Linhas do Metrô de SP voltam a funcionar após protesto de funcionários

Sindicato afirma que condutores receberam advertências injustas e governo reclama da falta de diálogo

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São Paulo

Um protesto de funcionários do Metrô de São Paulo paralisou as linhas 1-azul, 3-vermelha e 15-prata nesta quinta-feira (12) e afetou o funcionamento da linha 2-verde, nove dias após a greve que interrompeu por um dia grande parte do transporte sobre trilhos na cidade.

A nova interrupção dos serviços ocorreu pela manhã e no início da tarde e, às 14h, a situação foi normalizada em todas as estações.

Nas linhas 4-amarela e 5-lilás, concedidas à iniciativa privada, a operação permaneceu normalmente.

De acordo com o Metrô, a operação atípica ocorreu por um protesto dos funcionários.

Segundo o Sindicato dos Metroviários de São Paulo, os trabalhadores que operam os trens da linha 2-verde se recusaram a assumir as funções após o recebimento de advertências que consideram injustas.

Metrô tem linhas paralisadas e estações fechadas nesta quinta - Danilo Verpa/Folhapress

À Folha, a presidente da entidade, Camila Lisboa, confirmou a interrupção e explicou que a ação afetou as outras linhas porque os funcionários se solidarizaram com os colegas da linha 2-verde.

Lisboa afirmou ainda que as advertências disciplinares referem-se a um assunto de meses atrás e estão sendo apresentadas agora como resposta à paralisação no início do mês. No último dia 3, os funcionários do Metrô, da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e da Sabesp fizeram greve contra a intenção da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) de privatizar os serviços.

"A greve nem foi julgada. A empresa está colocando o carro na frente dos bois", disse. "Quem está tumultuando é o Metrô, que se recusa a conversar com o sindicato", disse a presidente.

A greve de transportes na semana passada foi a segunda no governo Tarcísio. A primeira, em março, reivindicava abono salarial para repor perdas, segundo os grevistas, causadas pela falta de pagamento de participação nos lucros de 2020 a 2022. Além disso, o movimento pedia a revogação de demissões por aposentadoria e outros desligamentos feitos em 2019. A paralisação aconteceu dois meses após o início das negociações, em janeiro.

Já a mobilização no começo deste mês foi motivada pelo anúncio de estudos para a concessão de serviços como o transporte. O governador disse que a greve não ia interromper as análises, e elogiou o serviço privado —que apresentou falhas por 27 horas na linha 9-esmeralda dos trens, que é privatizada.

As mobilizações também anteciparam debates eleitorais na capital, já que o tema das privatizações divide opiniões de eventuais candidatos e da população. Pesquisa do Datafolha de abril, por exemplo, mostrou que 53% dos paulistas são contra a venda da Sabesp e 40%, a favor.

No início da tarde, o sindicato emitiu uma nota reforçando que a paralisação foi originada pela conduta do Metrô e que estava tentando suspender as advertências. Mais tarde, reforçou que a empresa havia concordado em negociar as advertências na segunda-feira (16). Na data também será realizada uma assembleia da categoria.

A negociação não foi confirmada pela assessoria da empresa.

No fim da manhã, o Metrô afirmou em nota que foi surpreendido pela ação e também reclamou da falta diálogo. De acordo com a empresa, tratava-se de um protesto a uma advertência por escrito dada a cinco operadores de trem.

"Eles se negam a participar da formação e da aula prática ofertada a outros empregados que estão sendo treinados para a função de operação de trem, procedimentos que fazem parte da rotina dos metroviários", disse o Metrô. Mais tarde, a empresa destacou que "a advertência não tem qualquer relação com o objeto de greve recente, em 3 de outubro".

"Vale ressaltar que a advertência não implica em suspensão ou demissão e que não há sequer impactos na remuneração. A advertência, por ora, cumpre apenas o seu papel de dar aos funcionários a oportunidade para que corrijam a conduta faltosa", acrescentou.

O Metrô alegou ainda que os funcionários podem questionar a advertência pelas vias administrativa ou judicial, sem afetar os passageiros. Por fim, criticou o sindicato e adiantou que estuda adotar medidas legais.

