Thiago Brennand é preso em Abu Dhabi acusado de agressão, mas sai após fiança

Empresário estava foragido desde setembro e, nesta sexta, virou réu por novas suspeitas de crimes sexuais; ele nega

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Brasília e São Paulo

O empresário Thiago Brennand, 42, foi preso em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. Ele era considerado foragido das autoridades brasileiras após ter a prisão preventiva decretada. Após pagar fiança, ele foi liberado e, segundo seu advogado, não pode deixar o país sem informar a Justiça.

Assim, Brennand vai responder a eventual processo de extradição em liberdade.

Brennand havia viajado para Dubai, no mesmo país, em 4 de setembro, horas antes de ser denunciado pelo Ministério Público de São Paulo sob suspeita de lesão corporal e corrupção de menores. Procurada nesta sexta (14), a defesa dele, que nega os crimes, disse que não tem nada a declarar.

Foto do empresário Thiago Brennand sem camisa, deitando em uma bancada
Thiago Brennand, acusado de agredir a modelo Alliny Helena Gomes em academia de luxo no shopping Iguatemi, em São Paulo, foi preso na manhã desta sexta (14) - thiagobrennandfv/Instagram

Inicialmente, a PF informou que a prisão tinha ocorrido em Dubai, na quinta (13), mas horas depois esclareceu que o empresário foi capturado em Abu Dhabi. Ele foi detido pela polícia nacional dos Emirados Árabes, com auxílio da Interpol, após entrar na lista de foragidos por não retornar ao Brasil no prazo estipulado pela Justiça.

Brennand ficou conhecido em setembro deste ano após agredir a atriz e modelo Alliny Helena Gomes, 37, durante discussão em uma academia de ginástica na zona oeste de São Paulo —a denúncia por corrupção de menores se baseia na suspeita de que ele teria incentivado o filho adolescente, que presenciou a agressão, a ofender a modelo.

Em entrevista à Folha antes de saber da soltura, Alliny Gomes disse estar "aliviada" e "em segurança" com a prisão. "Tem muitos Thiagos por aí", afirmou. "Ao ver que a justiça está aí e que ela acontece, acho que esses outros agressores vão tomar mais cuidado antes de agredir uma mulher."

Após a repercussão do episódio, que foi gravado, Brennand passou a ser acusado de crimes sexuais por ao menos 11 mulheres, que relatam desde supostos estupros a rituais para tatuar suas próprias iniciais no corpo das vítimas.

A maior parte da lista de vítimas é conduzida pelo escritório de advocacia Janjacomo e por representantes do projeto Justiceiras, que combate a violência contra a mulher.

Nesta sexta, o Ministério Público paulista formalizou uma segunda denúncia contra Brennand, agora relacionada a esses novos relatos. A Promotoria de Porto Feliz (a 118 km de São Paulo) afirma que ele cometeu em uma mesma vítima cinco crimes: estupro, cárcere privado, tortura, lesão corporal de natureza gravíssima e coação no curso do processo. A Justiça aceitou acusação, o que o torna réu novamente.

No mesmo caso, ele também foi denunciado por suspeita de cometer três constrangimentos ilegais, quatro ameaças, registro não autorizado da intimidade sexual e oito divulgações de cena de estupro ou sexo.

A suspeita que culminou na nova denúncia é de agosto do ano passado e envolve uma brasileira de 37 anos, que vive nos Estados Unidos e afirma ter sido mantida em cárcere privado na casa de Brennand em Porto Feliz, além de ter sido estuprada, agredida (física e moralmente) e tido o corpo tatuado à força.

Ela diz ainda que o empresário vazou vídeos de relações sexuais com ela, que teriam sido enviados até para a filha adolescente dela.

A investigação conduzida pela Promotoria de Porto Feliz chegou a ser arquivada em junho deste ano, por falta de provas. Foi reaberta, porém, após reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, divulgar um áudio do empresário em que ele fazia ameaças a essa vítima.

