Menino de 2 anos desaparecido em SC há mais de uma semana é encontrado em SP

Duas pessoas foram presas sob suspeita de tráfico de pessoas, mas negam a acusação; polícia diz que mãe entregou a criança

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Curitiba e São Paulo

A polícia de Santa Catarina investiga uma tentativa de adoção ilegal de um menino de 2 anos que estava desaparecido havia mais de uma semana e foi encontrado na tarde desta segunda (8) com um homem e uma mulher na zona leste de São Paulo. Eles foram presos por suspeita de tráficos de pessoas, mas negam o crime.

A avó e um tio do menino, que moram com a criança e a mãe dela em Florianópolis, registraram oficialmente o sumiço à Polícia Civil catarinense, em 5 de maio, mas contaram que a criança estava desaparecida desde 30 de abril. As buscas pelo garoto ganharam repercussão nas redes sociais.

Imagem divulgada por Juliano Gaspar relatando que o sobrinho de 2 anos foi encontrado - @julianobxd no Instagram

Em depoimento, a mãe admitiu que ela própria tinha entregado o filho à adoção. Ela estava internada em um hospital desde o dia 2 de maio, mas o motivo não foi divulgado.

Mensagens de celular mostram que a mãe sofreu assédio para entregar o filho à adoção desde o nascimento dele, de acordo com a Polícia Civil catarinense.

A criança foi encontrada com ajuda da Polícia Militar de São Paulo dentro de um carro, onde estavam Marcelo Valverde Valeze, 52, e Roberta Porfírio de Souza Santos, 41. A mulher estaria com a criança desde o dia 30 com a certidão de nascimento original.

Durante coletiva de imprensa nesta terça (9), a delegada Sandra Mara Pereira, da DPCAMI (Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso) de São José (cidade próxima de Florianópolis onde a criança teria desaparecido), disse que a mãe tem 22 anos, está sem emprego e não há registro do pai do menino na certidão de nascimento.

"Ela tem uma fragilidade emocional muito grande e durante dois anos foi vítima de assédio para entregar o filho", disse a delegada, sem citar nomes. Ainda de acordo com a policial, a mãe nega ter recebido vantagens financeiras ao entregar o filho.

Marcelo Valeze e Roberta Santos estão presos preventivamente, sem prazo para soltura. As defesas dos dois suspeitos negam a acusação e dizem vão recorrer das prisões.

Segundo a advogada Fernanda Salvador, que defende Roberta Santos, o menino foi entregue pela mãe para que fosse cuidado "por um tempo" pela sua cliente por causa da situação de vulnerabilidade.

Santos, que mora em São Paulo, está na fila de adoção e, conforme a defesa, foi buscar o menino em Santa Catarina. Porém, teria se assustado com a repercussão do caso e, após conversar com um promotor da Vara da Infância e Juventude, resolveu entregar a criança no Fórum do Tatuapé, quando ocorreu a prisão.

"A prisão foi ilegal, como se ela estivesse fugindo com a criança, mas estavam indo para o fórum a mando de um promotor para conversar sobre o que seria feito com a criança", disse a advogada, frisando que sua cliente não tem antecedentes criminais.

Procurado, o Ministério Público de São Paulo não quis comentar o caso, sob alegação de que o processo está em sigilo. A Folha apurou que a Promotoria iria intermediar o recebimento da criança pela Justiça.

A defesa de Marcelo Valeze negou que ele tenha assediado a mãe do menino, mas confirmou que ele a conheceu logo após o nascimento do garoto e que naquela época teve interesse em adotá-lo.

Segundo as advogadas Laryssa Nartis e Khatarine Grimza, Veleze foi procurado recentemente pela mãe. "Ela falou que, caso ele não pegasse a criança, ela poderia cometer uma loucura", disseram. "Ele não tinha mais contato com a mãe, ela é que veio procurá-lo agora."

O menino segue sob cuidados do Conselho Tutelar de São Paulo. O retorno dele para a família em Santa Catarina ainda depende de uma decisão da Justiça paulista, e o Ministério Público catarinense ingressou com uma ação pedindo a transferência do acolhimento institucional da criança para São José.

"Segundo os relatos obtidos até o momento, a criança foi levada até o Estado de São Paulo em afronta à boa-fé e ao melhor interesse infantojuvenil, na clandestinidade e à míngua de todos os procedimentos legais necessários a obter sua regular guarda", diz a promotora de Justiça Caroline Moreira Suzin.

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