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A potência feminina de empreender com impacto social no setor da construção

Empreendedoras sociais contribuem para mudar o cenário de escassez de dignidade para abundância de soluções

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Maure Pessanha

Empreendedora e presidente do conselho da Artemisia, organização pioneira no fomento e na disseminação de negócios de impacto social no Brasil

Empreender constitui um enorme desafio para qualquer pessoa, sobretudo no contexto político-econômico nacional. Para as mulheres, em especial, ter o próprio negócio se torna uma verdadeira prova de resistência; uma gincana.

Uma pesquisa conduzida pela Rede Mulher Empreendedora e pelo Instituto Locomotiva apontou que os impactos econômicos gerados pela pandemia reforçaram antigas dificuldades para o empreendedorismo feminino. Uma delas é o acesso ao crédito.

O levantamento mostrou que, entre 1.165 entrevistadas, 39% reportaram a interrupção das atividades, e 47%, embora permaneçam com empresas abertas, sofrem os impactos negativos.

Entre inúmeras dificuldades, destaco outra barreira quase invisível: a resistência cultural de alguns setores à liderança feminina. Um comportamento que está muito associado ao machismo estrutural, que tem sido combatido com potência e competência pelas empreendedoras.

A construção civil, um setor conhecido por ser reduto masculino, é um dos que resistem à participação feminina. Resistência, aliás, que tem sido vencida por empreendedoras de impacto social que têm transformado a forma de fazer negócios no setor.

Há mais de uma década, a Artemisia passou a estudar o setor da habitação e a liderar um movimento que enxerga a moradia como faísca para a transformação social.

Com essa premissa propositiva de mudar o cenário de escassez de dignidade para abundância de soluções, a organização reuniu parceiros em uma coalizão que já apoiou mais de 80 negócios no Lab Habitação: Inovação e Moradia, que seleciona e acelera os negócios mais promissores desenvolvidos por uma nova geração de empreendedores dispostos a combater o problema da moradia em diferentes vertentes.

E pela iniciativa e por outros programas da Artemisia passaram muitas empreendedoras talentosas que têm em comum um firme propósito social.

Fundadoras do Se vira, Mulher, Thaís Nobre e Edna Braga são exemplos dessa potência. Elas criaram um negócio de impacto social que foca na capacitação feminina para atividades da construção civil.

A empresa apresenta uma solução baseada em minicursos para o público feminino –como marcenaria, elétrica, hidráulica, jardinagem, pintura e papel de parede, revestimentos de parede e piso, e mecânica automotiva–, com conteúdos básicos, técnicos e práticos de reforma e manutenção.

Desenhado para oferecer uma experiência acolhedora e de segurança, o negócio desperta a autoconfiança e empodera as alunas. A escola funciona em São Paulo, com diversos cursos, e atende a população feminina em situação de vulnerabilidade econômica com vagas subsidiadas por meio de parcerias com empresas e organizações.

Um segundo negócio de impacto social que destaco é o Arquitetos da Vila, que atua para combater o problema da inadequação de moradias no Aglomerado da Serra, maior favela de Belo Horizonte, que conta com aproximadamente 70 mil habitantes.

A empresa mineira, fundada por Wanda Foresti e o sócio Lucas Jório, realiza reformas com qualidade, preço acessível, possibilidade de financiamento e prazo adequado. O negócio responde à enorme demanda brasileira por reformas habitacionais –voltadas a reduzir o déficit habitacional qualitativo à medida que fornece mão de obra qualificada, material de construção, assessoria técnica e crédito.

A arquiteta Wanda Foresti, do projeto Arquitetos da Vila, uma das iniciativas que receberam aporte do Funda Volta Por Cima
A arquiteta Wanda Foresti, do projeto Arquitetos da Vila, uma das iniciativas que receberam aporte do Funda Volta Por Cima - Divulgação

Em Pernambuco, destaco a Dona Obra, fundada por Giuliana Lobo e Denise Durey, que atua com a venda direta de kits de reforma para as classes C e D das comunidades do Recife.

Em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, uma das empreendedoras que têm rompido barreiras é a engenheira civil Evelin Mello, fundadora da Digna Engenharia Social, que faz reformas em habitações localizadas em regiões periféricas. Com a atuação, reduz condições de insalubridade, promove saúde e amplia o acesso da população de menor renda a reformas profissionais.

A motivação veio da própria experiência da empreendedora. Por ser moradora de periferia e estudar a adoção de técnicas alternativas para a restauração de habitações de pessoas em situação de risco social, pôde desenvolver uma solução de reforma estrutural, cujo orçamento é flexibilizado de acordo com a realidade do cliente.

O modelo de receita é baseado na venda direta do serviço, tendo 30% de lucro sob o valor da reforma. As formas podem ser parceladas no cartão de crédito ou feitas com entrada de 50% e saldo em até 10 vezes no boleto. Até o momento, o negócio já realizou 110 reformas.

Em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, a startup Diosa endereça o desafio da empregabilidade feminina. Fundada há dois anos por Maira Peres e Larissa Blessmann, a empresa é um marketplace online que conduz a intermediação de serviços de reformas residenciais e consertos feitos por mulheres.

Na prática, amplia as chances de aumento de renda feminina, promove possibilidades de desenvolvimento para prestadoras de serviços, além de trazer mais opções para a contratação desse tipo de serviço. Maira conta que a motivação para desenvolver o negócio de impacto social veio de uma experiência ruim ao contratar um profissional homem.

Com a Diosa, mulheres podem acessar uma série de profissionais para manutenção geral em suas residências e se sentirem seguras. Além disso, o impacto social da empregabilidade é incrível.

Neste Dia Internacional da Mulher, agradeço e celebro essa potência feminina que tanto tem contribuído para o crescimento do ecossistema de negócios de impacto social no Brasil. Parabéns, mulheres!

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