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Jogos de tabuleiro se tornam virtuais para ensinar educação financeira

Instituto Brasil Solidário adapta modelo de aprendizagem escolar e capacita professores na pandemia

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São Paulo

Tabuleiro no chão, mãozinhas embalando os dados, uma criança segurando o fôlego enquanto outra move o peão pelas casinhas. A gritaria no pátio do colégio com estudantes fazendo cálculos e se divertindo com o jogo de educação financeira ainda não pode ser ouvida de novo.

Na pandemia, é pela educação a distância que atua agora o Instituto Brasil Solidário (IBS), criador dos jogos educativos que familiarizam alunos com as práticas de poupar e investir.

A versão online do jogo “Piquenique” ensina conceitos de economia doméstica a partir de tomadas de decisão no dia a dia.

“Falamos de alimentação saudável, de um pneu que fura, conta de luz, compromissos que farão parte da vida e é bom aprender desde cedo”, explica Luis Salvatore, presidente do IBS, fundado por ele em 1998.

O jogo faz parte do projeto de educação financeira oferecido a mais de 650 educadores em 84 municípios brasileiros. Além do resultado em sala de aula, o treinamento traz impacto para os professores. “Tivemos uma geração inteira sem aprender educação financeira como projeto pessoal”, diz Salvatore.

Recomendados para crianças a partir de cinco anos, “Piquenique” e “Bons Negócios” não têm idade para brincar e aprender. “Percebemos professores de 50 anos mudando comportamentos”, afirma.

São oito semanas de capacitação que também envolvem aulas de empreendedorismo, cidadania e sustentabilidade. Ao final, elaboram planos de aulas, uma vez que educação financeira passou a fazer parte da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) em 2019, tornando-se obrigatória em todas as escolas brasileiras.

“O acesso a um material dinâmico e de qualidade ainda é escasso para a maior parte das escolas, especialmente as públicas”, diz Salvatore.

celular mostra na tela jogo de tabuleiro
Jogo de tabuleiro "Piquenique" é adaptado para modelo virtual pelo Instituto Brasil Solidário - Divulgação / IBS

Para a gestora da Escola Maria Neuly Dourado, em Cabaceiras, na Paraíba, o material oferecido pelo IBS se relaciona com a vida cotidiana.

“Como são alinhados à BNCC, os jogos se adaptam aos nossos costumes, ao artesanato em couro, ao turismo”, afirma Íris do Céu. “E não tem como a gente fugir da educação financeira, pois temos o objetivo de preparar as crianças para a vida.”

E se os jogos sensibilizam professores e alunos, impactam também as famílias das crianças.

“Mãe, você compra um cofre para mim?”, pergunta Caroline Vieira, aluna do ensino fundamental de uma escola de Sobral, no Ceará. “É para juntar dinheiro, porque penso no meu futuro”, completa a menina, influenciada pelas partidas do “Piquenique”.

A paraibana Maria Clara, 11, enxergou na oficina de artesanato do pai uma maneira de encher seu cofrinho. Os retalhos de couro, que seriam descartados, são integralmente reutilizados por ela na confecção de pulseiras. Depois, são vendidas para amigas no município de Cabaceiras.

O pai conta que Maria Clara começou usando retalhos para fazer saias para suas bonecas. “Eu não tinha essa visão de reaproveitamento da sobra de couro”, afirma Saulo Cândido. “Ela abriu nossa mente para produzir e hoje está aí uma empreendedora", diz orgulhoso.

A brincadeira pedagógica em sala de aula, que aproximou a estudante do empreendedorismo e do planejamento financeiro em casa, ilustra um dos objetivos do Instituto Brasil Solidário.

“Poucas pessoas controlam o quanto ganham e gastam e, por isso, não têm noção do que sobra ou falta”, diz Salvatore. “Educação financeira não é matemática, é comportamento.”

Criado em 2017 pelo IBS, o projeto Jogos de Educação Financeira, financiado por uma aliança que inclui Citi Foundation e Bank of America, faz parte das iniciativas de empoderar escolas e a comunidade no seu entorno. A doação de equipamentos para escolas municipais e, mais recentemente, a entrega de kits de higiene para combater a Covid-19, fazem parte deste cuidado com a comunidade.

Luis Salvatore, que é membro da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais, diz que o instituto deve incorporar a experiência virtual daqui para frente. “Somos apaixonados pelo trabalho de campo e pelo pé na estrada, mas nos rendemos à possibilidade de nos conectarmos com pessoas de forma não presencial.”

Caberá ao instituto, no decorrer do tempo, equilibrar a produtiva gritaria no pátio do colégio com o silêncio moderado pelo ensino a distância.​

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