Suspeito de planejar morte de Mãe Bernadete é preso na Bahia

Justiça decide que três denunciados pelo crime vão a júri popular; dois suspeitos seguem foragidos

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Salvador

Um dos suspeitos de planejar o assassinato da líder quilombola Bernadete Pacífico, 72, conhecida como Mãe Bernadete, foi preso na noite de terça-feira (23) no bairro de Stella Maris, em Salvador.

Ydney Carlos dos Santos, conhecido como Café, estava foragido desde novembro de 2023, quando teve a prisão decretada por suspeita de participação no crime. O responsável por sua defesa não foi localizado.

As investigações apontaram que Ydney era auxiliar direto de Marílio dos Santos, denunciado como mandante do crime. Ele teria auxiliado no planejamento do assassinato de Mãe Bernadete, morta com 25 tiros na comunidade quilombola Pitanga dos Palmares.


Mulher negra com roupas coloridas sentadas ao sol
Líder quilombola e ialorixá Bernadete Pacífico foi assassinada em agosto de 2023 - Conaq / Divulgação

A prisão preventiva foi realizada por agentes do Departamento Especializado de Investigação e Repressão ao Narcotráfico da Polícia Civil da Bahia. Também foram apreendidas uma pistola e porções de drogas com o suspeito.

Ao todo, cinco pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público do Estado da Bahia por suspeita de participação no crime. Um sexto suspeito, que guardou as armas utilizadas no crime e deu apoio para fuga de um dos atiradores, foi indiciado em outro inquérito.

Arielson da Conceição Santos, Josevan Dionísio dos Santos, Marílio dos Santos, Ydney Carlos dos Santos de Jesus, Sérgio Ferreira de Jesus foram denunciados por suspeita de homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, com uso de arma de fogo e sem chance de defesa da vítima. A Folha ainda não conseguiu contato com as defesas dos denunciados.

Arielson e Sérgio já haviam sido presos pela Polícia Civil em setembro de 2023. Josevan e Marílio ainda estão foragidos.

Na segunda-feira (22), a Justiça acatou o pedido do Ministério Público e decidiu que Arielson da Conceição Santos, Marílio dos Santos e Sérgio Ferreira de Jesus vão a júri popular.

A investigação apontou que Mãe Bernadete lutava contra a instalação de um bar chamado Pitanga Point, erguido por traficantes para realização de festas. A barraca estava sendo construída nas margens de uma represa em uma área de preservação permanente.

De acordo com os investigadores, Sérgio Ferreira enviou áudios aos líderes do tráfico, informando que a líder quilombola teria acionado a polícia para impedir instalação do bar dentro da área de preservação.

Depois disso, apontam os investigadores, a morte da líder quilombola teria sido ordenada por Marílio dos Santos com o apoio de Ydney Carlos dos Santos de Jesus, ambos apontados como líderes do tráfico de drogas na região do quilombo Pitanga dos Palmares.

O crime teria sido executado por Arielson da Conceição Santos e Josevan Dionísio dos Santos, ambos ligados à mesma facção criminosa. Eles chegaram na comunidade a pé, entraram na casa da ialorixá e a mataram com 25 tiros. Também roubaram cinco telefones celulares que estavam no imóvel.

Bernadete Pacífico foi assassinada em 17 de agosto na casa que funcionava como sede da associação de quilombolas em Simões Filho.

Ela era coordenadora nacional da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos) e liderava o Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho. Trabalhava havia anos denunciando a violência contra a população quilombola e as tentativas de tomada das terras.

Após o assassinato de seu filho Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, em 2017, a luta contra ataques a terreiros e assassinatos de lideranças religiosas de matriz africana se intensificou. Conhecido como Binho do Quilombo, ele era um dos líderes quilombolas mais respeitados da Bahia.

Outro filho de Mãe Bernadete, Jurandir Wellington Pacífico, afirmou que ela recebia ameaças havia pelo menos seis anos. Ele disse acreditar que a mãe foi vítima de um crime de mando.

A líder quilombola estava junto dos netos quando dois homens chegaram usando capacetes e abordaram a família. Os netos foram trancados em um quarto, e Mãe Bernadete foi morta.

Ela já havia recebido ameaças e fazia parte de um programa de proteção a defensores de direitos humanos do Governo na Bahia. Câmeras foram instaladas na sua casa e no entorno, e policiais faziam visitas periódicas ao local, mas não havia uma vigilância constante.

Em julho, ao lado de outras líderes quilombolas, ela participou de um encontro com a presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministra Rosa Weber, na comunidade Quingoma, na cidade de Lauro de Freitas. Na ocasião, Mãe Bernadete afirmou que era ameaçada por fazendeiros.

Mãe Bernadete iniciou-se aos 23 anos no terreiro Ilê Axé Kalé Bokum, em Salvador, por meio do babalorixá –título de maior autoridade no candomblé– Severiano Santana Porto (1894 -1972).

Para além de ser porta-voz e representante das demandas políticas do quilombo, Bernadete exercia um papel de cuidado direto e pessoal com a comunidade.

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