Não havia meias paixões para Ruy Sérgio Rebello Pinho. Gostar de algo, para ele, era por inteiro. Envolvia dedicação, tempo e pesquisas detalhadas.
Halterofilismo? Campeão paulista juvenil de peso pesado. Caminhada? Dez mil passos todos os dias. Xadrez? Comprava livros especializados, frequentava clube de praticantes, assistia a partidas que duravam horas.
Assim foi também com astronomia, plantas, vitaminas e outros objetos de interesse. E, sem dúvida, com a poesia.
Adorava declamar versos —em casa, na rua e até mesmo, como fez no último dia na Faculdade Direito da USP, de pé em cima da mesa.
Com participação no movimento estudantil contra a ditadura, ele escolheu naquele ano de 1975 um dos seus poemas preferidos, o Cântico Negro, de José Régio.
"Não sei por onde vou,/ Não sei para onde vou/ Sei que não vou por aí!", dizem os versos finais.
Formado, entrou no Ministério Público de São Paulo, onde foi promotor e procurador de Justiça, assim como o pai. Manteve em paralelo a paixão por história que herdou da mãe, professora.
Ruy cresceu em uma casa com mais cinco irmãos, que se juntavam a ele em brincadeiras inventivas no quintal. Ao formar sua própria família, queria que também fosse grande, e conseguiu.
Teve com Rosaly três filhos: Ruy Veridiano, Marília e Juliana. Depois, o amor transbordou para os netos.
Amava a companhia dos seus, mas também a própria. Gostava de passar alguns períodos só.
Sua autenticidade marcou não só os mais próximos. Pessoas que não o viam há anos, como amigos dos filhos e primos dos primos, relembram frases e histórias de Ruy desde a última terça-feira (2), quando ele morreu após um mal súbito.
Em sua despedida, destacavam-se duas faixas com versos que condensam diversas de suas paixões, como a poesia, as caminhadas, o céu e a vida vivida com tempo para o que importa: "Caminante no hay camino/ sino estelas en la mar".
A missa de sétimo dia ocorre nesta terça-feira (9), às 19h, na Paróquia Nossa Senhora Mãe da Igreja, no Jardim Paulista, em São Paulo.
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