A última “fake news” que Matheus Sawaya, 17, teve de desmentir foi há pouco mais de uma semana.
“Recebi no grupo da minha família no WhatsApp a notícia de que o Brasil passaria pelo inverno mais frio do século. Logo depois, vi que não era bem assim”, conta o estudante, já craque em desconfiar do conteúdo que recebe via redes sociais.
Em uma época em que as notícias falsas pipocam nos celulares com alcance e velocidade recordes, os colégios têm colocado o tema no currículo para evitar que os alunos sejam presas fáceis.
“Essa é uma geração que está constantemente conectada às redes sociais, e é também a partir delas que os alunos se informam. É muito pouco usual um estudante acessar as fontes tradicionais de informação, como jornais e revistas. Por isso, está mais suscetível às ‘fake news’”, afirma Gabriele Schumm, professora de produção textual no Colégio Lourenço Castanho.
No Colégio Móbile, onde Matheus cursa o terceiro ano do ensino médio, o assunto é abordado durante toda esta etapa de ensino. Para ele, o bacana é não somente aprender a identificar as “fake news”, mas, principalmente, “entender as consequências do fenômeno, explorar sua dimensão, como na eleição de Donald Trump nos EUA e, provavelmente, nas eleições do Brasil”.
O aprendizado se dá de forma interdisciplinar e ganha ênfase nas aulas de ética e cidadania, em que os estudantes aprendem a analisar fenômenos geopolíticos a partir de pressupostos científicos.
Roberto Candelori, que é professor da disciplina, explica que trabalha com atualidades em política nacional e internacional “para que os alunos tenham capacidade crítica de avaliar se são procedentes as notícias que encontram no dia a dia”.
Segundo o professor, quanto maior o repertório do aluno, maior o instrumental para ele perceber o que é uma informação de mentira. “Mas não há garantias de que alguém possa estar imune a notícias falsas”, acrescenta Candelori.
Além de fugir das “fake news”, o vestibulando também precisa driblar conteúdos de diferentes vieses ideológicos disfarçados como informação —em grande destaque neste momento de polarização política do país.
Cada pessoa enxerga o mundo a partir de uma perspectiva. Cabe ao professor ter a clareza de que não está lá para formar pessoas parecidas com ele, “mas para oferecer possibilidades que ajudem o aluno a fazer as melhores escolhas”, diz a pedagoga Denise Rampazzo da Silva, que forma professores do Instituto Singularidades.
”Isso significa instigar ao exercício crítico e reflexivo.”
As aulas de história do Colégio Ítaca propõem “a construção de conhecimento a partir dos controversos debates produzidos pela historiografia recente”, diz a professora da disciplina, Cecília Jorquera. Para ela, toda relação pedagógica “é necessariamente democrática, na qual e pela qual se correm riscos, se somam contradições, se estabelecem diálogos. Ao professor, cabe apresentar o leque de possibilidades, autores, referências e provocar o debate.”
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