Maria de Lourdes Melo Vellame nasceu em 23 de março de 1942 na praia de São Tomé de Paripe, em Salvador (BA). Filha de Manoel de Oliveira Melo e Mercedes Rêgo Melo, ela tinha mais sete irmãos: Lita, Tereza, Nena, Ceicinha, Mário, Lucia e Margarida.
Quando ainda estava no colégio, começou a se dedicar a sua primeira missão: a militância política. E não parou mais.
Na faculdade de filosofia, numa época em que poucas mulheres buscavam nível universitário, Lurdinha, como era conhecida, filiou-se ao PCB (Partido Comunista Brasileiro) e inspirou Caetano Veloso, seu colega de curso, na sua primeira composição impressa num vinil, em 1965: "Samba em Paz", dedicada a ela na capa e depois gravada por Elis Regina.
Em 2012, Caetano dedicou outra música à amiga: "O comunista", sobre Carlos Marighella.
Na trilha de Marighella, Lurdinha deixou o partido pela luta armada em São Paulo. Na ALN (Aliança Libertadora Nacional) rodou o mundo clandestinamente no período da Guerra Fria. Na guerrilha em Cuba, encontrou uma sociedade que passaria a ser seu modelo.
Durante os anos de chumbo, ela foi presa e torturada por cerca de dois meses. O delegado Fleury Paranhos anunciou a prisão de Lurdinha em reportagem de capa da revista Veja e declarou que ela "era a pessoa mais corajosa que ele havia conhecido".
Lurdinha sobreviveu ao Dops (Departamento de Ordem Política e Social), e depois de deixar a prisão, em opção radical pelo anonimato, engajou-se em sua segunda missão: criar os filhos: Lucas, Julio e Raul. Filhos do artista plástico Humberto Vellame Miranda.
Mãe amorosa, ela cantava "A Noite do Meu Bem", de Dolores Duran, e "Guantanamera", de José Fernández Diaz, para os filhos dormirem.
"Eu sempre disse aos amigos, brincando, que fomos criados 'no rigor do Marxismo-Leninismo'. Brincadeira, claro, rigor nunca rolou muito lá em casa. A casa de dona Lourdes era de portas abertas a tudo o que os reacionários e pequeno-burgueses torciam o nariz", conta o filho Julio Vellame.
Era uma avó apaixonada pelos netos Rodrigo (de Janaína e Lucas) e Maria Luiza (de Maria Helena e Julio).
Talvez também para ajudar a criar melhor os filhos, ela se engajou em sua terceira e última missão: dedicação à Igreja Messiânica.
"Não há palavras para expressar o quanto sentimos sua partida. Fica para todos nós, herdeiros desse matriarcado, a missão de sermos pessoas de valor para que as lutas dela não tenham sido em vão", diz Julio. "Rogo aos antepassados, a Deus e a Meishu-Sama que guiem o espírito de minha mãe num caminho de luz."
Lurdinha morreu no dia 3 de dezembro, aos 81 anos, em sua casa em Lauro de Freitas (BA), onde vivia com o filho Raul. Ela deixa os três filhos e os dois netos.
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