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Para medir efeito da pandemia, Metrô altera série histórica de pesquisa de mobilidade

Origem e Destino, feita há mais de 50 anos, terá de chegar a mais de 130 mil domicílios na Grande SP

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São Paulo

O Metrô de São Paulo vai antecipar a pesquisa Origem e Destino, maior estudo de mobilidade urbana do país, e mudar o intervalo da série histórica pela primeira vez em mais de cinco décadas. O motivo é o efeito duradouro da pandemia de Covid-19 no transporte coletivo, que hoje opera com uma quantidade de passageiros que é 20% menor do que no início de 2020.

A Origem e Destino, ou OD, é realizada a cada dez anos desde 1967. É a principal ferramenta do governo para saber como as pessoas se locomovem na maior metrópole do país e projetar as linhas do sistema metroferroviário. São pesquisados todos os métodos de transporte disponíveis: trajetos com metrô, trem, ônibus, moto, bicicleta, a pé e até de quem chega por avião.

Pela primeira vez, haverá um intervalo de seis anos entre a realização de duas edições. A primeira fase da pesquisa de campo terá início em agosto e vai até novembro, com visitas a domicílios e abordagens a motoristas e passageiros. Haverá um intervalo para o período de férias escolares, e a coleta de dados será retomada entre fevereiro e março de 2024.

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Plataforma da estação da Sé, na região central de São Paulo; Metrô vai alterar série histórica de sua maior pesquisa pela primeira vez - Rubens Cavallari - 24.mar.2023/Folhapress

Isso porque as férias alteram a rotina de deslocamentos. Os pesquisadores não perguntam sobre os hábitos de transporte de forma genérica, e sim de uma maneira mais direta: "Quais meios de transporte você usou ontem?", por exemplo. A intenção é publicar os resultados até o fim do ano que vem.

Para isso, a pesquisa terá que visitar mais de 130 mil domicílios nos 39 municípios da região metropolitana. É preciso chegar a 32 mil lares com entrevistas válidas para a amostragem ideal. Válidas são aquelas entrevistas em que todas as perguntas foram respondidas, os dados dos entrevistados foram checados e todos os membros da família responderam.

Os pesquisadores precisam ir a um número muito maior de domicílios, pois esbarram na portaria de condomínios e na falta de resposta de síndicos, isso quando algum morador da casa não se recusa a fazer a entrevista (o que invalida todas as outras). Isso mesmo que a abordagem tenha várias camadas de segurança, para que os entrevistados tenham certeza de que não estejam caindo em um golpe.

A visita é precedida pelo envio de uma carta do Metrô, impressa em papel especial, avisando sobre a pesquisa. É possível marcar horário. A correspondência traz uma senha que deve ser informada ao pesquisador. O tablet com o questionário só é destravado com o uso da senha e desde que o equipamento, rastreado por GPS, esteja próximo ao local da entrevista.

Em caso de dúvida, há ainda um número de prefixo 0800 pelo qual o Metrô tira dúvidas e pode confirmar se a pessoa que está ali é mesmo um pesquisador da empresa. Mesmo assim, há dificuldade para chegar ao número necessário nos bairros mais ricos, como também ocorreu no Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O formulário terá algumas questões a mais do que o normal para investigar os motivos da mudança de rotina desde o fim da emergência sanitária. Cerca de 400 pesquisadores participação da OD.

Sinais de que a rotina de deslocamento em São Paulo mudou já são claros. O número de usuários de metrô, trem e ônibus da cidade estão estabilizando em patamares menores do que o cenário pré-pandemia, após uma grande queda entre 2020 e 2021. Por outro lado, os congestionamentos nas grandes avenidas da capital já são equivalentes aos níveis de quatro anos atrás.

Segundo o gerente de planejamento do Metrô, Luiz Antonio Cortez Ferreira, o receio dos especialistas em transporte é que esteja ocorrendo um retorno aos carros. Isso depois de aproximadamente duas décadas em que havia aumentado a proporção de pessoas que usam os modais coletivos, que têm benefícios para o meio ambiente e para a qualidade de vida na cidade.

"O que a gente percebeu é que essa série histórica meio que se quebrou, e agora a gente precisa realmente entender o que mudou, como mudou e os motivos", diz Ferreira. Provavelmente, ele diz, as pesquisas OD a partir de agora passarão a ser feitas em anos de final três, abandonando uma tradição que durou seis edições.

"A gente sabe que existe uma outra realidade pós-pandemia, que deve ter a ver com teletrabalho, com mudanças no mercado de trabalho, que está muito mais informal", diz o gerente do Metrô. "Mas a gente não sabe exatamente quanto mudou nem onde. Pode não ter sido uniforme no território da região metropolitana, certamente não foi. E a gente também não sabe por quais motivos mudou."

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