Descrição de chapéu violência

Região de Santos e Guarujá tem agosto com mais mortes pela polícia em 10 anos

Em dois meses, agentes mataram nas duas cidades e em São Vicente mais do que em todo o ano passado; período compreende a Operação Escudo

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São Paulo

A região que está sob responsabilidade da Delegacia Seccional de Santos, no litoral paulista, teve o agosto com o maior número de mortes pela polícia dos últimos dez anos. O recorde ocorre em meio à Operação Escudo, marca do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) para ações que respondem a ataques contra agentes de segurança e que está em sua segunda fase na Baixada Santista

Policiais militares mataram 12 pessoas ao longo daquele mês em Santos, Guarujá e São Vicente, um recorde para a região. A SSP (Secretaria da Segurança Pública) atualizou as estatísticas criminais do estado nesta segunda-feira (25) e disponibiliza os dados letalidade mês a mês a partir de 2013.

Grupo de policiais do 10º Baep posando para uma foto no ponto turístico Morro do Maluf, em Guarujá, no litoral paulista - Bruno Santos - 23.ago.2023/Folhapress

Outro recorde já havia sido observado em julho, quando 15 pessoas foram mortas pela PM. Em dois meses, a polícia paulista sob Tarcísio matou mais do que em todo o ano de 2022 na região —foram 27 mortes em julho e agosto e 24 no ano passado.

A primeira fase da Operação Escudo, que teve início em 28 de julho após a morte do soldado Patrick Reis, deixou 28 mortos e tornou-se a ação mais letal da PM desde o massacre do Carandiru. A operação foi encerrada em 5 de setembro, mas uma nova fase convocada três dias depois após um sargento aposentado ser assassinado —depois, ao menos dois suspeitos morreram em ações policiais.

Em todo o estado, há um aumento no número de vítimas das intervenções policiais neste ano. Ao todo, PMs e policiais civis mataram 327 pessoas de janeiro a agosto de 2023, o que representa uma alta de 24% em relação ao mesmo período do ano passado.

Embora tenha ocorrido um aumento em relação ao ano passado, a estatística em oito meses está abaixo do número de mortes pela polícia em anos anteriores.

Considerando o ano inteiro, nos últimos dez anos o pico de mortos em intervenções policiais ocorreu em 2019, o segundo ano do governo João Doria (então no PSDB, hoje sem partido). Policiais mataram 867 pessoas naquele ano. Nos últimos dez anos, o mês em que a polícia mais matou foi abril de 2020, com 119 mortes.

Por outro lado, o número de vítimas de ações policiais havia caído 51% em três anos, de 2019 a 2022. Essa queda nas mortes foi mais acelerada durante a expansão do programa Olho Vivo, que instalou câmeras portáteis nas fardas de PMs.

Estudos acadêmicos mostraram que batalhões que usam as câmeras tiveram não apenas menos ocorrências com mortes de suspeitos, mas também uma queda recorde nas mortes de policiais em serviço e um aumento na produtividade, com mais ocorrências registradas.

A falta de câmeras corporais nas ações da Escudo tem sido uma crítica de moradores e entidades de defesa dos direitos humanos.

Segundo o Ministério Público de São Paulo, imagens de câmeras corporais de policiais militares enviadas pela PM mostram registros de confrontos com criminosos em apenas 3 dos 16 casos iniciais em que houve mortes na Operação Escudo, na Baixada Santista. A Promotoria não respondeu se as mortes que ocorreram depois foram gravadas por câmeras nas fardas.

Recentemente, a PM paulista alocou cerca de 400 câmeras de outras unidades para o policiamento de trânsito na cidade de São Paulo. Isso ocorreu sem que a corporação comprasse novas câmeras, ou seja, os equipamentos poderiam ser utilizados em batalhões de ações especiais, que se envolvem na maior parte dos confrontos da operação.

Procurada, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirma que "investe permanentemente no treinamento das forças de segurança e em políticas públicas para reduzir as mortes em confronto, com o aprimoramento nos cursos e aquisição de equipamentos de menor potencial ofensivo, entre outras ações voltadas ao efetivo".

Diz ainda que a causa das mortes decorrentes de intervenção policial não é a atuação dos agenttes, "mas sim a ação dos criminosos que optam pelo confronto, colocando em risco tanto a população quanto os participantes da ação".

Erramos: o texto foi alterado

O estado de São Paulo registrou 327 mortes pela polícia de janeiro a agosto deste ano (não 355), o que representa aumento de 24% em relação ao ano passado (não de 35%). 

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