Descrição de chapéu Obituário Laércio Tetto (1940 - 2023)

Mortes: Ferroviário fez fama com presépio gigante no interior de SP

Durante 41 anos, Laércio Tetto inovou com seus personagens móveis no Natal

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São Paulo

Era o comércio do centro de Jundiaí (a 58 km de São Paulo) abrir até mais tarde de olho nas vendas de Natal, no dia 1º de dezembro, para a maior das salas do Museu Solar do Barão lotar de gente atrás da novidade no enorme presépio exposto ali durante todo fim de ano.

Foi assim durante mais de quatro décadas, entre 1978 e 2019. Na porta do salão sempre estava o autor da obra, o ferroviário Laércio Tetto, atento aos olhares brilhantes das crianças diante do movimento dos bonecos.

O ferroviário aposentado Láercio Tetto diante do enorme presépio que ao longo de 41 anos montou em um museu de Jundiaí (SP)
Láercio Tetto (1940 - 2023) - Divulgação/Arquivo FTVTEC

Tetto nasceu em Corumbataí e ainda menino se mudou com a família para Analândia, ambas no interior paulista. Foi das fazendas da infância que veio a inspiração para o presépio de 4,5 metros, que, além dos personagens tradicionais do catolicismo, retratava gente comum.

Em nova mudança, o pai levou a família para Jundiaí, onde arrumou emprego na Companhia Paulista de Estradas de Ferro e inspirou o filho a também se tornar ferroviário, profissão exercida até a aposentadoria, primeiro como examinador e depois como eletricista.

A experiência com motores e elétrica, além da habilidade como marceneiro, ajudaram na construção do inédito presépio com peças móveis na cidade, onde a lavadeira fazia o seu trabalho no rio, a mulher recolhia o balde para buscar água no poço e o lenhador cortava a madeira.

"Meu pai era um artesão nato, pois cuidava da confecção dos bonecos, e de suas roupas, aos animais que passavam pela porteira aberta automaticamente", afirma a professora Solange Aparecida Tetto Pansarim, 58, filha única de Tetto.

Com o avançar da idade, sobrinhos passaram a ajudar na montagem, cuja preparação começava em agosto. A pandemia de Covid-19 e um câncer agressivo, descoberto em 2019, porém, não permitiram mais a exposição de todo ano.

Na última delas, entretanto, surgiu uma dupla de violeiros no vilarejo, como ele chamava seu presépio. Era a homenagem a outra paixão do ferroviário, a música sertaneja de raiz.

Tetto foi o primeiro presidente da Associação Jundiaiense de Música Sertaneja. Ele não tocava viola, mas soltava a voz nas apresentações.

Recentemente, quando estava de cama, violeiros foram até sua casa para tocar e cantar com ele clássicos da música caipira, como "Chico Mineiro" e "Amargurado".

O tratamento contra o câncer teve cirurgias e imunoterapia. Lúcido, na cama ouviu em um radinho de pilha o seu Palmeiras golear o Água Santa por 4 a 0, na final do Campeonato Paulista do último dia 9.

Três dias depois, em 12 de abril, o pai do enorme presépio morreu aos 82 anos. No braço, tinha uma pulseira em homenagem ao neto Vinícius, morto em um acidente em 2019, aos 19 anos.

Laércio Tetto deixa a mulher, Ida, 92, com quem completou 60 anos de casado no ano passado, a filha, Solange, e o neto Vítor, 28.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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