Escolas já oferecem orientação sexual no ensino infantil
Félix, 9, e Dante, 7, surpreenderam a mãe recentemente com perguntas sobre homossexualidade. "Eles questionavam, inclusive, detalhes sobre o ato sexual", conta Isabel Maule, 43.
Curiosidades sobre sexo, como a dos dois irmãos, têm surgido mais cedo na infância, dizem educadores.
Para responder a isso, algumas escolas oferecem orientação sexual já no ensino infantil (com crianças de até cinco anos), de modo informal _com conversas ou leitura de livros sobre o tema.
No começo do ensino fundamental, já abordam a questão em aulas, que falam sobre o corpo e, perto dos 12 anos, sobre contraceptivos.
"A sexualidade tem se manifestado mais precocemente ao modo adulto, com interesse no contato com outra pessoa, beijo na boca e sexualidade genital", diz a psicóloga Rosely Sayão.
Educadores relatam casos, contados por pais ou professores, de crianças que aos sete anos simulam cenas de sexo no recreio. De outras que aos nove colocam bonecos em posições sexuais. E, aos 11, já falam em namorar sério, com beijo na boca.
Para Felisbela Soares de Holanda, coordenadora do Ambulatório da Infância e Adolescência da Unifesp, isso acontece por uma questão hormonal (as meninas estão menstruando mais cedo) e comportamental. "A criança hoje está muito exposta a conteúdos sexuais em filmes, TV, seriados, internet."
DÚVIDAS
A Suíço-Brasileira, na zona sul de SP, capacitou os professores do ensino infantil por dois anos. "Na educação infantil não há um momento específico para se abordar o tema. O professor precisa fazer intervenções logo que os alunos trazem as questões", diz Birgit Mobus, psicopedagoga da escola.
Na opinião dos educadores, todas as crianças manifestam dúvidas, mas nem sempre é fácil notá-las, porque elas não aparecem só por meio de perguntas, afirma o psicólogo Antônio Carlos Egypto, do GTPOs (Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual).
"Às vezes, a criança está manifestando um monte de coisas e o educador não vê", diz. "Uma vez, um professor pediu que os alunos falassem sobre peças de roupas que conheciam. Uma disse camisinha. É hora de parar e conversar sobre o assunto, porque há uma curiosidade."
Egypto já orientou o trabalho de escolas como Pio 12, Porto Seguro e Santa Cruz. Mas diz que muitas escolas ainda resistem em abordar o assunto."Há muito medo da reação dos pais", afirma.
"No começo ficamos preocupados se as aulas não ajudariam a incentivar [o interesse por sexo]", conta Luiz Carlos dos Santos, 42, pai de uma menina de 9 e de um menino de 12, que têm orientação sexual na escola desde os oito anos de idade.
Mas ele conta que, antes de iniciar as atividades, a escola também orientou pais.
Ricardo Belli, 50, pai de Artur, 8, que estuda no Gracinha (zona oeste), também recebeu dicas da escola. "Fomos orientados a responder exatamente ao perguntado, sem esticar o assunto porque ele pode não entender. Lidamos com naturalidade para que não se transforme em tabu para ele", diz.
Livros sobre o assunto que podem ser lidos com as crianças:
- "De Onde Viemos?", Peter de Mayle (Nobel)
- "Mamãe Botou Um Ovo!", de Babette Cole (Ática)
- "Mamãe, Como Eu Nasci?", Marcos Ribeiro (Salamandra)
- "Aparelho Sexual e Cia. - Um guia inusitado para crianças descoladas", Zep (Companhia das Letras)
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
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