Primeira faculdade Waldorf do Brasil ganha sede ao redor de pé de manga

Prédio na zona sul de SP abrigará a formação de professores alinhados com a linha pedagógica que vem ganhando espaço

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São Paulo

A pedagogia Waldorf, segundo a qual as crianças devem estar longe de celulares e computadores e perto da natureza e de atividades artísticas, vem crescendo nestes tempos de escolas tomadas por tecnologia.

Em torno de um pé de manga do Alto da Boa Vista, na zona sul de São Paulo, está em construção a sede da primeira faculdade Waldorf do Brasil, voltada para a formação de professores. O prédio, uma estrutura metálica de 2.700 m2 toda envidraçada, coloca docentes e alunos em contato direto com a mangueira, outras plantas do terreno e, ao mesmo tempo, com o movimento da rua.

Além das paredes em vidro, a obra, que será inaugurada no segundo semestre de 2023, evoca a modernidade, por meio do uso de concreto aparente, e o aconchego, a partir de acabamentos em madeira. "É um projeto que contempla o nosso diálogo com a natureza e também com o bairro, com a cidade, com aquilo que a sociedade precisa", afirma à Folha Melanie Mangel Guerra, diretora da Faculdade Rudolf Steiner.

Imagem do escritório Biselli Katchborian Arquitetos mostra o pátio da nova sede da faculdade Waldorf de pedagogia, a Rudolf Steiner - Divulgação

No alto do prédio, em um bloco que se projeta no sentido da rua, ficará a biblioteca. Os livros estarão, portanto, acima de tudo e em destaque, visível para quem passa pelo local. O projeto é do escritório Biselli Katchborian Arquitetos, escolhido por meio de um concurso.

A faculdade foi autorizada pelo Ministério da Educação em 2017 e abriu sua primeira turma em 2018, utilizando parte do espaço de um terreno de 16.600 m2 onde funciona a Escola Rudolf Steiner, a primeira Waldorf do Brasil, inaugurada na década de 1950.

Antes da autorização do MEC, a instituição formava professores por meio de cursos livres, desde 1974, e de um magistério Waldorf, a partir de 1997.

Rudolf Steiner, que dá nome à escola e à faculdade, foi um filósofo austríaco (1861-1925), criador da antroposofia, para a qual o ser humano deve ser compreendido como um todo, em seus aspectos físicos e emocionais. É nessa doutrina que se baseia a pedagogia Waldorf.

Esse princípio passou a interessar escolas de diferentes linhas pedagógicas nos últimos anos. O interesse cresceu especialmente a partir das novas exigências da BNCC, a Base Nacional Comum Curricular. O documento, elaborado entre 2015 e 2018 pelo Ministério da Educação, por governos estaduais, municipais e por representantes da sociedade civil, determina que as escolas proporcionem o desenvolvimento das habilidades socioemocionais dos estudantes.

A importância do contato com a natureza e do movimento corporal também se evidenciou diante dos prejuízos causados pelo confinamento e pelo uso excessivo de tecnologia por crianças e adolescentes. Assim, escolas das mais variadas metodologias passaram a se interessar por adotar conceitos da Waldorf, conta Melanie Guerra.

"Todas essas necessidades, que sempre existiram, saíram debaixo do tapete com a pandemia", diz ela, que ressalta que a Faculdade Rudolf Steiner forma professores para atuar nas variadas correntes educacionais. Para dar aulas em escolas Waldorf, não basta ser diplomado em pedagogia, é preciso fazer um curso específico de pós-graduação.

"Queremos colaborar com a educação brasileira, e não apenas com as escolas Waldorf", diz a educadora. "É nossa intenção formar bons profissionais para trabalhar em escolas públicas, especialmente."

A primeira turma da Rudolf Steiner se formou no ano passado e, segundo Melanie, há egressos atuando em escolas públicas, inclusive na EJA (Educação de Jovens e Adultos), em CCAs (Centros para a Crianças e Adolescentes, da prefeitura) e na Escola da Resiliência, uma Waldorf gratuita voltada a moradores do Jardim Ângela, em São Paulo.

Grafite feito por estudante em tapume da obra da nova sede da faculdade Waldorf de pedagogia, a Rudolf Steiner, no Alto da Boa Vista, zona sul de São Paulo, que será inaugurada em agosto de 2023 - Pipo Gialluisi/Divulgação

A graduação da Rudolf Steiner é presencial e oferece anualmente 50 vagas, com mensalidade de R$ 1.690. A pós-graduação, procurada tanto por profissionais que trabalham em escolas de outras linhas pedagógicas como por aqueles que querem dar aulas em escolas Waldorf, tem 20 cursos, ministrados de forma híbrida (60% presencial e 40% com aulas remotas ao vivo), com mensalidade média de R$ 1.000.

A procura de estabelecimentos de ensino para obter o selo da Federação das Escolas Waldorf no Brasil, ou seja, para se filiar oficialmente a essa pedagogia, cresceu nos últimos anos. Quando a instituição foi criada, há quase 25 anos, eram apenas nove escolas Waldorf oficiais no país. Antes da pandemia, o número se aproximava de cem, e agora ultrapassa 200.

A pedagogia Waldorf foi inaugurada por Rudolf Steiner em 1919, em meio à devastação da Primeira Guerra Mundial. O filósofo fundou uma escola para os filhos dos trabalhadores da Waldorf-Astoria, uma fábrica de cigarros de em Stuttgart, na Alemanha. Em um ambiente de caos, propôs a reconstrução por meio de uma educação acolhedora, voltada a desenvolver a autonomia e a responsabilidade social.

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