'Escolas têm que dar à convivência o mesmo peso de todas as matérias', diz pesquisadora de ataques

Especialista diz que tragédias como a desta segunda (23), em Sapopemba, mostram que a educação não pode mais ficar olhando só para as notas dos alunos

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São Paulo

O ataque à Escola Estadual Sapopemba, na zona leste de São Paulo, nesta segunda-feira (23), em que um estudante de 16 anos matou a tiros uma colega e deixou outros dois feridos, assim como outros crimes semelhantes que vêm ocorrendo no Brasil, mostra que "passou da hora de as escolas perceberem que a convivência precisa ser trabalhada no currículo com a mesma relevância que todas as matérias".

O alerta é de Flávia Vivaldi, doutora em educação, mestre em psicologia educacional e integrante do grupo de pesquisadores da Unicamp e da Unesp que estuda ataques a escolas (Gepem). Em seu doutorado, Flávia estudou como implementar programas para melhorar a convivência no ambiente escolar.

Nos últimos dias, ela vinha atuando no acolhimento à comunidade da Escola Profissional Dom Bosco, de Poços de Caldas (MG), na qual um ex-aluno de 14 anos realizou um ataque a faca, deixando uma jovem de 17 anos morta e um menino e uma menina de 13 anos gravemente feridos.

Aluno efetuou disparos na Escola Estadual Sapopemba, na zona leste de São Paulo, na manhã desta segunda (23) - Reprodução/TV Globo

"As escolas e o poder público não podem mais ficar olhando só para o desempenho dos alunos, para as notas, para o Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica; que mede o desempenho das escolas por exames e pela aprovação dos alunos]", afirma.

Flávia diz que a educação costuma jogar seu foco apenas no ensino das disciplinas tradicionais e se esquece de que a escola é um ambiente de diversidade. "Isso traz conflitos, naturalmente, mas precisa que ser visto como uma oportunidade para se trabalhar a convivência de forma positiva. É algo que os alunos precisam aprender para a vida."

Segundo ela, as políticas públicas não estão voltadas ao propósito de trabalhar com a convivência na educação. "As escolas não podem mais esperar pela ação dos governos. O poder público tem que agir, mas, enquanto isso não acontece, cada escola tem que buscar maneiras de desenvolver esse trabalho."

As escolas não podem mais esperar pela ação dos governos. O poder público tem que agir, mas, enquanto isso não acontece, cada escola tem que buscar maneiras de desenvolver esse trabalho

Flávia Vivaldi

doutora em educação, mestre em psicologia educacional

Flávia afirma que é preciso identificar os diferentes tipos de conflito nas escolas e lembrar que os agressores, normalmente, são ex-alunos ou alunos em sofrimento. "Não dá para deixar ninguém para trás. Esses estudantes precisam ser vistos, acolhidos."

Para a pesquisadora, apesar de estarmos vivendo um momento de urgência e medo, não podemos pensar que a solução para esse tipo de violência será policial. "Esses meninos saem de casa para matar e morrer. Dificilmente serão contidos", afirma. "Soluções como detector de metais e policiais armados tendem a ser ineficientes. O agressor faz parte daquela comunidade, saberá como agir e não tem nada a perder."

Ela ressalta que é preciso reforçar a ronda policial no entorno escolar, melhorar a sensação de segurança, especialmente em momentos de tensão como o atual.

"Mas a escola só conseguirá reforçar a sua legitimidade e desempenhar melhor o seu papel, inclusive na prevenção da violência, se estiver aberta à comunidade", disse.

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