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Mulheres demoram mais para perceber sintomas de doença cardíaca

Mesmo quando procuram assistência médica, encontram mais dificuldade do que homens para receberem tratamento

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Anahad O'Connor
The New York Times

A doença cardíaca é a principal causa de morte de homens e mulheres nos Estados Unidos, matando quase 700 mil pessoas por ano. Mas estudos indicam há anos que mulheres têm propensão maior que homens a descartar os sinais de alerta de um ataque cardíaco, às vezes aguardando horas ou mais antes de ligar para o número de emergência ou procurar um hospital.

Pesquisadores agora tentam entender a razão disso. Eles descobriram que as mulheres frequentemente hesitam em buscar assistência médica porque tendem a ter sintomas de ataque cardíaco mais sutis que os dos homens –mas, mesmo quando chegam a ir ao hospital, os médicos são mais propensos a minimizar a urgência de seus sintomas ou atrasar o tratamento.

Autoridades de saúde dizem que a doença cardíaca em mulheres permanece em grande medida subdiagnosticada e subtratada, e que esses fatores contribuem para resultados piores e índices de mortalidade mais altos entre as mulheres.

New research shows that women may not realize their symptoms point to heart trouble, and that medical providers are not picking up on it either. (Charlotte Fu/The New York Times) -- FOR EDITORIAL USE ONLY WITH NYT STORY SLUGGED SCI HEART DISEASE WOMEN BY ANAHAD OÕCONNOR FOR MAY 16, 2022. ALL OTHER USE PROHIBITED. --
Novas pesquisas indicam que mulheres podem não perceber sintomas de doença cardíaca - Charlotte Fu/The New York Times

A maioria dos estudos sugere que a razão principal por que as mulheres demoram a buscar ajuda médica e por que frequentemente recebem um diagnóstico equivocado está nos sintomas que elas apresentam.

Embora a dor ou desconforto no peito seja o sinal mais comum de ataque cardíaco tanto em homens quanto em mulheres, as mulheres que sofrem ataque cardíaco têm muito menos chance que os homens de sentir qualquer dor no peito. Em vez disso, frequentemente têm sintomas que podem ser difíceis de vincular a problemas cardíacos: falta de ar, suores frios, mal-estar, fadiga, dor mandibular e nas costas.

Um artigo da American Heart Association descobriu que os ataques cardíacos são mais letais em mulheres que não apresentam dor no peito, em parte porque significa que pacientes e médicos demoram mais a identificar o problema.

Mas, mesmo quando mulheres desconfiam que estejam tendo um ataque cardíaco, encontram mais dificuldade que homens em receber tratamento.

Estudos mostram que há probabilidade maior de serem informadas que seus sintomas não têm origem cardiovascular. Muitas mulheres ouvem de seus médicos que os sintomas estão todos em sua cabeça.

Um estudo constatou que mulheres que se queixam de sintomas condizentes com doença cardíaca, incluindo dor no peito, têm duas mais chances de ser diagnosticadas com uma doença mental, em comparação com homens que se queixaram de sintomas idênticos.

Mulheres enfrentam esperas mais longas

Num estudo publicado este mês no Journal of the American Heart Association, pesquisadores analisaram dados de milhões de visitas a salas de emergência antes da pandemia e constataram que as mulheres que se queixaram de dor no peito, especialmente as mulheres não brancas, tiveram que aguardar em média 11 minutos mais para ser atendidas por um médico ou enfermeiro do que os homens que se queixaram de sintomas semelhantes.

As mulheres tiveram menos chance de ser admitidas no hospital, receberam avaliação médica menos completa e tiveram menos chance de fazer exames como eletrocardiograma, que pode detectar problemas cardíacos.

A cardiologista Alexandra Lansky, do Yale-New Haven Hospital, nos Estados Unidos, mencionou uma paciente que procurou vários médicos para queixar-se de dor na mandíbula, mas foi encaminhada a um dentista, que extraiu dois molares. Quando a dor mandibular não desapareceu, a mulher procurou Lansky, que descobriu a origem cardíaca do problema.

