Descrição de chapéu Obituário Maria do Socorro Trindade de Oliveira (1950 - 2024)

Mortes: Publicou muitos livros, inclusive com páginas em branco

Socorro Trindad escreveu sobre injustiças sociais e incentivou novos autores

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Juazeiro (BA)

Um livro com páginas em branco causou burburinho na cena cultural carioca em 1985, no período de redemocratização do Brasil após a ditadura militar. "Eu Não Tenho Palavras" (Codecri), de Socorro Trindad, deixa espaços para o leitor escrever um diário de sua experiência pessoal no período. É protesto, silêncio e esperança.

"Tinha muita gente no lançamento. Eu sabia como era o livro, e muitos chegavam em mim dizendo como ela era genial. Outros estavam espantados", lembra o primo Raimundo Brasileiro Augusto, 66, também escritor.

As obras de Socorro Trindad abordaram injustiças sociais. Entre elas o livro de contos "Cada Cabeça uma Sentença" (Ática, 1978) e o de poesias "Uma Arma para Maria" (Ponto 8, 1982).

Uma mulher idosa posa em uma sala de estar, segurando um vestido verde com uma faixa escrita Nísia Floresta. A sala está decorada com móveis de madeira e diversos objetos ornamentais
Maria do Socorro Trindade de Oliveira (1950 - 2024) - Arquivo pessoal

Maria do Socorro Trindade de Oliveira nasceu em Nísia Floresta (RN), em 1950. Foi criada em uma casa de mulheres, com a mãe Maria da Conceição, a avó Guilhermina e as tias Terezinha e Lenice.

Adolescente, foi estudar em Natal. Na escola, onde um dos professores era Câmara Cascudo, começou sua paixão pela literatura. Depois, ao entrar na faculdade de jornalismo em Fortaleza, estreou sua relação com a escrita e aos 22 anos publicou o primeiro livro. "Os Olhos do Lixo" (Jurídica, 1972) teve prólogo assinado pelo ilustre professor. "Estranha, impressionante e poderosa Socorro Trindad", definiu Cascudo.

Concluiu a formação na Universidade Federal do Rio de Janeiro, ao se mudar para a cidade para trabalhar na área. Atuou no Tribuna da Imprensa, colaborou com O Pasquim e Lampião da Esquina, do amigo Aguinaldo Silva. Também participava da cena cultural, editou o suplemento literário da Tribuna e trabalhou no MAM Rio (Museu de Arte Moderna), onde criou um laboratório criativo para autores.

Nos anos 1980, passou a lecionar na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, mas frequentou a sala de aula por pouco tempo. Logo seguiu para a Editora da UFRN, onde editou livros de autores locais e criou outro laboratório, nos moldes do anterior, para incentivar novos autores no estado.

Também chegou a trabalhar na Funarte, sob gestão de Ziraldo, durante o governo Sarney. E escrevia sempre, publicando muitos livros.

"Era muito determinada. Se dissesse que ia escrever um livro, só parava quando terminava", diz o primo.

Avessa à tecnologia, Socorro não usava computador, muito menos celular. Também não gostava de fotos. Redes sociais? Nunca.

O agravamento da perda de memória observada desde um acidente que havia sofrido há muitos anos a afastou do mundo literário. Foi morar com as tias em sua terra natal e praticamente não saía de casa.

Morreu no dia 11 de maio, aos 73 anos. Deixa o irmão Paulo, 68, e quatro sobrinhos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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