Descrição de chapéu Obituário Francisca Ferreira de França (1910 - 2024)

Mortes: Centenária, foi a brincante popular mais longeva do Brasil

Chiquinha tinha 114 anos e deu nome a uma lei que reconhece as rezadeiras como patrimônio do Rio Grande do Norte

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Juazeiro (BA)

O dom de rezar para curar as pessoas foi herdado por Chiquinha de sua mãe. A senhora de 114 anos era uma das últimas rezadeiras em atividade de que se tem notícias no Rio Grande do Norte. Atendia de crianças a adultos e até animais.

Por seu trabalho, foi homenageada dando nome à lei estadual 10.892/21. A "Lei Dona Chiquinha" reconhece as benzedeiras e suas práticas de cura religiosa como patrimônio cultural imaterial potiguar.

Já centenária, Chiquinha ainda se apresentava com pastoril, algo que começou aos 20 anos, e por isso foi considerada a brincante de cultura popular mais longeva do Brasil. Brincou muitos anos no Pastoril Estrela do Norte e no Bambelô da Alegria. Envolvia toda a família nos folguedos, puxava filhos, netos e bisnetos.

Uma mulher idosa está sentada em uma cadeira em um ambiente externo, cercada por plantas verdes. Ela usa óculos escuros e uma blusa estampada. Ao lado dela, há uma mesa decorada com um vaso branco, flores, e pequenas figuras religiosas. O fundo é composto por folhagens e flores.
Francisca Ferreira de França (1910 - 2024) - Arquivo pessoal

Chiquinha era pura energia. Além de rezadeira, foi parteira e artesã. Por causa de problemas de visão, andava sempre de óculos, mas não deixava de sair e cumprir seus compromissos.

Sua boa memória guardava rezas e ensinamentos que passou para o neto.

"Era uma pessoa alegre, sempre firme e forte. Nunca foi de se entregar à tristeza, mesmo com toda a dificuldade da nossa família. É um exemplo de vida para mim", afirma Pai Francisco, 50, neto criado por Chiquinha e que herdou o dom da reza.

Francisca Ferreira de França nasceu em 1910 no então povoado Estivas, em Extremoz (RN). Era uma casa de 14 irmãos, filhos de Antônio e Maria Joana.

Ainda em sua infância, a família mudou para São Gonçalo do Amarante, também na Grande Natal. Todos trabalharam na roça. Em um sítio da região, plantavam cana, mamona e outras culturas.

Quando criança, ia brincar na casa da avó e aproveitava o rio Potengi, que corria perto de onde morava. Os bagaços de cana, do engenho onde muitos da família trabalhavam, também acabavam como espaço de brincadeira.

Chiquinha saiu de casa na juventude, ao se casar com Pedro Pegado, que conheceu nos trabalhos de engenho. Com ele teve 14 filhos. Criou todos em uma casa de taipa com porta de palha.

O trabalho era duro para manter a família. Pescava no rio e tirava goma em casa de farinha. "Nessa época, a fome gritava no meio do mundo. Para criar uma ruma de filhos era rojão", diz o neto.

A rezadeira fazia parte de grupo de idosos, participava de eventos e praticava atividades físicas. O neto conta que a acompanhava, já com mais de 98 anos, no tumulto das campanhas políticas e folias de Carnaval.

Em seu último aniversário, em janeiro, foi organizada uma alvorada com banda saindo ao raiar do sol e presenças ilustres da cidade, como o prefeito.

Francisca Ferreira de França morreu no dia 13 de maio, após ficar internada por 15 dias com dores no estômago. Deixou cinco filhos e 24 netos, além de bisnetos e tataranetos.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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