Cemitérios de São Paulo ainda têm lixo, mato alto e invasões um ano após concessão

Visitantes encontram problemas de zeladoria; OUTRO LADO: gestão Nunes diz que faz fiscalização periódica e que vai verificar os problemas apontados

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São Paulo

Cemitérios na cidade de São Paulo ainda apresentam problemas de zeladoria no primeiro ano de concessão dos serviços à iniciativa privada. Durante visita as unidades, a reportagem encontrou invasões de imóveis próximas a túmulos, sacos de lixo no chão e locais com mato alto, muitas vezes escondendo a identificação dos mortos.

Problemas parecidos já haviam sido constatados ao longo de 2023, quando começou a operação do serviço por quatro empresas —cada uma arrematou um bloco com parte dos 22 cemitérios da capital, além do crematório da Vila Alpina, na zona leste.

A maioria dessas falhas já existia antes da concessão para a iniciativa privada e continua sem solução após a mudança. É o caso, por exemplo, das invasões e do mato alto, reclamações comuns desde quando os cemitérios eram administrados diretamente pelo poder público.

O valor estimado dos contratos com as empresas é de R$ 7,2 bilhões, com pagamento de R$ 646 milhões pelas concessionárias em outorgas. Entre as obrigações do contrato está a conclusão de obras e reformas até 2027, mas os problemas registrados pela reportagem são, também, de zeladoria.

foto mostra túmulos com vegetação alta em volta e mais alta que eles
Cemitérios de São Paulo como o da Vila Formosa, na zona leste, ainda têm mato alto sobre túmulos após um ano de concessão - Zanone Fraissat - 6.mar.2024/Folhapress

No cemitério Vila Formosa, na zona leste da capital, o mato cobria túmulos em áreas próximas à entrada do velório. Bastava caminhar por poucos minutos e chegar às primeiras quadras de túmulos, em qualquer sentido, a partir do velório, em direção ao Vila Formosa 1 ou 2, para ver lápides cobertas por vegetação.

Já as vias do cemitério que abrigam os nichos funerários tinham lixo como restos de garrafas, sacolas e entulho de construção em diferentes trechos. De acordo com a Consolare, que também administra Consolação, Quarta Parada, Santana, Tremembé e Vila Mariana, os serviços de zeladoria são realizados periodicamente, mas o período de chuvas pode acelerar o crescimento da vegetação.

"É importante destacar que a necrópole possui áreas de preservação ambiental, na qual não pode ser feito nenhum manejo." A respeito de um saco de lixo encontrado pela reportagem, a empresa afirmou que recolhe resíduos —lixo ou restos de atos religiosos— diariamente na unidade.

Na terça (5), o muro do cemitério da Consolação, na região central de São Paulo, caiu por volta das 22h, após uma árvore de grande porte tombar e atingir a estrutura. Nenhum jazigo foi atingido, segundo a Consolare, e há um plano de restauro em andamento.

Em fevereiro, os muros dos cemitérios do Araçá, no Pacaembu, e da Vila Formosa, na zona leste, também caíram.

Na zona norte, o problema de mato alto também foi constatado no Cemitério Vila Nova Cachoeirinha, com lápides escondidas em meio à vegetação e pequenas pilhas de entulho acumuladas em diversos locais. Era preciso olhar com atenção para descobrir lápides perdidas sob a vegetação.

Junto com Araçá, Dom Bosco, Santo Amaro e São Paulo, a unidade é uma das administradas pela Cortel São Paulo, que afirma ter investido R$ 5 milhões em infraestrutura e zeladoria nas unidades.

"A Cortel São Paulo destaca que já concluiu a reforma dos espaços de velório no Araçá e no cemitério de Santo Amaro, levando maior qualidade de serviço aos munícipes enlutados", diz a empresa.

Foram, segundo a concessionária, 17 mil obras para fechamento de buracos em capelas e jazigos vandalizados, e 1.200 toneladas de resíduos recolhidas.

O espaço no Vila Nova Cachoeirinha, distribuído entre os túmulos, também é disputado por imóveis no entorno. O problema já havia sido constatado no ano passado, e a pressão continua.

Em uma das partes do muro, há uma porta. Na tarde de terça, um homem descarregava materiais de um carro em sacolas e passava-os pela porta. Ao terminar, fechou as portas do carro e passou para o lado da casa.

Em outras áreas, não há sequer muro —as casas têm saídas diretas para o gramado do cemitério. Ainda, havia dois homens abrigados sob árvores em uma das quadras mais afastadas do centro do cemitério.

No ano passado, reportagem da Folha mostrou que havia brigas entre pessoas que viviam dentro da unidade. De acordo com um dos homens abordados pela reportagem na terça, a situação melhorou.

Segundo a Cortel, as invasões são tratadas junto com a prefeitura por causa da sensibilidade dos assuntos de moradia e de pessoas em situação de rua.

Já a SP Regula, responsável na gestão Ricardo Nunes (MDB) pela fiscalização dos contratos de concessão, disse, em nota, que designou uma equipe para apurar os problemas apontados pela Folha na unidade. Ainda, disse que realiza inspeções periódicas nos 22 cemitérios e que acompanha a apuração do Tribunal de Contas do Município (TCM).

No ano passado, a corte identificou falhas de segurança, acessibilidade e limpeza, e emitiu alertas à administração municipal.

Procurado pela Folha, o TCM afirmou, em nota, que os questionamentos feitos após a fiscalização estão sob análise da equipe técnica, e o serviço continuará a ser monitorado em 2024.

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