Passageiros pegos de surpresa

Quem tentou embarcar na linha 1-azul por volta das 11h30 foi surpreendido pelas catracas fechadas, como na estação São Joaquim.

Foi o caso de um grupo de passageiras que se juntava para tentar uma corrida por aplicativo, por volta de 12h20.

Elas contaram que, quando o trem em que estavam chegou à plataforma, os passageiros receberam ordens para descer dos carros e sair da estação.

"Vim de Campinas, estou aqui desde 10h20 ", disse a estudante de psicologia Lívia Lima, 20, que seguia para Diadema.

Também em direção a Diadema, Gabrielly Ferreira, 29, disse que os ônibus comuns, lotados, não paravam. "Não tem ônibus parando aqui, estão seguindo direto."

Dentro da estação, seguranças orientavam os passageiros a retirar um bilhete para ônibus do sistema Paese (Plano de Apoio entre Empresas em Situação de Emergência).

Passageiros fazem fila para embarcar em ônibus do Paese na estação São Joaquim do Metrô, nesta quinta (12) - Lucas Lacerda/Folhapress

A justificativa ouvida pelos passageiros na São Joaquim era que a linha 1-azul havia sofrido uma falha, sem previsão de retorno da operação hoje.

Perguntado, um segurança disse que as equipes haviam retirado todos os passageiros da estação até as 11h40.

"Não sei o que está acontecendo. Moro aqui na Liberdade e ia de metrô até o Jabaquara para buscar minha mãe, mas ela vai vir de Uber", afirmou Pedro Ivo Rocha, 30.

Além da espera de oito a dez minutos, quem optou pelos aplicativos teve de pagar até 70% a mais pela corrida por causa das taxas dinâmicas. Uma viagem da estação São Joaquim até a República, que custa em média R$ 19, era orçada por R$ 33 às 13h.

"Viemos ao teatro para o show do Mundo Bita, de Dia das Ccrianças. Ouvi algum comentário mais cedo, de que tinha algo estranho. Agora, na saída, o metrô estava fechado", afirmou Geovane Berto, 30, que estava com a mulher e a filha na porta da estação. "O jeito é Uber, mas está mais de R$ 100 para Itaquera."

Passageiros encontram catraca bloqueada na estação São Joaquim - Lucas Lacerda/Folhapress

Na estação Santa Cruz, que tem integração entre as linhas 5-lilás e 1-azul, os amigos Matheus Fernando, 25, e Matheus Lemes, 25, tentavam chegar ao evento Brasil Game Show, no Expo Center Norte, na zona norte da cidade.

"Não avisaram nada dessa vez", disse Fernando, em referência à greve da última semana. "Viemos de Interlagos e trocaríamos para a linha 1-azul aqui para ir até a estação Portuguesa-Tietê", afirmou Fernando.

A dupla esperava pelo carro de aplicativo, que custaria R$ 70, quando foi avisada por outro passageiro que a linha 1-azul havia voltado a funcionar.

Segundo o coordenador do Programa de Mobilidade Urbana do Idec (Instituto de Defesa do Direito do Consumidor), Rafael Calabria, os usuários com comprovante do valor pago pelas corridas podem buscar o Procon-SP.

"Se houver um volume de acionamentos, talvez seja possível encontrar uma solução coletiva. É importante o cidadão acionar o Procon e questionar o impacto gerado para ele, Não dá para se conformar com a situação."

Movimentação na estação Paraíso do Metrô durante a paralisação de funcionários - Danilo Verpa/Folhapress

Multa milionária

Por conta da greve da última semana, a CPTM pediu que três sindicatos da categoria fossem multados, juntos, em R$ 1 milhão. A juíza Raquel Gabbai de Oliveira elevou a multa a R$ 500 mil para cada uma das entidades, totalizando R$ 1,5 milhão.

A Justiça determinou ainda uma multa de R$ 2 milhões ao sindicato que representa os metroviários caso a greve continuasse.

Uma seção especializada do TRT (Tribunal Regional do Trabalho), composta por dez desembargadores, ainda vai julgar se as multas deverão ser aplicadas.

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