Pela quinta vez desde o início do governo Jair Bolsonaro (sem partido), a Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação fica sem titular. A secretária Izabel Lima Pessoa pediu demissão nesta segunda-feira (29).
Pessoa estava no cargo desde agosto de 2020, quando seu nome foi anunciado pelo ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro, assim que ele assumiu a pasta.
A mudança abre uma disputa com a ala ideológica que atua dentro do MEC, liderada pelo secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim. Aluno do escritor Olavo de Carvalho, Nadalim trabalhava internamente para enfraquecer Pessoa no cargo.
O pedido de demissão foi atribuído a problemas pessoais —a secretária perdeu recentemente o marido para a Covid-19. Interlocutores no MEC dizem, no entanto, que o drama pessoal apenas catalisou o clima de disputa dentro da pasta.
Houve atritos recentes relacionados ao livro didático, à manutenção de apoio para implementação da Base Nacional Comum Curricular e à transferência para o MEC das discussões para reformular o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), sempre calculado pelo Inep.
No livro didático, a equipe de Nadalim conseguiu alterar um edital, que tirou tópicos como violência contra a mulher dos critérios de exclusão de obras. Garantiu ainda a nomeação para coordenação da área de uma professora alinhada ao Escola Sem Partido, como a Folha revelou.
A saída de Ernesto Araújo do Itamaraty também deu combustível para a ala ideológica em busca de espaço no governo. Araújo é do grupo de olavistas.
A educação básica foi alçada a prioridade por Bolsonaro. Na prática, sofre com reduções orçamentárias e troca de equipes.
Pessoa foi a quinta a ocupar o cargo nesse governo. Isso dá uma média de menos de seis meses de duração no cargo sob este governo.
A chegada de Pessoa à secretaria fora bem recebido pelo setor educacional. Tanto porque se tratava de uma servidora de carreira quanto por substituir Ilona Becskeházy, titular anterior da subpasta e que não consolidou uma boa relação com as Secretarias de Educação.
A atuação de Pessoa na secretaria, entretanto, não era vista fora do MEC com o mesmo entusiasmo de quando ela chegou. Interlocutores dizem que seu perfil discreto e de pouco enfrentamento dificultavam a definição dos rumos da política nacional.
Com ela no cargo, o MEC não assumiu papel relevante no enfrentamento dos reflexos da pandemia na educação.
Por outro lado, foi sob sua liderança que o MEC desenhou um projeto para os anos finais do ensino fundamental, conforme revelado pela Folha. O programa, elogiado por especialistas, estava previsto para ser lançado ainda neste mês, mas ainda não há data definida.
Um dos cotados para o cargo é o secretário-adjunto da secretaria, Mauro Luiz Rabelo. Ele é o único remanescente do governo Michel Temer (MDB) a circular no alto escalão da pasta.
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