Oxalá e Senhor do Bonfim voltaram a protagonizar uma das principais celebrações do calendário de festas populares de Salvador. Entre baianas adornadas de branco e prata, jarros com flores e água de cheiro, o perfume era de alfazema e reencontro.
Depois de ter sido suspensa nos dois últimos anos por medidas restritivas de combate à Covid-19, a Lavagem do Bonfim voltou a tomar as ruas da capital baiana nesta quinta-feira (12).
A festa, de caráter religioso, é marcada pelo sincretismo. Reúne, lado a lado, o culto ao Senhor do Bonfim pelos católicos e a celebração de Oxalá pelos adeptos do candomblé.
Centenas de milhares de pessoas participaram do cortejo entre a Basílica da Conceição da Praia e a Basílica Santuário Senhor do Bonfim, percorrendo um trajeto de cerca de sete quilômetros.
A festa começou às 8h com a celebração de um ato ecumênico no adro da Basílica da Conceição da Praia. O padre Everaldo Pires da Cruz, que conduziu a celebração, destacou a necessidade de união e convivência pacífica entre as pessoas. Também destacou a criação do Dia das Tradições das Raízes Africanas e Candomblé, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A cerimônia de abertura foi encerrada com o Hino ao Senhor do Bonfim, que este ano completa cem anos. A música foi composta em 1923 para comemoração do primeiro centenário da Independência da Bahia.
Uma queima de fogos marcou o início do cortejo e imagem do Senhor do Bonfim seguiu pelas ruas da Cidade Baixa com a participação de 46 grupos culturais.
Fiéis católicos, filhas e filhas de santo se misturam em meio a minitrios, grupos de samba de roda, de percussão e de capoeira, além dos tradicionais grupos de mascarados que costumam desfilar no Carnaval.
Bandas de sopro que tocavam sambas e clássicos do axé, dando um clima carnavalesco à festa religiosa. Desde 1998, o desfile de trios elétricos foi proibido na Lavagem.
Participaram do desfile o Rixô Elétrico, o Orixalá, do cantor Gerônimo Santana, o afoxé Filhos de Gandhy, além de outros grupos culturais de Salvador e do Recôncavo.
A festa também foi marcada por manifestações políticas de grupos culturais, sindicatos e movimentos sociais, que levaram faixas com a mensagem "sem anistia", cobrando punição dos envolvidos nos atos antidemocráticos que resultaram da depredação do Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal em Brasília.
A pandemia também foi lembrada pelos fiéis e parte deles optou por usar máscaras de proteção em meio à multidão. Na subida da Colina Sagrada, uma adepta do candomblé gritou: "Que Pai Oxálá nos livre de uma vez dessa doença".
O culto ao Senhor do Bonfim na Bahia começou há 278 anos, quando a imagem peregrina veio de Setúbal, em Portugal, para cumprir uma promessa do capitão de mar e guerra Theodósio Rodrigues de Faria.
A tradição do cortejo começou há 250 anos, em 1773. Foi iniciada por romeiros e escravos que, a mando dos senhores integrantes da Irmandade do Senhor do Bonfim, limpavam e enfeitavam a igreja para a missa de domingo. O cortejo acontece sempre na quinta-feira que antecede o segundo domingo após o Dia de Reis.
A imagem do Senhor do Bonfim foi recebida na Colina Sagrada com palmas, cânticos e fogos de artifício. As baianas chegaram à Colina Sagrada por volta das 12h30 sob aplausos e lavaram o adro da Basílica com folhas e água de cheiro, celebrando Oxalá e o Senhor do Bonfim.
O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT) e o prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), receberam das baianas um banho de água de cheiro. Os dois faziam a estreia na festa em seus atuais cargos e percorreram todo o cortejo, interagindo com apoiadores.
Do lado de fora da Basílica, fiéis cobravam o acesso ao adro e faziam fila para amarrar fitinhas do Senhor do Bonfim no gradil que cerca o templo religioso, fazer pedidos e agradecer.
Na mesma Colina Sagrada, pessoas faziam fila para tomar banhos de folhas e de pipoca. Com as bênçãos de Oxalá e Senhor do Bonfim, abriram os caminhos para o ano que se inicia.
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