientes precisaram de atendimento.

As autoridades ainda não sabem qual substância causou a intoxicação nem onde exatamente o problema começou. A suspeita inicial era que tivesse ocorrido um vazamento em um local de fabricação irregular de produtos de limpeza, mas após vistorias em casas e empresas do setor essa hipótese foi descartada.

Moradora de Pontal com sinais de intoxicação é socorrida na Santa Casa da cidade após vazamento de gás tóxico - Reprodução/TV Globo

Agora, a polícia e a prefeitura buscam imagens de câmeras de segurança para apurar se algum veículo que transportava esse tipo de produto se acidentou região.

Os primeiros sinais foram percebidos no bairro Campos Elíseos, mas a substância chegou também a Nova Pontal, Jardim Europa, Jardim Jequitibá 1, 2 e 3, Vila Adelaide e Vila Regina.

Os moradores relataram o surgimento de um vapor que entrou nas casas, com cheiro forte, e causou falta de ar, ardência na garganta, dor no peito e mal-estar, por volta das 19h. Houve pânico e correria e muitas pessoas saíram de casa vomitando.

Alessandra Alves da Silva, 38, estava em casa quando começou a passar mal e já chegou ao hospital sem vida. A cortadora de cana preparava o jantar para o sobrinho quando o gás tóxico começou. "Ela tinha acabado de chegar do trabalho, nem desfez a mochilinha dela. Eu estava em Barretos trabalhando", contou o técnico de alta tensão Francisco Germano de Lima, 39, marido da vítima.

A perícia passou a madrugada na casa deles e dos vizinhos procurando por vestígios de preparo de produtos de limpeza caseiros que pudessem ter ocasionado a reação, mas nada foi encontrado. Também foi feita vistoria nas redes de água e esgoto.

O serralheiro Wagner Antonio Teixeira, 60, trabalhava na hora do nevoeiro e correu para salvar seus animais, mas acabou por perder dois de seus três cães, além de cerca de cem aves de granja que ele criava no fundo da empresa.

"Sobraram só as galinhas que ficaram no alto, mas não estão bem, e o mato todo secou na hora. Eu mesmo não aguentei muito, fiquei uns oito ou dez minutos no máximo, era um cheiro insuportável, um ar pesado", relatou Wagner. Com ajuda dos bombeiros, Wagner lavou o cão sobrevivente. "Eles foram me orientando, se não tinha morrido esse também", afirmou.

Waldomiro e Wagner, dois homens, usando camisa polo e calça jeans, dentro de uma serralheria com várias ferramentas ao fundo. Wagner (à direita) mostra dois cadeados oxidados em sua mão.
Os serralheiros Waldomiro e Wagner Teixeira mostram cadeados e placas que teriam sido danificados por gás tóxico - Danielle Castro/Folhapress

O irmão dele, Waldomiro Teixeira, 46, afirma que além dos animais mortos, cadeados, placas e outros materiais novos de metal foram danificados. "Foi R$ 20 mil de prejuízo. Nunca vimos nada assim", contou.

Beatriz Xavier, 17, disse ter ouvido os gritos da vizinha, mas a família não conseguia sair de casa. "Muita gente desmaiou, inclusive meu primo de 11 anos", relatou a estudante.

A dona de casa Cleonice dos Reis, 40, diz que conversava com uma amiga no portão quando viu um gás branco tomar conta do bairro até uma altura de 1,70 metro do chão. "Passava da nossa cabeça a névoa, começamos a tossir e sufocar, o olho ardeu muito. Ainda bem que o atendimento foi rápido na cidade, fizemos inalação e tomamos algo na veia. Foi triste ver tudo aquilo", disse Cleonice.

Desalojados e socorridos

Os moradores da cidade de 52 mil habitantes foram orientados a usar máscaras máscaras de proteção respiratória, deixar os imóveis abertos e buscar abrigo pelo menos até esta quarta.

A secretária de Desenvolvimento de Pontal, Luana Modesto Pedro, participou da triagem e acolhimento das famílias e contou que muitas crianças foram socorridas e separadas dos pais na hora da confusão. "Algumas mães também chegaram sem os filhos, mas conseguimos reunir todos."

Cerca de 50 pessoas foram para o alojamento montado em um ginásio de esportes. Pessoas em situação de rua foram outra preocupação. "Estavam assustados e muitos pediram passagem para ir embora hoje mesmo da cidade. Também tivemos que emitir um comunicado de que a água não estava contaminada", afirmou a secretária.

Os reservatórios passaram por três testes e a contaminação foi descartada, segundo a prefeitura.

Wagner Teixeira mostra placa danos em placa de metal; ele também perdeu cem cães e aves - Danielle Castro/Folhapress

O vice-prefeito João Henrique Dias Pedro, interventor da Santa Casa, estava no hospital quando os casos começaram a chegar —a unidade de saúde fica a cerca de 1,5 km da distância da rua onde o gás teria surgido.

Segundo ele, o cheiro do gás lembrava o de água sanitária. "A gente sentia daqui o cheiro, era muito forte e ficou nas máscaras e nas roupas das pessoas", relatou o interventor.

A Santa Casa da cidade ficou lotada e a prefeitura precisou pedir ajuda a municípios vizinhos para conseguir ambulâncias e a transferência de pacientes. Médicos e enfermeiros foram convocados com urgência.

Os três pacientes em estado grave foram transferidos para hospitais em Sertãozinho e Ribeiro Preto. Em Ribeirão, uma mulher de 47 anos intubada no hospital São Lucas seguia em observação na noite desta quinta.

Animais de estimação também foram levados para a Santa Casa após o vazamento, e funcionários pediram o auxílio voluntário de veterinários.

Em uma live pouco depois da meia-noite, o prefeito José Carlos Neves Silva (PSL) anunciou que todos os serviços públicos, exceto os de saúde, estariam suspensos nesta quarta-feira, assim como as aulas nas escolas municipais.

O prefeito afirmou que poderá abrir também escolas públicas para os desabrigados temporários. Ele garantiu o fornecimento de colchões, cobertores, água, leite e alimentos. O município divulgou o telefone (16) 3953-9999 para informações.

A Cesteb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) foi acionada para avaliar a situação e informou que estão sendo feitas inspeções nos imóveis e em empresas das imediações, em busca da fonte da poluição.

"Até o momento, não foi encontrada nenhuma atividade que pudesse ser a causadora da contaminação", disse o órgão.

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