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Renata Truzzi

Todos podemos lucrar com a preservação da natureza e com a diversidade

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O que a lógica dos negócios de impacto social e ambiental tem a ver com as recentes e frequentes catástrofes brasileiras como Brumadinho, Mariana e Arraial do Cabo, os escândalos dos agrotóxicos liberados e, há mais tempo, se lembram bem, os casos não raros de vazamento de petróleo no nosso lindo oceano, de apagões, de seca, de incêndios de grandes proporções?

A lógica com a qual todos nós, empreendedores sociais, investidores de impacto e "venture philanthropists", estamos tentando trabalhar é a de entendermos o homem e a natureza como um todo. Somos todos parte de algo grandioso que é a natureza. Que, se observarmos, bem é perfeita, equilibrada, inovadora e completa. Ou seja, se não atrapalharmos muito, tudo funciona perfeita e grandiosamente.

Ao tentarmos entender o funcionamento da natureza, sua lógica e, mais do que isso, visualizar que somos parte desse todo, a lógica dos negócios muda. Muda porque não faz sentido priorizarmos o lado econômico dos negócios se ele destrói a natureza da qual somos parte, significando no longo prazo prejuízo a milhões de vidas humanas e animais. Esse prejuízo pode vir de inúmeras formas —fome, seca, desemprego, doenças, morte.

Vivemos num tempo no qual não podemos mais nos limitar ao viés econômico individual e egoísta do empreendedor ou do acionista. Já sabemos que isso não funcionará mais no futuro e, cá para nós, essa é uma excelente notícia.

 

Não estamos falando apenas de fiscalização e punição aos casos mencionados acima, mas sim de inverter essa lógica. De não se aprovar nenhum investimento ou legalização jurídica de uma entidade que não tenha de antemão pensado e resolvido os impactos sociais e ambientais do seu modelo de negócios.

Estamos dizendo que, além de se punir os modelos que atualmente causam prejuízos para a sociedade e para o ambiente, temos que impedir que os novos modelos entrem nessa mesma lógica antiquada, na qual o único objetivo é o lucro, o capital financeiro.

E que, quando se falava de impacto social e ambiental "no passado", era para minimizar os prejuízos por meio de multas e indenizações. Lógica antiga, né? Ultrapassada. Mas infelizmente tão presente ainda em nossas vidas.

Estamos dizendo que, além de punirmos profundamente aqueles que se utilizam de trabalho escravo em suas produções milionárias, temos que cuidar para que toda e qualquer instituição do nosso planeta (ou do nosso país, para ficar mais palpável) garanta um modelo de empregabilidade com base em trabalho e renda dignos, comércio justo e condições de trabalho adequadas ao ofício.

Sim, porque emprego digno não se trata apenas de salários dignos, mas também uma série de outras questões. Assim acabaremos com as lógicas (também tão lucrativas para poucos) dos atravessadores, do trabalho análogo ao escravo, da remuneração abusiva, do abuso de poder e da insalubridade.

Estamos dizendo que, além de punirmos aqueles que desacatam o próximo por razões desumanas, tais como a homofobia, o racismo, o machismo, a xenofobia, a discriminação em geral, temos que garantir que todas as pessoas tenham os mesmos direitos e acessos a oportunidades.

E que os negócios, em geral, são uma excelente ferramenta para provar que é possível, mais humano, mais produtivo e mais feliz, trabalhar em ambientes mais diversos. Que diversidade é rica e também lucrativa, se preferir olhar dessa forma.

Estamos dizendo que, além de punirmos severamente a ponto de prejudicar financeira e moralmente os culpados de tragédias e/ou  crimes ambientais, temos que impedir que novos modelos que serão igualmente prejudiciais surjam.

Ou seja, fazer com que todos os negócios existentes estejam por estatuto comprometidos com a minimização do seu impacto ambiental, seja via modelos de compensação, reflorestamento ou, melhor ainda, trazendo a preservação do ambiente para o centro do seu modelo de negócios. De forma que, quanto mais impacto positivo você gera no meio ambiente, mais lucrativa será sua empresa.

Não se trata de posição política, não se trata de competição, mas sim de nos vermos como um todo. Se entendermos isso, não faz sentido o meu sucesso perante a tragédia ou a infelicidade do outro. Se entendermos isso, não daremos tanta importância apenas ao lucro financeiro, mas sim a toda complexidade dos modelos.

Tentaremos, quem sabe, medir o nosso lucro ambiental e o nosso lucro social. Além dos lucros social e ambiental dos países. Se conseguirmos ter e disseminar essa visão, todo o resto passará a fluir mais NATURALmente rumo às soluções que precisamos. 

Com mais de 20 anos de estrada estudando, apoiando e investindo em negócios de impacto social e ambiental, tenho certeza que nós temos todas as respostas, todos os caminhos a trilhar daqui em diante rumo a um mundo melhor, mais saudável, mais humano, mais verde e mais justo para todos.

As respostas que ainda não temos, certamente podemos encontrar na natureza. Ou seja, temos também essas respostas, basta procurá-las.

Sem confrontar, sem provocar e de forma não-violenta. 

Vamos conhecer e viver essa nova lógica.

Nova lógica de viver, de estudar, de educar, de amar, de respeitar e, por que não, de fazer negócios.

Só precisamos mesmo, é contar para todo mundo! 

Renata Truzzi

Diretora Nacional da Nesst, organização internacional que apoia negócios sociais que geram emprego e renda dignos para comunidades marginalizadas, é responsável pelo investimento e desenvolvimento de negócios de impacto social no Brasil e atividades de fortalecimento do setor

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