Descrição de chapéu violência

PM mata 2 em nova fase da Operação Escudo na Baixada Santista

Governo Tarcísio tinha anunciado fim da operação na semana passada e não explicou a mudança de posição

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São Paulo

Menos de uma semana após o anúncio de seu encerramento, a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse que a Operação Escudo foi retomada desde a última sexta-feira (8) na Baixada Santista, no litoral do São Paulo.

A ação da Polícia Militar tinha deixado ao menos 28 pessoas mortas em sua fase anterior, que começou no final de junho e terminou no último dia 5 —o anúncio sobre seu fim foi dado pelo secretário de Segurança Pública do estado, Guilherme Derrite, em entrevista coletiva. Desde o retorno da operação, já foram mais dois mortos.

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Movimentação de policiais militares na Vila Baiana, em Guarujá, durante a Operação Escudo - Danilo Verpa - 31.jul.23/Folhapress

A informação sobre a retomada foi publicada na conta oficial da PM paulista na rede X (antigo Twitter) no início da noite desta segunda-feira (11). No comunicado, não foi dada nenhuma explicação oficial sobre a mudança de posicionamento.

"Desde sexta-feira [8] realizamos uma nova Edição da Operação Escudo como pronta resposta aos ataques sofridos aos Policiais Militares na Baixada Santista. A ação visa a identificação dos criminosos envolvidos, bem como enfrentamento ao crime organizado de forma implacável", escreveu a PM paulista.

Procurada, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) afirmou apenas que a Operação Escudo é realizada desde janeiro em ocorrências em que policiais são hostilizados, a exemplo dos casos ocorridos em São Vicente desde a última sexta-feira. "As novas ações terão como objetivo a prisão dos criminosos envolvidos nestes casos, e é uma ação distinta da última, a qual já foi encerrada no último dia 5."

Quando anunciou o fim da operação, Derrite não mencionou a possibilidade de que ela fosse retomada em caso de violência contra policiais.

Na ocasião, ele afirmou apenas que a Escudo daria lugar à Operação Impacto, que deveria contar com a presença do policiamento de Choque e policiais em vagas da Dejem, uma espécie de Operação Delegada, quando policiais recebem um valor extra para atuar no horário de folga. A Impacto continua em vigor e deve ser mantida até o início da Operação Verão.

Duas pessoas mortas em São Vicente

Um suspeito morreu em confronto com a polícia a madrugada desta segunda, após o retorno da Escudo, afirmou Derrite na rede X.

"Criminosos atiraram contra policiais militares na Comunidade da Pedreira, Guarujá", escreveu Derrite. "Os policiais saíram ilesos. Um dos criminosos que optou pelo confronto morreu no local. Continuamos na Baixada Santista no enfrentamento ao avanço da criminalidade."

Segundo a SSP, um homem de 25 anos foi morto pela PM na avenida Assis Chateaubriand, no Jardim Virgínia —bairro onde está a comunidade Pedreira. A secretaria diz que policiais estavam no local para apurar uma denúncia de que havia uma pessoa armada na região.

A secretaria diz que a equipe encontrou cinco homens, que fugiram quando viram os policiais. Dois suspeitos teriam atirado contra a equipe policial durante a fuga. Um deles foi baleado, e os outros conseguiram fugir, segundo a SSP.

"Foram apreendidos 91 porções de entorpecentes e um rádio comunicador. Foi solicitada perícia ao local e às armas dos militares e do criminoso", diz a nota da secretaria.

Além disso, um homem de 23 anos foi morto pela PM em São Vicente no domingo (10). A SSP afirma que policiais faziam patrulhamento pelo Dique do Caxeta, no bairro Jóquei Clube, quando viram o suspeito com uma arma. "Ele não obedeceu à ordem de parada e fugiu", disse a secretaria, em nota.

Uma perseguição teve início em seguida, e o homem subiu nos telhados de várias residências. Foi acionado reforço policial, com apoio do helicóptero Águia. O suspeito teria sido localizado dentro de uma casa e, segundo a secretaria, apontou uma arma na direção dos PMs, que atiraram.

