Descrição de chapéu Dias Melhores Minha História

'Os Parças me acolheram e esse curso vai ajudar muita gente', diz egressa

Fabiana Lima, 38, passou por formação em tecnologia ao sair do sistema carcerário, uma das iniciativas vencedoras do Empreendedor Social 2021

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Minha História

São Paulo

Fabiana Couvaste Lima, 38, é egressa do sistema penitenciário paulista. Vítima de abuso sexual e violência doméstica, foi morar na rua aos 9 anos. Lá conheceu as drogas e o crime. Com dois filhos, ela agora se agarra à chance dada pela Aceleradora dos Parças.

A iniciativa é uma das vencedoras do Prêmio Empreendedor Social 2021 em Resposta à Covid-19.

Fabiana Couvaste Lima, egressa do sistema prisional e beneficiária da Aceleradora dos Parças
Fabiana Couvaste Lima, egressa do sistema prisional e beneficiária da Aceleradora dos Parças - Renato Stockler

Eu sou estudante, né?, e diarista num canil, lutando para ganhar pouco e sobrevivendo pagando aluguel e despesas, porque sou só eu e meus filhos. Não tenho mãe nem pai.

Tive infância difícil, com abuso e violência doméstica. Isso lá em 1990. Fui adotada. Minha mãe era analfabeta e não sabia tratar do que acontecia comigo. Ela tinha que trabalhar e me deixava com quem abusava de mim. Com 9 anos, fugi, não aguentava mais sofrer.

Na rua, aprendi a ir atrás de comida e a me proteger, mas não tem nada de bom lá. As drogas, como bebida, cola, maconha e cocaína, e o crime chegam a você.

Eu voltava pouco para casa. Fiquei mais quando engravidei do Leonardo, aos 19. Foi uma fase saudável. Só que eu tive recaída, devido ao álcool, e, para comprar comida para meu filho, eu me meti num assalto.

Peguei quatro anos de prisão, como ré primária. E vi que minha vida até ali era rua, abrigo e Fundação Casa.

Na penitenciária, pensei no Leonardo, que ficou com uma amiga, e decidi trabalhar. Em 2017, deixei a prisão numa saída temporária, peguei meu filho, trabalhei como podia, mas não voltei como deveria.

Procurei o Parças. Eu nem sabia ligar computador. Eles me acolheram. Tenho dificuldade, não sou tão rápida, mas eles têm paciência.

Fabiana Lima

diarista e beneficiária da Aceleradora dos Parças

Até me casei e engravidei da Bianca Valentina, em 2018. Eu chorava, não podia ir presa, queria mudar de vida. Vendia brigadeiro em ônibus, fazia hot dog, doce, calça, o que fosse.

Estava convicta, mas ganhava pouco e fui procurar emprego. Aí me ofereceram um pelo Facebook. Quando cheguei lá, no metrô Jd. São Paulo, fui autuada em flagrante, como foragida, com o filho na escola e a filha na creche. E subiram a pena para dez anos.

Foi triste, e ainda teve a pandemia. A gente via toda hora que morreram tantos, mais tantos. Não podia receber visita. Pensei nas crianças e de novo trabalhei. Fiz costura, bordado, crochê. Trabalhava de dia e estudava à noite.

Aí vi o Alan [Almeida], dos Parças, numa palestra no presídio. Ele contou a história dele. Era diferente. E falou da programação. Confiei, porque conhecimento ninguém rouba de você, vale para a vida toda.

Eu disse: 'Se eu te procurar na rua, vou ter oportunidade? Porque não tenho condição de pagar um curso desse'. Ele disse que sim.

Saí em janeiro de 2021. Ao pôr o pé na rua: tem que se virar. Na prisão, você não se preocupa com dívida, onde dormir. Em 2017, o pessoal viu que mudei e me ajudou.

Mas agora... Fui morar em Paraisópolis. E a sociedade discrimina quem vem do sistema, ainda mais quando se é negra.

Procurei o Parças. Eu nem sabia ligar computador. Eles me acolheram. Tenho dificuldade, não sou tão rápida, mas eles têm paciência. Hoje percebo o tanto que sofri de preconceito.

O Parças mostra que posso reprogramar minha vida. Agarrei a chance, outros já conseguiram e, a cada aula que termino, aplaudo todos pelo computador, dou risada, fico feliz. Sei que isso vai ajudar muita gente lá na frente.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.