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El Niño e chegada de frente fria explicam calorão da semana

São Paulo registrou temperaturas acima de 30°C e houve chance de recorde; outras áreas do país ficaram perto dos 40°C

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São Paulo

Uma semana de agosto no Brasil com temperaturas superiores a 30°C em São Paulo e próximas a 40°C no Rio de Janeiro e no Centro-Oeste. Segundo especialistas, parte da culpa desse calor em pleno inverno cai sobre o El Niño e outra sobre uma massa de ar fria que já começou a agir em parte do país.

Em primeiro lugar, ondas de calor, como a atual, em agosto, não são tão incomuns, afirma Maria Clara Sassaki, meteorologista da Climatempo. "O que impressionou foram as expectativas de temperatura acima da média histórica e a possibilidade de bater recorde em São Paulo [algo que acabou não se concretizando]", afirma Sassaki.

Segundo a meteorologista, na década de 1950 foram registradas temperaturas tão elevadas quanto as vistas nesta semana em São Paulo.

Silhueta de pessoas na avenida
Pedestres na avenida Paulista sob sol intenso nesta quinta (24) - Zanone Fraissat/Folhapress

O calor acentuado atual foi potencializado por alguns fatores, entre eles o El Niño, que está de volta, segundo o CPTEC (Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

O El Niño é caracterizado pelo aumento anômalo da temperatura da superfície do mar (ultrapassando 0,5°C de crescimento) na região do oceano Pacífico equatorial.

O centro de estudos afirma que, mais perto da costa da América do Sul, o aumento de temperatura da superfície da água chega a ultrapassar 3°C.

Os modelos climáticos, segundo o CPTEC, indicam mais de 90% de probabilidade de as condições de El Niño permanecerem nos próximos meses e durarem até o final do ano. Enquanto alguns modelos indicam a possibilidade de um El Niño moderado (temperatura da superfície do Pacífico central superior a 1°C), outros apontam para um fenômeno forte (temperatura da superfície do mar superior a 1,5°C).

O efeito do El Niño, porém, não fica só no mar. O fenômeno também muda o padrão da circulação atmosférica, o transporte de umidade, temperaturas e chuvas, especialmente nas regiões tropicais, diz o CPTEC.

Na região Sudeste, por exemplo, que tem visto altas temperaturas durante essa semana, o fenômeno leva a um moderado aumento de temperaturas médias, em especial no inverno e no verão, aponta o centro de previsão do tempo.

"Temperaturas mais altas no inverno são fenômenos meteorológicos da variabilidade natural do clima, principalmente quando há um fenômeno de El Niño", disse o climatologista Carlos Nobre, que cita o fenômeno ainda está ganhando força.

Os especialistas apontam que o El Niño faz com que as massas de ar fria que viriam do Sul, muitas vezes acabem mais estacionadas sobre a região, sem força para avançar sobre Sudeste, podendo levar, assim, aos aumentos de temperatura nessa área e potencialmente no Centro-Oeste.

Segundo Sassaki, além do El Niño, as temperaturas mais elevadas desta semana também foram influenciadas por uma situação conhecida como pré-frontal. A ideia pode ser resumida da seguinte forma: "Sempre que temos uma frente fria, antes da chegada dela, não importa quando, a temperatura vai subir", afirma Sassaki.

Helena Turon Balbino, meteorologista do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), diz ainda que estamos em um período seco, sem chuvas. "Sem nuvens, a radiação solar incide direto sobre o solo", o que também contribuiria com as temperaturas mais altas.

Culpa da crise do clima?

Especialistas dizem que é preciso ter cuidado com associações diretas entre a crise climática e episódios isolados, ainda que já esteja consolidado o conhecimento de que a crise climática levará a eventos extremos, como ondas de calor mais frequentes e mais intensas.

É possível fazer associações do tipo a partir de estudos de atribuição, que analisam qual seria a chance de um evento extremo ocorrer sem a presença da crise climática causada por nós. Ou seja, apenas com modelagens climáticas mais completas é possível dar uma resposta segura.

Em linhas gerais, não basta ver que os termômetros estão elevados para ter a certeza que é culpa da crise climática causada pelo ser humano. Isso, porque, como diz, Carlos Nobre, existe uma variabilidade natural do clima.

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