"Ela acabou fazendo uma cirurgia de ponte de safena, porque a dor na mandíbula era causada por doença cardíaca", disse Lansky, que dirige o Centro Yale de Pesquisas Cardiovasculares.

Ao longo dos anos as autoridades de saúde lançaram várias campanhas públicas para tentar zerar a disparidade de gênero no atendimento cardiovascular. O governo federal e a American Heart Association lançaram campanhas de conscientização da doença cardíaca e seus sintomas em mulheres.

A Women’s Heart Alliance fez o mesmo, tendo no ano passado começado a publicar anúncios no Facebook, Instagram e milhares de estações de rádio e televisão. Ao som de música de Lady Gaga, os anúncios pedem às mulheres que "reconheçam os sinais" de um ataque cardíaco, avisando que podem ser tão difusos quanto transpiração, tontura ou fadiga incomum.

Em janeiro um grupo de cientistas publicou um estudo que investigou os fatores que levam mulheres a demorar a buscar assistência médica para seus problemas cardíacos. O estudo concluiu que a ausência de dor ou desconforto no peito é uma das grandes razões.

Publicado no periódico especializado Therapeutics and Clinical Risk Management, o estudo analisou 218 homens e mulheres que receberam atendimento em razão de ataque cardíaco em quatro hospitais distintos de Nova York antes da pandemia. Constatou que 62% das mulheres não sentiram dor ou desconforto no peito, comparadas com apenas 36% dos homens. Muitas mulheres relataram falta de ar e sintomas gastrointestinais como náusea e indigestão. Cerca de um quarto dos homens também relatou sentir falta de ar ou mal-estar gastrointestinal.

No final, 72% das mulheres que sofreram um ataque cardíaco esperaram mais de 90 minutos até ir a um hospital ou ligar para o número de emergência 911, contra 54% dos homens. Um pouco mais de metade das mulheres ligaram para uma pessoa da família ou amiga antes de chamar o número 911 ou ir ao hospital, coisa que foi feita por apenas 36% dos homens.

Doença cardíaca vem crescendo entre mulheres mais jovens

"Nem mulheres nem homens entendem que um ataque cardíaco não precisa necessariamente provocar dor no peito ou sintomas impressionantes como se veem em filmes", comentou a dra. Jacqueline Tamis-Holland, autora do estudo de janeiro e cardiologista no Mount Sinai Morningside, em Nova York.

Segundo ela, há outros fatores que motivam a demora. Um deles é que as mulheres não se consideram tão vulneráveis à doença cardíaca quanto os homens.

Estudos anteriores também mostraram que elas têm maior tendência a descartar seus sintomas, atribuindo-os a estresse ou ansiedade. Elas também tendem a desenvolver doença cardíaca em idade mais avançada que os homens.

No estudo de Tamis-Holland, as mulheres que tiveram ataque cardíaco tinham em média 69 anos de idade, enquanto a idade média dos homens era 61.

Mas mulheres mais jovens não são imunes à doença cardíaca. Na realidade, estudos recentes constataram que ataques cardíacos e mortes por doença cardíaca vêm aumentando entre mulheres na faixa dos 35 aos 54 anos, em parte devido a um aumento nos fatores de risco cardiometabólicos como hipertensão e obesidade.

Especialistas dizem que é preciso mais informação e educação para ajudar mulheres e homens a reconhecer os sinais e fatores de risco de doença cardíaca.

Mas Lansky disse que também quer empoderar as pessoas a defender sua própria causa. Se você suspeita que há algo de errado com sua saúde, não deixe que o médico ou hospital a rejeite enquanto não receber respostas.

"Se você não está se sentindo normal e acha que um problema cardíaco é uma das causas possíveis, explicite isso", ela recomendou. "Diga: ‘Acho que posso estar tendo um ataque cardíaco e quero fazer um eletrocardiograma só para ter certeza’. Ninguém na sala de emergência vai dizer que você não pode fazer o eletro. Mas às vezes o profissional de saúde não está pensando nessa possibilidade. Logo, é bom mencioná-la."

Tradução de Clara Allain

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