Descrição de chapéu Obituário Elizabeth Aracy Rondon Amarante (1933 - 2024)

Mortes: Indigenista e educadora, dedicou a vida ao povo myky

Beth leva o nome da etnia, a qual defendeu e conviveu por 45 anos

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Curitiba

Quando Elizabeth Aracy Rondon Amarante teve o primeiro contato com o povo myky, em 1978, ela encontrou apenas 23 indígenas. Missionária, ela construiu pelos 45 anos seguintes uma relação mútua de respeito e dedicação.

Na aldeia em Mato Grosso na qual viveu até os 90 anos, Beth Myky —como era conhecida— fez diários com relatos indígenas e escreveu livros de alfabetização na língua myky, como um dicionário que traduzia o idioma para o português.

"Sua inserção na aldeia respeitou a importância da língua materna, favorecendo o conhecimento da escrita a partir da própria língua myky", lembra a amiga Natalia Filardo.

Nascida no Rio de Janeiro, em 1933, ela pertenceu à Congregação Sagrado Coração de Jesus e é neta do marechal Cândido Rondon. Poliglota, decidiu viver na aldeia, numa casa que dividia com dezenas de indígenas. Querida por todos, era sonhadora e um modelo de educadora, conta Natália. "Referência na construção de um mundo mais humano e simples."

Elizabeth Aracy Rondon Amarante, a Beth Myky (1933 - 2024)
Elizabeth Aracy Rondon Amarante, a Beth Myky (1933 - 2024) - Renan Dantas

Embora religiosa, nunca exerceu a função colonizadora da igreja, explica a amiga. "Não catequizou nenhum indígena, mas sempre fortaleceu a espiritualidade local, encontrando neste lugar o reino da sua fé."

O respeito às tradições e origens indígenas é destacado pela amiga Heloisa da Cunha. "Ela mergulhou na vida do povo, nunca levou a religião católica, mas foi muito fiel à nossa congregação."

Em nota de pesar, o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), do qual ela foi vice-presidente, ressaltou sua participação para "uma proposta de mudança radical na relação entre igreja e povos indígenas, na qual missionários e missionárias não iam às aldeias para ensinar, mas para aprender".

Sua educação foi baseada no diálogo e no respeito à diferença, sendo "referência do que deve ser a missão junto aos povos indígenas", escreveu a entidade. "Orgulhava-se de ter ajudado a formar professores e lideranças preparadas para defender o próprio povo e perpetuar sua cultura."

A Operação Amazônia Nativa falou de seu exemplo de comprometimento e dedicação. "Desenvolveu um trabalho de especial importância na construção de materiais sobre sua cultura, seus saberes e a elaboração de currículos escolares diferenciados, com a própria sociedade, no chão da aldeia. Entre os amigos e companheiros de trajetória, Beth é reconhecida por sua enorme dedicação, amor, alegria, coragem e companheirismo."

Durante o congresso de 50 anos do Cimi, em 2022, a missionária discursou: "A todas as mulheres indígenas, eu acho que há uma coisa muito importante; o sistema queria nos matar, mas não sabia que éramos sementes."

Beth Myky morreu aos 90 anos em 3 de março, no Rio de Janeiro, de pneumonia.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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