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Grávida e marido usam geladeira como bote para fugir de enchente no Espírito Santo

Elivanda Brandão, 18, está no 8º mês de gestação; temporal que atinge o estado desde sexta (22) deixa ao menos 20 mortos

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Vitória

Uma grávida de oito meses viveu momentos de pânico ao tentar se salvar de uma enchente que atingiu a cidade de Mimoso do Sul, no interior do Espírito Santo. Por causa do alto nível de água, a jovem e o marido usaram uma geladeira para boiar e escapar do afogamento.

Elivanda de Souza Brandão, 18, está grávida de oito meses. O temporal na cidade, uma das mais afetadas pelas chuvas no ES, durou de sexta (22) à madrugada de domingo (23). Há 20 mortos e dois desaparecidos no estado desde então, de acordo com o balanço mais recente divulgado nesta quarta (27).

O casal ficou cerca de 20 minutos dentro da geladeira, boiando na água barrenta, na sexta-feira. Ao todo, eles contam, foram três horas de tensão naquele dia, entre ficarem presos em casa e decidirem escapar com a ajuda do eletrodoméstico.

"Foi desesperador. A todo momento eu achei que iria morrer e que a ideia de meu marido não ia dar certo", conta Elivanda. "Eu cheguei a falar com ele que se eu entrasse na geladeira, ela iria afundar".

Geladeira (já esvaziada) usada por mulher grávida e marido para se salvarem de enchente em Mimoso do Sul (ES) - Reprodução/SBT News

A jovem afirma que entrar na geladeira foi a única alternativa que ela e o marido, Rulian Dias Amaral, 20, encontraram para escapar da enchente.

Ela é moradora do bairro Recanto Verde. Entrar na geladeira foi a única alternativa pensada por ela e o marido, Rulian Dias Amaral, 20.

A casa deles fica no bairro Recanto Verde, no segundo andar de um imóvel. Mesmo assim, conta Elivanda, em 40 minutos a água já tinha atingido o teto da residência. "Acho que, além de sorte, conseguimos nos salvar com a ajuda de Deus", diz a grávida.

O marido, ela acrescenta, protagonizou outro ato heroico naquele dia. A fim de salvar um amigo do bairro, um idoso acamado, ele saiu por uma das janelas da casa e atravessou a rua a nado para resgatar o vizinho.

"Quando a água ainda estava em nossas canelas, Rulian saiu pela janela, nadou até o outro lado da rua e entrou na casa do vizinho, que tem problemas de mobilidade. Com o auxílio de outro vizinho que morava atrás dessa residência, conseguiram levar o idoso até o terraço de outra casa", conta a mulher. "Após 40 minutos, quando ele voltou para nossa casa, a água já estava chegando no teto, e o único objeto que flutuava era a geladeira."

Foi nesse momento que ele colocou a esposa dentro do eletrodoméstico e guiou o aparelho por uma das janelas. No local onde seria o meio da rua José João Teixeira Filho, Rulian lutou contra a correnteza guiando a geladeira, como se fosse um barco, para que ele e a esposa pudessem achar um local seguro.

"Quando estávamos na rua, acabei engolindo muita água, e meu marido também. Mas ele conseguiu nos guiar até acharmos um canto para segurar. A correnteza estava muito forte e por conta disso eu achei que ele não fosse aguentar", disse a grávida.

O jovem então decidiu embarcar também no eletrodoméstico. "Com o tempo, a geladeira de fato começou a afundar e ficamos segurando em uma pilastra até os vizinhos, com botes, chegarem para nos salvar", conta a sobrevivente.

O casal está agora abrigado na casa da mãe de Rulian, próximo ao local do desastre. A jovem lamenta ter pedido tudo o que tinha em casa.

"Estamos bem, nos recuperando do susto, mas é uma situação muito difícil. Achei que ia morrer e que meu marido também não iria aguentar. Agora estamos em um local alto e não corremos mais perigo. O que mais chamou atenção foi a velocidade com que a água subiu, foi cena de filme", diz.

Ela diz que espera fazer em breve uma ultrassonografia para se assegurar da saúde da bebê, mas afirma que se sente bem. "Ela [a filha que espera] é forte, sei que ela ficará bem. Estamos recebendo doações de outras partes do estado e isso tem nos ajudado a seguir".

A cidade continua caótica, ela afirma, com muita lama pelas ruas e mau cheiro de animais mortos, além das casas que desabaram.

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