Na época, Brennand negou os crimes. Em depoimento, confirmou que teve relações sexuais com a mulher, mas disse que foi com o consentimento dela. Ele também afirmou que a suposta vítima teria "sede de fama" e foi vista em diversos locais sem ter pedido socorro ou manifestado comportamento estranho.

De acordo com o advogado Marcio Janjacomo Júnior, outras cinco novas queixas foram encaminhadas à Promotoria de Porto Feliz nesta sexta-feira. Segundo ele, mulheres acusam Brennand de crimes que envolvem estupro, perseguição, ofensa e difamação e ocorreram entre 2019 e 2022.

Janjacomo afirma que os novos casos aconteceram no estado de São Paulo e as denúncias foram encaminhadas para Porto Feliz como uma forma de acelerar o processo e triagem das novas vítimas.

O suspeito de crimes é herdeiro de uma família tradicional do Recife. De acordo com advogados, seu patrimônio é avaliado avaliado em R$ 200 milhões.

A família, por meio do Grupo Fernandes Vieira, vendeu em 2016 o hospital Santa Joana ao UnitedHealth Group, que faz parte do Americas Serviços Médicos, e o Memorial São José para a Rede D'Or.

Como reportagem da Folha mostrou, após receberem ameaças de Brennand, seus pais formalizaram em cartório um documento em que manifestam a vontade de retirá-lo do testamento.

O empresário sempre negou as acusações contra ele. Em vídeo publicado na internet após a viagem para Dubai, Brennand negou que estivesse fugindo. "Eu tô tranquilíssimo. Tinha algumas opções de países para onde ir", diz, sem especificar em qual país estava. "Estou tranquilo onde estou. Não estou fugindo. Prisão ilegal? Quem que vai se submeter a um Estado de exceção?"

O empresário afirma que as acusações fazem parte de uma conspiração contra ele e que a maioria das denúncias de crimes de estupro no Brasil é falsa.

Sobre as agressões contra a modelo na academia, sua defesa à época havia alegado que ele compareceu espontaneamente para prestar esclarecimentos às autoridades policiais. Além disso, argumentou, a íntegra dos vídeos entregues pela academia de ginástica corrobora a versão de que as agressões verbais foram iniciadas por Alliny Gomes.

Extradição

Com a libertação após fiança, Brennand vai responder a eventual processo de extradição em liberdade.

A demora para a finalização de um tratado de extradição entre Brasil e os Emirados Árabes Unidos pode atrasar o retorno do empresário. O documento foi assinado pelos dois países em março de 2019, mas, desde então, tramita na Câmara dos Deputados. Só quando passar pelo Legislativo é que será sancionado pela Presidência da República.

Assim, segundo especialistas, o Brasil deverá recorrer a vias diplomáticas ou a um acordo de princípio de reciprocidade com os Emirados Árabes para obter a extradição.

Se não houver entraves, o processo poderá exigir de três a seis meses para ser concluído. Porém, se surgirem dificuldades pelo caminho, esse tempo poderá passar de um ano, segundo o advogado Rui Aurélio de Lacerda Badaró, integrante da Comissão de Relações Internacionais da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil) em São Paulo.

Para Evandro Menezes de Carvalho, professor de direito internacional da FGV Direito Rio, como o caso não envolve crimes políticos e há um pedido de prisão preventiva no Brasil, e com um brasileiro, o processo de extradição pode até ser concluído até o fim deste ano. "São elementos muito fortes", diz.

Questionado sobre o processo de extradição de Brennand, o Ministério da Justiça e Segurança Pública disse não comentar processos em andamento.

Colaboraram Fábio Pescarini e Rogério Pagnan, de São Paulo

Erramos: o texto foi alterado

Thiago Brennand foi preso pela polícia nacional dos Emirados Árabes com base no trabalho da Polícia Federal brasileira. O empresário foi capturado em Abu Dhabi, não em Dubai como a polícia havia afirmado inicialmente. Título e texto foram corrigidos

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