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Nicola Gryczka

O poder da coletividade na construção de um novo futuro

Insights e ideias compartilhadas no Fórum de Impacto Coletivo, evento online realizado em maio de 2020

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Nicola Gryczka

Empreendedora social nascida na Polônia e radicada no Brasil. É cofundadora do Movimento de Gastronomia Social e CEO da Gastromotiva, organização vencedora do Prêmio Empreendedor Social de Futuro 2009.

Eu tive a oportunidade de participar do Fórum anual de Impacto Coletivo, realizado em maio. Asssim como inúmeros outros eventos, passou a ser online em razão da pandemia do novo coronavírus.

Senti uma mistura de sentimentos de imediato, mas conclui a jornada do fórum não apenas inspirada, mas também fascinada com as possibilidades de criar conexões e experimentar um sentimento de pertencimento online.

O evento foi uma oportunidade de nos aprofundarmos na metodologia Impacto Coletivo (IC), que adotamos há um ano para guiar o Movimento da Gastronomia Social (MGS), além de conhecer novas dimensões e boas práticas de captação de recursos.

Participantes de jornada de aprendizagem do Movimento da Gastronomia Social
Participantes de jornada de aprendizagem do Movimento da Gastronomia Social - Eduardo Almeida/Divulgação

E do que se trata Impacto Coletivo (IC)? De forma estruturada, ele aproxima pessoas para o alcance de mudanças sociais.

Trata-se de uma metodologia que resulta do compromisso de um grupo de atores de diferentes setores reunidos por uma agenda comum e alinhados em resolver um problema social específico valendo-se de uma forma estruturada de colaboração.

A partir desse acordo coletivo, estabelece-se uma forma de mensuração compartilhada, busca-se por atividades que reforcem umas às outras e encoraja-se a comunicação contínua.

Por trás disso, há uma organização estruturante, a coluna cervical do movimento, que oferece estrutura para fortalecer o encaminhamento e a coordenação das ações rumo ao objetivo comum declarado.

Em momentos complexos, como o que vivemos, modelos como o do Impacto Coletivo são importantes. Tendo adotado este método há um ano, o Movimento da Gastronomia Social acredita no poder da colaboração e em sua potência de trocas e conexões.

Verdade é que muitas organizações estão trabalhando isoladas e desconectadas umas das outras. O MGS é uma rede global de comunidades interconectadas que usam o poder da comida como uma ferramenta para mudança social e pretende reunir todas essas iniciativas globais e intensificar seu impacto local.

Nesta edição do Collective Impact Forum, ficou mais evidente do que nunca que antigos modelos de liderança estão obsoletos e que precisamos de novos entusiastas no sistema, alterando as narrativas, aproximando diferentes stakeholders que criem juntos soluções para questões complexas.

Tendemos a desvalorizar a diferença ao invés de valorizá-la. As respostas não pertencem a um único grupo ou às partes interessadas. Então, é fundamental aceitar que não temos respostas e buscarmos soluções juntos.

Agilidade é chave nesse novo e complexo espaço. Um outro entendimento comum deste encontro foi o de que líderes que miram no futuro precisam focar em soluções e crescimento. Precisamos começar a mirar nos pontos positivos e nas aspirações ao invés de focar apenas nos problemas.

Imagine um futuro onde o bom alimento é um bem comum e onde ninguém é deixado para trás. Vamos abandonar a ideia de consertar, restaurar ou reparar, para então criar e construir juntos um novo futuro.

Para mim que trabalho com filantropia há anos, um outro insight inspirador foi conhecer o conceito de doação participativa. Nesse modelo, quando se trata de financiamento, os integrantes de uma sociedade tornam-se os heróis de suas próprias histórias.

Quem melhor para criar soluções necessárias ou decidir onde os investimentos deveriam ser aplicados que a própria comunidade? Do contrário os investimentos permanecem e perpetuam-se nos mesmos círculos.

A filantropia precisa estar centrada nas comunidades, por isso nós precisamos envolvê-las no desenvolvimento de uma visão compartilhada.

O momento é de criar relações de confiança para além dos nossos círculos e romper barreiras.
Durante a pandemia do novo coronavírus no Brasil, a desconfiança diminuiu graças a esse senso de urgência. Montantes de doação, nunca antes vistos foram mobilizados e ultrapassaram a marca de R$ 5 bilhões neste período.

Que tal darmos o passo seguinte na direção da real doação participativa e liderarmos pelo exemplo aqui no Brasil?

Para Lauren Smith, co-CEO do FSG, uma porta foi levemente aberta, vamos então aproveitar e escancará-la ainda mais agora!

A medida em que as lacunas ficam mais expostas, temos a oportunidade de reconstruir nossos sistemas. E convenhamos que podemos e devemos fazer muito melhor do que apenas voltar ao normal.

Em tempos de pandemia, temos visto não apenas esforços coletivos emergirem em nossas sociedades, mas também uma demanda crescente por colaboração e desejo de explorar a inteligência coletiva. É o que pode, de fato, transformar o sistema pelo qual navegamos.

Uma nova era demanda uma nova compreensão. Que possamos nos mover de um sistema egóico para um sistema ecológico. Do ego, para o eco.

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