Descrição de chapéu Obituário Sara Silva Raimundo (1991 - 2023)

Mortes: Deixou legado como pesquisadora e empreendedora

Sara Raimundo estudou direito público e fundou startup que ajuda consumidores de baixa renda

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Cajamar (SP)

"Aquariana sensata e com um currículo babadeiro. Arrasou nos congressos pelo mundo e jamais soltou a mão dos seus. Vem pegar o seu diploma." Foi desse jeito que a oradora convidou Sara Silva Raimundo ao palco, no dia da sua formatura em direito pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), em dezembro de 2021. Ela encerrava ali um ciclo de sucesso acadêmico, ao som de "Mandume", de Emicida.

Na monografia, Sara citou a frase "Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que só jogou hoje", antigo ditado iorubá que ganhou popularidade com o rapper. Cria da favela do Antares, zona oeste do Rio, era a irmã do meio em uma família de três meninas. Ficou órfã de mãe aos 20 anos e perdeu o pai para a Covid-19, em 2021.

Entrou na universidade pública em 2015, por meio das cotas raciais. Pegava trem às 5h para chegar três horas depois à UFRJ, no centro do Rio.

Sara Silva Raimundo (1991-2023)
Sara Silva Raimundo (1991-2023) - Julia Passos

Como sonhava conhecer os EUA, cursou inglês até o nível avançado em um projeto de extensão que dava aulas a preços acessíveis.

Na graduação, integrou laboratório de pesquisa sobre direito público. Ganhou tanta notoriedade por seus trabalhos nesse tema, que participou de congressos em Portugal e no Canadá. O dinheiro para as viagens era obtido com a venda de doces na faculdade.

Na UFRJ, conheceu Gilmar Bueno, aluno de engenharia. Fundaram, em 2020, uma startup que ajuda pessoas de baixa renda prejudicadas por cobranças indevidas em contas domésticas. A Unicainstancia antecipa indenizações e representa os clientes. A empresa ganhou patrocínio de fundos como BeyGood (da popstar Beyoncé) e Google For Startups.

A pesquisadora amava praia, leitura e música. Tinha o sonho de morar na zona sul, meta alcançada há seis meses. Conseguiu um apartamento em Copacabana e, na hora do almoço, dava um mergulho. Seu melhor amigo, Vinícius Augusto, 32, conta que Sara ia de bicicleta até o Leme. "Adorava comprar em uma padaria coisas chiques que ela não costumava comer. Estava amando a rotina nova."

Havia acabado de ler "Um Defeito de Cor", de Ana Maria Gonçalves. Ouvia pagode. "Ela escutava coisas chatas, sertanejo universitário", brinca o amigo. "Mas amava minha playlist, que tem de Anitta a Marisa Monte, de Liniker a Marcelo D2."

Fazia exercícios e se alimentava bem. Agora, realizaria o sonho de conhecer os EUA: foi convidada para um evento de empreendedorismo no Vale do Silício.

Sara morreu em 21 de abril, no voo para Houston (Texas), onde faria conexão para São Francisco (Califórnia). Sofreu parada cardíaca, o que forçou o avião a pousar em Nova Orleans (Louisiana). Deixou as irmãs, Izabel e Tamires, e uma legião de amigos. Tinha 32 anos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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