Pais devem evitar 'deixa disso' ou 'isso é besteira' para consolar crianças após derrota do Brasil

Para psicóloga, esse é o momento de ajudar os pequenos a entender os sentimentos de raiva, tristeza e frustração

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São Paulo

O meme "tem criança chorando" nunca foi tão fidedigno com o cenário brasileiro. Enfrentar a eliminação em uma Copa do Mundo nunca é fácil para adultos e muito menos para as crianças.

Após a seleção brasileira perder nas quartas de finais para a Croácia, é comum que a revolta se mescle com tristeza. Com a próxima oportunidade do hexacampeonato postergada para daqui a quatro anos, o plano de assistir aos jogos com os amigos são recalculados, e folgas em horário de jogos, cassadas.

Torcedores assistam ao jogo do Brasil na Copa do Mundo do Catar, contra a Croácia no centro da cidade
Torcedores assistam ao jogo do Brasil na Copa do Mundo do Catar, contra a Croácia no centro da cidade - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Para os pequenos, digerir qualquer derrota já costuma ser difícil. Já em uma Copa do Mundo, em meio ao clima de festa e à sensação de união pela seleção, a compreensão fica ainda mais difícil.

Segundo especialistas, lidar com os pequenos nesses momentos requer acolhimento e validação da tristeza. Apesar de comuns, frases como "deixa disso" ou "isso é besteira" deveriam ser evitadas, na avaliação de psicólogas.

Elas concordam que, no Brasil, a Copa do Mundo é algo muito identitário e que resulta em uma mobilização emocional grande. Por isso, as expectativas são criadas em torno da possibilidade de vitória.

A psicóloga Liliany Souza diz que adultos se chateiam, porém o sentimento é rapidamente substituído pela sensação de "é só um jogo de futebol, vida que segue". Porém, para crianças, esse processo é diferente. "É algo mais simples e lúdico", diz ela.

Souza afirma que esse é o momento de ajudar a criança a entender os sentimentos de raiva, tristeza e frustração, que só se consegue abordar quando o colocamos para fora. Para ela, podemos dizer "teremos uma Copa de novo, em que poderemos tentar de novo".

"Estamos falando de emoções que, por mais que sejam por um motivo mais próximo da futilidade, é algo muito sério para a criança. É importante criar uma esperança para outro momento, de que nem sempre as coisas acontecem como gostaríamos", afirma ela.

Claudia Feldman, psicodramatista, psicopedagoga e diretora do Netaf (Núcleo de Estudos, e Terapias), diz que nós não costumamos dar espaço para os efeitos negativos. É como se só pudéssemos ficar alegres e animados. E, ao seguir isso, fica cada vez mais difícil lidar com as frustrações da vida.

No consultório, ela nota que é comum que pacientes adultos apresentem esse mecanismo de defesa e, quando se deparam com algo negativo, demonstram um desconhecimento em como lidar perante tal sentimento, sendo que eles fazem parte da nossa vida.

Feldman afirma ainda que a criança se empolga pelos símbolos envolvidos nesse momento, como a bandeira, camiseta e seus ídolos. "Hoje, lidamos com juventude que busca satisfação imediata pela tecnologia. Então, existe a sensação do 'como assim não ganhei?'."

Por isso, o momento de frustração pode dar a oportunidade dos pequenos aprenderem sobre todos esses elementos que podem ser enfrentados e se prepararem para a vida adulta.

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