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Polícia de SP monitora suposta ordem para matar desafetos de Marcola no PCC

Mensagem interceptada por setores de inteligência indica conflito entre aliados de líder da facção e três integrantes de ala mais radical

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São Paulo

Os serviços de inteligência das forças de segurança de São Paulo monitoram a possível guerra entre integrantes da cúpula do PCC que, se confirmada, pode mudar o perfil da facção criminosa. Uma mensagem, interceptada pela polícia na semana passada, indica que foram dadas ordens para matanças de chefes.

O conflito teria de um lado Marco Willians Herbas Camacho, Marcola, apontado pela polícia como líder máximo do grupo, e os aliados dele. Do outro, três integrantes da ala mais radical da facção: Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka, Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, e Roberto Soriano, o Tiriça.

Todos fazem parte, segundo investigação, da chamada Sintonia Final (hierarquia máxima da facção).

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Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, é escoltado para fazer exames médicos em Brasília - André Coelho - 21.jan.2020/Folhapress

Na mensagem interceptada, um "salve" (como é chamado no mundo do crime), a Sintonia Final anuncia a exclusão e a ordem para matar Andrade, Lima e Soriano por calúnia e traição. Eles teriam conspirado contra Marcola por uma suposta delação feita às autoridades.

O monitoramento policial indica que o trio teria se unido contra Marcola e ordenando a exclusão e morte do chefe. O motivo seria uma suposta delação que prejudicou Soriano no júri no qual ele foi condenado pela morte de uma psicóloga da Penitenciária Federal de Catanduvas (PR), em 2017.

O Ministério Público Federal teria usado no julgamento uma gravação na qual Marcola dizia que Soriano era um psicopata e teria ordenado a morte da funcionária. O material teria ajudado no convencimento dos jurados, que condenaram Tiriça a 31 anos de prisão. Irritado com as palavras, o condenado teria convencido os outros colegas de que Camacho cometera um erro imperdoável.

No salve interceptado na semana passada, porém, os criminosos afirmam que investigaram o caso do Paraná e concluíram que não houve delação. Marcola teria sido gravado ilegalmente dentro da Penitenciária Federal de Porto Velho, durante uma conversa informal, e o áudio foi usado pelo Ministério Público para jogar um criminoso contra o outro.

"Gravação esta que foi analisada pela Sintonia e que fica claro que não existe nenhuma delação por parte do irmão [Marcola] e, sim, um papo reto de criminoso com a polícia", diz trecho da mensagem.

Na sequência, afirma que o teor do áudio, com transcrição, foi compartilhado com os chefes para que todos tirassem conclusão própria. "Todos aqueles que se levantarem no intuito de criar racha e discórdia dentro da nossa organização serão excluídos e decretados. A Sintonia deixa claro a todos que estamos à disposição para esclarecer qualquer dúvida", aponta a mensagem.

Por ora, segundo os serviços de inteligência, a única ordem de morte que circula entre os criminosos e no sistema é aquela em defesa de Marcola. Para eles, isso é um sinal de que as mensagens enviadas pelos três contra o chefe não chegaram à base e, por isso, o trio corre sério risco de ser morto.

Os serviços de inteligência acompanham os desdobramentos porque, embora os chefes estejam todos em presídios federais, o palco inicial da guerra deve ser São Paulo, onde moram familiares desses três presos. Se as mensagens forem verdadeiras, essas pessoas correm risco de perderem todos os bens e, a depender, até serem mortos.

Algo parecido ocorreu no final de 2002 quando Marcola entrou em rota de colisão com César Augusto Roriz da Silva, o Cesinha, e José Márcio Felício, o Geleião, os dois principais chefes do PCC até então. Os colegas ficaram do lado de Camacho na briga interna: Cesinha, Geleião e as mulheres de ambos foram decretados e por anos o PCC tentou matá-los.

Na ocasião, a advogada Ana Maria Olivatto, 45, ex-mulher de Camacho, foi assassinada a tiros em Guarulhos. A principal suspeita de mando do crime era Aurinete Carlos Félix da Silva, a Netinha, mulher de Cesinha. Esse ataque contra Ana, respeitada pelos criminosos, influenciou na decisão do grupo.

Segundo a polícia, foi esse episódio que colocou Marcola no topo de organização e que mudou os rumos da facção. O grupo abandou o caráter mais social para se tornar mais interessado no tráfico internacional de drogas. Caso Camacho seja destituído do comando, apontam os policiais, o PCC tende a mudar de perfil e se tornar um grupo muito mais violento.

Marcola sempre negou ligação com o PCC. Procurada, a defesa dele não foi localizada.

A Folha também tentou contato com Cláudio Dalledone, defensor de Soriano no júri do ano passado, mas, não teve contato até a publicação deste texto.

A reportagem também solicitou informações ao Ministério Público Federal do Paraná sobre o áudio usado na audiência, mas ainda não teve resposta.

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