Descrição de chapéu Obituário Daniel Machado da Fonseca (1979 - 2024)

Mortes: Diplomata deixou sua marca de organização e determinação no Itamaraty

Daniel Machado da Fonseca conheceu quase cem países e coordenava a força-tarefa de clima no G20

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São Paulo

Uma viagem a trabalho para o México, quando era engenheiro da computação de uma consultoria multinacional, foi o estopim para Daniel Machado da Fonseca virar sua carreira de cabeça para baixo. Queria fazer algo que desse mais sentido a sua vida. Por isso, escolheu a diplomacia.

Nascido no Rio de Janeiro em 1979, ele passou a infância e a adolescência em Miguel Pereira, a 120 km da capital fluminense, com os pais e quatro irmãos. Aos 16 anos, voltou para o Rio para morar com os avós e fazer o vestibular. Foi aprovado no concorrido ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), em São José dos Campos (SP), para cursar engenharia da computação.

Formado, já saiu empregado e exerceu a profissão por cerca de cinco anos, até tomar a decisão de mudança de rumo na vida. Assim, fez um curso preparatório para entrar no Instituto Rio Branco, a escola diplomática do Brasil, na capital federal.

Daniel Machado da Fonseca (1979 - 2024)
Daniel Machado da Fonseca (1979 - 2024) - Arquivo pessoal

No curso, Daniel conheceu duas pessoas que passaram a fazer parte de sua vida: o amigo Cristiano Rabelo e a futura esposa, Roberta Maria Lima Ferreira, que era formada em jornalismo e fazia o curso para seguir na área internacional. "Ele confessou que, quando me viu, pensou: 'vou me casar com essa mulher'", lembra Roberta.

Em 2006, Fonseca ingressou no Serviço Exterior Brasileiro como o terceiro em sua turma e seguiu na divisão de recursos renováveis. Nos anos seguintes, serviu nas embaixadas em Nairóbi (Quênia), Roma (Itália) e Nova Déli (Índia), sempre acompanhado de Roberta. Também fez mestrado em relações internacionais pela UFF (Universidade Federal Fluminense).

Atualmente, era o chefe da Divisão de Ação Climática do Ministério das Relações Exteriores e coordenava a força-tarefa de clima no G20, o grupo que reúne os países com as maiores economias do mundo. Ele atuou diretamente no Fundo Amazônia, tanto nas captações de recursos quanto na interlocução com os demais países com florestas tropicais.

"O Daniel tinha a capacidade de navegar nesse mundo prático e fazer algo a mais. A força tarefa do G20 já está pronta porque ele organizou tudo. Tinha uma capacidade de planejamento que surpreendia as pessoas que trabalhavam com ele", conta Roberta, que entrou no Itamaraty em 2008 e atua na Secretaria Geral do ministério.

A companheira conta que Daniel cuidava de sua saúde e era maratonista até 2022, quando sofreu uma parada cardiorrespiratória depois de uma corrida ao lado de dois amigos. Quem o salvou foi justamente Cristiano, que fez massagem cardíaca até a chegada do socorro. "Os médicos não encontraram nenhum problema no coração e ele voltou sem sequelas, o que é raríssimo", lembra Roberta.

Quase dois anos depois, porém, ele não resistiu a um novo infarto. Daniel morreu no último dia 3, na cidade de Kigali, em Ruanda, onde participaria da reunião do Conselho do Fundo Verde para o Clima, programa da ONU (Organização das Nações Unidas).

"Diplomata tem que agregar e construir pontes, e o Daniel sempre foi exímio nisso. Sempre recebia os amigos em casa para jantar a comida maravilhosa que ele cozinhava. Sempre hospedava os amigos nos muitos países em que serviu", diz Cristiano, que é cônsul-adjunto no Consulado-Geral do Brasil em Lisboa.

Daniel Fonseca deixa a mulher e a filha Letícia, 7, adotada pelo casal aos 3 anos, em Manaus (AM). Surda de nascença, ela foi operada e está recuperando a fala.

"O Daniel era uma pessoa coerente em todas suas dimensões: profissional, pai da Letícia, companheiro. Era pessoa muito reta, não escondia as posições, no que acreditava", diz Roberta, enfatizando a curiosidade e a inquietude do marido para estudar e conhecer coisas novas. "Ele era movido por uma indignação muito construtiva, que não o imobilizava, o levava à ação. Isso em tudo na vida."

O presidente Lula (PT) também lamentou a morte do diplomata em nota nas redes sociais. "Daniel nos deixou precocemente fazendo o que mais amava, atuando em nome do seu país, em defesa dos mais vulneráveis e de soluções para o planeta. O Itamaraty perde um grande quadro e o Brasil, um cidadão exemplar."

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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