Autor de disparos em escola de Sapopemba diz que aprendeu a atirar no YouTube

Em conversa na internet, ele afirmou a outro usuário que queria se sentir poderoso ao cometer ataque

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São Paulo

O aluno autor do ataque a tiros dentro da Escola Estadual Sapopemba, na zona leste de São Paulo, na manhã desta segunda (23), afirmou na delegacia que aprendeu a usar armas no YouTube.

O adolescente, de 16 anos, foi apreendido pela Polícia Militar. Ele entrou armado na escola e atirou contra os estudantes. Uma aluna foi morta e outras duas foram baleadas. Um terceiro estudante se feriu ao fugir.

A Folha teve acesso a um vídeo em que o jovem confirma à polícia que aprendeu a usar armas na internet.
Além disso, a reportagem também teve acesso a uma conversa do estudante na plataforma do Discord, em que ele afirma que a motivação para cometer o crime era "se sentir poderoso".

Policial na entrada da Escola Estadual Sapopemba, na zona leste de São Paulo, onde uma aluna foi assassinada - Danilo Verpa/Folhapress

Em uma troca de mensagens com outro colega, ele conta que já sofreu bullying, mas não se importa com vingança e diz que não sofre tanto dentro da instituição de ensino.

Ele afirma que quer "ter o poder de controlar o tempo que a pessoa vai ficar viva" e "ter o poder de saber a hora da morte das pessoas" que vai matar.

Como a Folha mostrou, plataformas como o Discord se tornaram "terra sem lei", com registros de abusos sexuais e agressões envolvendo jovens.

Letícia Oliveira, que há 11 anos monitora perfis extremistas na internet, afirma que o Brasil soma duas semanas seguidas de registros de casos de ataques à escola.

"Sempre ficamos muito apreensivos porque sabemos que pode acontecer outro ataque em escola em seguida a outro", disse ela que afirma que ainda não é possível saber o que motivou o ataque em Sapopemba.

"Ainda não temos condições de dizer que foi mais um atentado promovido por essas subcomunidades que glorificam assassinos e atiradores de escolas, mas é muito provável que seja", diz ela, que lembra que a maioria dos últimos ataques foi influenciada por essas comunidades ou até mesmo organizados dentro dos fóruns em que se glorificam esses atiradores.

Em nota, o Discord afirma que tem cooperado com autoridades e tem políticas rigorosas contra atividades que promovam violência e ódio.

"Quando tomamos conhecimento de conteúdo ou comportamento potencialmente prejudiciais, investigamos e tomamos as devidas medidas, incluindo: remover conteúdo, banir usuários e desativar servidores. Estamos comprometidos em cooperar com as autoridades locais para proporcionar um ambiente positivo e seguro para nossos usuários no Brasil", declarou.

"É importante ressaltar que o Discord é amplamente utilizado pelas pessoas para ter interações positivas e para se reunir com amigos. No Brasil, 99% dos usuários de Discord não violaram nossas políticas nos últimos 6 meses", acrescenta a empresa.

O ataque

O aluno atirador havia passado o fim de semana na casa do pai, em Santo André (Grande São Paulo), de acordo com o policial. Lá ele pegou revólver calibre 38 usado no crime, que era guardada no meio dos colchões, e também as munições, que estavam outro cômodo. O adolescente teria vasculhado a casa até achar os objetos.

Os pais são separados. No domingo (22), ele retornou para a casa da mãe já armado.

A arma era registrada e estava regular, segundo a polícia. O pai está sendo procurado.

Uma câmera de segurança registrou o momento em que o atirador entrou em uma sala de aula, cheia de alunos, e efetuou disparos. Houve correria, e alunos deixaram a sala em meio ao tumulto.

A aluna que morreu, Giovanna Bezerra, 17, levou um tiro na cabeça.

As duas feridas foram socorridas e levadas para o pronto-socorro do Hospital Sapopemba –uma delas já recebeu alta. Um terceiro estudante, que se feriu ao fugir, também foi socorrido e já foi liberado.

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