"Ele foi ferido e socorrido ao CREI [hospital municipal de São Vicente], onde foi constatada a morte. Com ele foi apreendido um revólver calibre 38. Foi solicitada perícia ao local e às armas envolvidas", informou a pasta.

Baixada teve série de ataques durante feriado

No feriado prolongado, as cidades da Baixada tiveram uma série de ataques. Policiais militares foram baleados em três ocasiões em São Vicente e Santos, entre sexta-feira e sábado (9). Duas pessoas morreram —entre elas, um sargento aposentado da PM— e cinco ficaram feridas nos ataques. Dois policiais, baleados, estão internados.

Depois, no domingo (10), a cidade de São Vicente registrou uma sequência ataques a tiros. Foram sete vítimas, conforme dados da Secretaria da Segurança Pública e da prefeitura. Esses casos envolvem suspeitos que estavam em motos e atiraram contra pessoas na rua, em ao menos três ataques. Um dos feridos morreu.

Derrite disse nas redes sociais, também no domingo (10), que a Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) estava com patrulhamento reforçado na Baixada Santista, mas sem dizer que se tratava uma nova etapa da Operação Escudo.

Junto ao texto, ele publicou uma foto de quatro viaturas do grupo de elite da PM em uma rodovia.

"A Rota está com patrulhamento reforçado na Baixada Santista, assim como as demais viaturas da Operação Impacto, equipes de inteligência, Polícia Civil e setor PM Vítima para identificação, qualificação e detenção dos indivíduos que praticaram os atentados contra os policiais", escreveu Derrite.

A fase da Escudo que começou em julho, com mais de 600 policiais, deixou ao menos 28 suspeitos mortos na Baixada Santista. A ação foi desencadeada após a morte do soldado Patrick Bastos Reis, 30, da Rota, em julho. Três suspeitos foram indiciados pelo homicídio do soldado.

Em Guarujá e Santos, moradores alegaram que pessoas inocentes ou desarmadas foram executadas, e que narraram invasões de casas por policiais mascarados e casos com indícios de tortura. Esses casos envolvem situações em que vizinhos ouviram gritos de socorro ao longo de vários minutos, e corpos que, segundo familiares, tinham marcas de queimadura por cigarros, cortes, hematomas e, em um deles, com unhas arrancadas.

Além disso, testemunhas já relataram a morte de um morador de rua conhecido por moradores da Vila Baiana —William Santos de Oliveira, morto às 17h25 do dia 30 de agosto—, e outro foi enterrado como indigente. O ouvidor das polícias de São Paulo, Cláudio Aparecido da Silva, também relatou o caso de um usuário de drogas, que costumava perambular na rodoviária do Tietê e em Guarulhos, e apareceu morto no litoral.

A operação também foi marcada pela falta de uso das câmeras corporais pela PM, que é obrigatória no caso de alguns batalhões. Em meados de agosto, o Ministério Público afirmou que recebeu imagens de câmeras corporais de apenas 3 confronto dos 16 casos iniciais em que houve mortes na operação.

Promotores confirmaram ter recebido imagens de seis ocorrências, mas afirmam que em duas delas as gravações não captaram o momento dos disparos. Em outra, "não trazem nenhuma informação relevante para a investigação", disse a instituição. A entidade não se manifestou sobre imagens das mortes mais recentes.

Quando questionada sobre esses casos, a SSP tem afirmado que não há evidências de tortura nos laudos cadavéricos. O governo Tarcísio também tem afirmado que "as denúncias podem ser formalizadas em qualquer unidade da Polícia Militar, inclusive pela Corregedoria da Instituição. Desvios de conduta não são tolerados e são rigorosamente apurados mediante procedimento próprio".

Ao todo, oito policiais militares foram mortos na Baixada Santista neste ano. Segundo a SSP, outros 12 policiais já foram feridos na região neste ano: oito deles em serviço, três em folga e um inativo.

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