'Nunca fui braço de milícia', diz deputada suspeita de ligação com grupo armado

Lucinha retornou à Assembleia do RJ nesta terça-feira (20) após deputados suspenderem o afastamento determinado pela Justiça

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Rio de Janeiro

A deputada estadual Lucinha (PSD-RJ) se defendeu publicamente pela primeira nesta terça-feira (20) das suspeitas de ligação com a maior milícia do Rio de Janeiro.

Em sua primeira sessão na Assembleia Legislativa após a suspensão de seu afastamento, ela afirmou que nunca teve envolvimento com o crime organizado.

"Nunca tive qualquer envolvimento com nenhuma organização criminosa. Nunca fui braço de milícia, como dito por aí. Também nunca usei meu mandato para interferir na política de segurança pública, porque todos sabem que sou uma deputada de oposição. Como tal, não tinha acesso à cúpula de segurança do estado", disse ela.

A deputada estadual Lucinha (PSD) discursa na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro - Divulgação/Alerj

Lucinha foi afastada do cargo em dezembro por determinação do desembargador Benedicto Abicair, do Órgão Especial do TJ-RJ, após requerimento do Ministério Público estadual.

De acordo com as investigações da Polícia Federal, a deputada atuava em favor do grupo criminoso comandado por Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, responsável pelos ataques a ônibus e trem na zona oeste carioca em outubro. A milícia domina grade parte da região.

No início do mês, a Assembleia decidiu suspender a decisão e, ao mesmo tempo, abrir um processo contra ela no Conselho de Ética por quebra de decoro parlamentar. A medida pode levar, no futuro, à cassação do mandato.

Em seu discurso, Lucinha agradeceu aos deputados que votaram em seu favor, em especial o presidente da Assembleia, Rodrigo Bacellar (PL-RJ), e o deputado Rodrigo Amorim (PRD-RJ), presidente da Comissão de Constituição e Justiça que articulou o retorno ao mandato, combinado com a abertura de processo no Conselho de Ética.

"Gostaria de agradecer aos deputados que me concederam a oportunidade de retornar ao meu mandato, e assim poder exercer meu direito de defesa. A decisão de Vossas Excelências representa, sem dúvida nenhuma, o resgate da minha dignidade", disse ela.

Lucinha afirmou que, como deputada, recebe ligações e pedidos de todo tipo de moradores de sua base eleitoral, a zona oeste da capital.

"Não consigo impedir que qualquer pessoa me ligue ou me faça qualquer tipo de pedido. Isso não significa que darei prosseguimento a demandas que não sejam republicanas", afirmou ela.

A fala é referência aos diálogos encontrados pela PF a partir da quebra de sigilo de Domício Barbosa de Sousa, acusado de integrar a milícia "bonde do Zinho". Segundo a Procuradoria-Geral de Justiça, Domício encontrou a deputada e sua assessora Ariane Afonso Lima pelo menos 15 vezes ao longo de 2021.

Ela também fez referência ao encontro que realizou, a pedido de Domício, segundo a PF, entre o prefeito Eduardo Paes (PSD) e motoristas de vans. Para a polícia, a deputada atuou para manter uma regra que beneficiava a milícia da região.

"O transporte alternativo regularizado também gera emprego e garante o sustento de milhares de famílias. Não vou admitir que pautas defendidas pelo meu mandato, de forma honesta e transparente, sejam criminalizadas."

Lucinha disse também ver elitismo nas suspeitas sobre sua atuação como deputada. "Há algo nisso tudo que me parece elitista e me incomoda. Um certo grau de preconceito. A ideia de que todo político da zona oeste ou de regiões mais humildes tenha vínculo com milícias e grupos armados."

"No livro da minha vida, não há espaço para crime organizado em nenhum das suas páginas", disse ela.

Segundo a decisão que afastou a deputada, os dados mostram cinco episódios que demonstrariam a interferência delas em favor do grupo criminoso.

Lucinha, chamada de "madrinha" por Domício, teria repassado data de visita do prefeito nos bairros em que atuam. Segundo o Ministério Público, a informação permitiu que o miliciano se programasse para retirar sua "tropa armada" das ruas.

A deputada também é suspeita de ter atuado em favor de que motoristas de vans cobrados pela milícia pudessem continuar circulando pela zona oeste.

Os dados mostram também, segundo o MP-RJ, que Domício teria pedido à deputada, por meio da assessora, a realização de uma operação policial contra uma facção rival.

Lucinha é suspeita também de ter atuado em favor de milicianos do "bonde do Zinho" presos pela polícia. Segundo o MP-RJ, em novembro de 2021, Domício solicitou à deputada atuação em favor de criminosos presos em flagrante com armas, fardamento e veículo roubado.

A Procuradoria afirma que a deputada fez ligações e informou Domício sobre o fato da ocorrência ter se encerrado sem preso. De acordo com o MP-RJ, ela disse ao miliciano que "fez sua parte" e que "agora quebraria o telefone", orientando que ele fizesse o mesmo.

O quinto episódio narrado se refere à suposta tentativa de interferir na nomeação do então comandante do 27º Batalhão da PM (Santa Cruz), tenente-coronel Eduardo Lopes.

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