Descrição de chapéu Obituário Aristides Theodoro (1937 - 2023)

Mortes: Autodidata, marcou a cena literária da Grande SP

Aristides Theodoro contou histórias da cidade imaginária de Curiapeba e deixou biblioteca de 10 mil exemplares

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São Paulo

A primeira vez em que Aristides Theodoro teve o impulso de escrever foi ao ouvir os versos de "O Navio Negreiro", de Castro Alves, sendo declamados quando ainda era adolescente. Ele passaria as décadas seguintes dedicado integralmente à literatura.

Sem estudo formal, aprendeu a escrever com os livros que passou a colecionar e tornou-se uma referência artística da região do ABC Paulista. Escreveu 57 livros de diversos gêneros literários, dos quais 25 foram publicados.

Theodoro nasceu em Utinga, na Bahia, e se mudou com a família para a capital paulista aos oito anos. A terra natal serviu de inspiração para a cidade imaginária de Curiapeba, na Chapada Diamantina baiana. Foi o cenário de alguns dos seus contos mais famosos, para os quais ele trazia as lendas que ouvia quando era criança.

Homem calvo e com cavanhaque grisalho, vestindo camisa amarela e usando óculos
O escritor Aristides Theodoro, que marcou a cena literária de Mauá, na Grande SP - Reprodução/Museu da Pessoa

Alguns livros eram impressos com uma reprodução do mapa da cidade imaginária. Nela habitavam amigos que ele conhecia na vida real e os transportava para a ficção na forma de personagens. Como ele, os personagens também tornavam-se retirantes e iam tentar a sorte nas capitais do Sudeste.

Durante a infância e a juventude, ele viu crescer Mauá, na região metropolitana de São Paulo, que conheceu como um município quase rural quando tinha 11 anos.

Em uma entrevista ao Diário do Grande ABC, Theodoro contou que, quando era jovem, seu pai construiu para ele um pequeno cômodo separado do restante da casa, onde ele pudesse ouvir seus discos e ler sem incomodar o restante da família —um cômodo apertado, onde ele nem sequer poderia receber uma visita. O pai era um adventista fervoroso. O escritor se tornaria ateu.

Anos mais tarde, ele se referia à própria casa com um apelido que lembrava seu primeiro refúgio artístico: Toca Filosófica. É desse lugar que ele assina alguns de seus textos publicados em blogs autorais que teve no fim da vida.

Theodoro não bebia, mas era um frequentador assíduo de bares de Mauá. Costumava debater literatura madrugada adentro a base de água, suco ou refrigerante ao lado de amigos escritores. Foi no Bar do Yugo, um dos mais movimentados da cidade na década de 1960, que conheceu os amigos que fundariam com ele o Colégio Brasileiro de Poetas.

O grupo realizava eventos sobre literatura e divulgava a produção artística local, publicando quatro antologias e organizando o primeiro congresso literário da região. Theodoro foi premiado nos principais concursos literários.

Ele morreu na última quinta-feira (28), de infarto. Deixa quatro irmãos, uma biblioteca com ao menos 10 mil livros e arquivos com mais de 4.000 recortes de jornais e revistas, documentando principalmente a cena literária de Mauá.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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