Plano contra ataques após Aracruz prevê treino para fuga e protocolo de denúncia

Pacote do Governo do ES visa conter casos de violência nas escolas; nesta quarta (5), quatro crianças morreram em creche de Blumenau (SC)

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São Paulo

Em resposta aos ataques a escolas da cidade capixaba de Aracruz, em que um adolescente matou três professoras e uma aluna de 12 anos, e ao recente aumento desse tipo de crime no Brasil, o governo do Espírito Santo lançará um pacote de medidas para enfrentar a violência no ambiente escolar.

Nesta quarta-feira (5), em mais um ato violento, quatro crianças foram mortas em uma creche em Blumenau (SC).

As ações vão da prevenção a cursos para policiais da patrulha escolar lidarem com atiradores e ao treinamento de funcionários das escolas para evacuação e primeiros socorros em caso de ataques.

Homem e mulher choram
Pessoas choram em vigília pelas vítimas na creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau (SC), alvo de ataques nesta quarta (5) - Bruno Santos/Folhapress

Em Aracruz, em 25 de novembro do ano passado, o agressor, um jovens de 16 anos, atacou a primeira escola por volta das 9h, dirigiu por cerca de um quilômetro até a segunda, onde fez mais vítimas, e só foi preso no início da tarde, depois de almoçar com os pais.

"É um tipo de violência tão novo para nós, no Brasil, que ninguém sabe como agir, nem professores e funcionários das escolas, nem a própria polícia", afirmou à Folha o secretário de Segurança Pública do Espírito Santo, Coronel Alexandre Ramalho.

Ele conta que, no início do ano, foi formado o Comitê Integrado de Segurança Escolar, do qual fazem parte profissionais de diversas áreas, como as secretarias de Educação, de Saúde, de Segurança Pública, da Polícia Civil, Militar e do Corpo de Bombeiros.

Há, no comitê, 15 grupos temáticos, sendo um deles o de protocolos e fluxograma. "Quando há uma ameaça ou a percepção de risco de um ataque, o que deve ser feito? Para onde se encaminham as denúncias? Quem investiga e que medidas são tomadas?", afirma Ramalho. "É preciso saber o que fazer em cada etapa."

Um desencontro de ações preventivas precedeu o ataque à escola estadual Thomazia Montoro, em São Paulo, no último dia 27 de março, quando um aluno de 13 anos matou uma professora a facadas e feriu outras três docentes e um estudante.

Um mês antes, o Conselho Tutelar havia sido acionado pela escola estadual José Roberto Pacheco, em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, onde o jovem estudava antes de ser transferido para a Thomazia Montoro. Além disso, uma funcionária da escola havia registrado um boletim de ocorrência relatando comportamento suspeito do adolescente nas redes sociais –ele havia postado vídeos de culto a armas, simulando ataques, além de ter ameaçado colegas por meio do WhatsApp.

"Nossa proposta é criar um órgão que concentre denúncias e investigações, delegacias especializadas nesses crimes, que trabalhem com inteligência", disse Ramalho.

Segundo o secretário de Segurança, a prevenção deve se concentrar nos aspectos socioemocionais em torno de crimes como esse, que em geral envolvem o bullying, conflitos e violência doméstica e no ambiente escolar, além de uma radicalização do aluno agressor, que se conecta a grupos extremistas nas redes sociais.

"A complexidade é muito grande para que se adotem medidas simplistas, como detector de metal nas portas, policiais armados dentro das escolas", afirma Ramalho. "É compreensível que as pessoas, traumatizadas e com medo, pensem em soluções como essas, mais imediatistas, mas o caminho de prevenção não é esse."

Apesar disso, o estado deve adotar também um treinamento nas escolas voltado a casos de ataques, algo que vem sendo feito nos Estados Unidos, onde esses crimes são mais antigos do que no Brasil e estão crescendo com a radicalização da sociedade.

"Pretendemos estabelecer nas escolas uma sala com segurança reforçada, para onde as pessoas possam correr e se proteger em caso de ataque", afirma o secretário. "Também é preciso fazer treinamento de evacuação e de primeiros socorros. No caso de Aracruz, havia uma professora se esvaindo em sangue e ninguém sabia o que fazer na hora."

Segundo o secretário, a patrulha escolar será reforçada. "Mas não é para colocar um carro de polícia na porta da escola com o giroflex [luzes em cima do capô] ligado", ele diz. "Os policiais têm que estar mais presentes com um viés não repressivo, mas preventivo, inclusive dando palestras nas escolas, ajudando na mediação de conflitos."

O comitê também estuda a instalação de câmeras de segurança com inteligência artificial. "Ela pode, por exemplo, reconhecer um estudante com capuz, roupa preta, que se movimenta bruscamente", explica.

"Vamos criar um projeto de inteligência no estado específico para a prevenção desses ataques, em parceria com a Polícia Federal e a Abin [Agência Brasileira de Inteligência], entre outros", afirma Ramalho, que conta que o Disque Denúncia 181 terá uma aba própria para denunciar ameaças a escolas.

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