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Sabesp

Greve adianta debate eleitoral de 2024 em São Paulo

Boulos quer trazer privatização para campanha, mas arrisca reforçar pecha de radical

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São Paulo

Embora seja um movimento contra a privatização de serviços estaduais, a greve dos transportes e da Sabesp em São Paulo nesta terça (3) adianta uma temática que tende a ser central, ao lado da segurança pública, na campanha eleitoral municipal da capital em 2024.

Líder da corrida neste momento, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) já declarou guerra à venda do controle da Sabesp, a joia da coroa do programa de privatização do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que prevê também conceder linhas de trem, Metrô e outros ativos.

Trânsito carregado na marginal do rio Tietê, em São Paulo, durante a greve dos transportes
Trânsito carregado na marginal do rio Tietê, em São Paulo, durante a greve dos transportes - Danilo Verpa/Folhapress

Isso tem contribuído para a aceleração da modelagem da privatização e para a criação de um cronograma otimista por parte do Palácio dos Bandeirantes, no qual a Assembleia Legislativa já aprovaria o projeto de desestatização neste ano para leilão antes do início da campanha, ainda no primeiro semestre deste ano.

A posição de Boulos é a tradicional da esquerda brasileira, de crítica automática a privatizações. Ela encontra eco na sociedade, como mostrou pesquisa do Datafolha em abril, segundo a qual 53% dos paulistas é contra a venda da Sabesp e 40%, a favor.

Mas o mesmo levantamento mostrava que 49% dos moradores do Estado aprovam a concessão de linhas do Metrô, enquanto 45% desaprovam. E, assim como no caso do saneamento, a maioria dos ouvidos considerava que os serviços prestados à população tenderiam a melhorar caso fossem privados.

São considerações importantes para o jogo político. Aliados de Boulos dizem que ele pode atrapalhar a venda da Sabesp, caso ela não tenha ocorrido, se rejeitar a negociação de um novo contrato da empresa com o município, o maior de seus mais de 370 clientes no Estado.

O governo Tarcísio diz que tal aval é irrelevante, o que leva a discussão para o campo jurídico. No político, contudo, a contenda é mais clara. O atual prefeito e segundo colocado em intenção de votos segundo o Datafolha, Ricardo Nunes (MDB), é a favor da venda e tem o apoio formal do governador na disputa de 2024.

Ambos os lados têm problemas para lidar com suas defesas, ideologia e racionalidade econômica à parte. Na esquerda, o recurso a greves que geram transtorno à população encerra um risco evidente de desgaste. Boulos, em particular, já tem de lutar com a pecha de radical que lhe é impingida pelos adversários devido à longa militância no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto.

Por mais que conceda entrevistas reiterando ser um moderado, o psolista sabe que a imagem de "invasor de casas" vendida pelos rivais é de fácil assimilação. E que greves, legítimas ou não, tendem a irritar a população.

Já no campo da centro-direita ora no poder na cidade, o problema começa com a rejeição atual à privatização, principalmente da Sabesp. Mas passa por questões práticas: ainda não se sabe exatamente qual o modelo que será adotado para manter as contas de água sob controle.

Quando as discussões da privatização ganharam forma, no governo de João Doria (ex-PSDB), dirigentes da estatal diziam que o grande nó para os investidores potenciais era o fato de que elevar a conta seria uma inevitabilidade. Claro, isso foi lá atrás e há estudo para usar o dinheiro auferido com o leilão para moderar tarifas, mas é um temor citado por aliados de Tarcísio hoje também.

Não é um fenômeno inusual, como a reversão de várias privatizações no setor na Europa nas duas últimas décadas mostra. O argumento mais usado contra Tarcísio já na campanha em que derrotou Fernando Haddad (PT) no segundo turno de 2022, o da majoração de tarifas pós-concessão no Rio, contudo, não levava em conta a realidade tarifária o Estado antes da venda e reposições de perdas inflacionárias.

Por fim, além da questão municipal de 2024, há o desafio político enfrentado por Tarcísio, que já encara a segunda greve de transportes em meros nove meses de governo. Até aqui, apesar de ter sua gestão marcada por recuos após pressão, não deu sinais de que irá mudar seus planos —privatização é sua bandeira desde a campanha.

Como a causa alegada aqui é ideológica, tachar a greve de política é trabalho mais simples, e o transtorno para o cidadão, um fato inerente a qualquer paralisação. Ao mesmo tempo, a força que o Executivo tem no imaginário popular também tem o condão de torná-lo um ímã de descontentamento com a disrupção do cotidiano.

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