Descrição de chapéu The New York Times Pets

Seu gato talvez não o esteja ignorando quando você fala

Os gatos têm a reputação de serem distantes, mas um novo estudo descobriu que seu relacionamento com os donos pode ser mais forte do que pensávamos

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Anthony Ham
The New York Times

Todo dono de gato tem uma história para contar sobre ser ignorado por seu gato: chamamos o bichano, ele se afasta, e algumas pessoas podem ficar se perguntando por que não compraram um cachorro. Mas seu gato pode estar ouvindo, afinal. Mais do que isso, ele se importa, talvez mais do que você imagina.

Um estudo de pesquisadores franceses publicado no mês passado na revista Animal Cognition descobriu que os gatos não apenas reagem ao que os cientistas chamam de fala dirigida a gatos —uma voz aguda semelhante à forma como falamos com bebês—, como eles reagem a quem está falando.

"Descobrimos que quando os gatos ouvem seus donos usando uma voz aguda, eles reagem mais do que quando ouvem o dono falando normalmente com outro humano adulto", disse Charlotte de Mouzon, autora do estudo e especialista em comportamento felino da Universidade Paris Nanterre. "Mas o que foi muito surpreendente em nossos resultados foi que na verdade isso não funcionava quando era a voz de um desconhecido."

Sequência de fotos de gato branco mesclado e gato preto em diferentes posições
Estudo mostra que gatos reconhecem e reagem a comandos quando donos usam voz aguda - NYT

Ao contrário dos cães, o comportamento dos gatos é difícil de estudar, o que explica por que os humanos os entendem menos. Os gatos costumam ficar tão estressados por estar em um laboratório que observações comportamentais significativas se tornam impossíveis. E esqueça de tentar fazer um gato ficar parado para uma ressonância magnética para estudar sua função cerebral.

Assim, os pesquisadores do estudo mais recente foram às casas dos gatos e reproduziram gravações de diferentes tipos de fala e falantes. A princípio, Mouzon e sua equipe ficaram preocupados que os gatos não estivessem reagindo. Mas então eles estudaram gravações de filmes dos encontros.

"Suas reações eram muito sutis", disse Mouzon. "Pode ser apenas mover uma orelha ou virar a cabeça em direção ao alto-falante, ou até mesmo congelar o que eles estão fazendo."

Em alguns casos, os gatos do estudo se aproximavam do alto-falante que emitia uma voz e miavam.

"No final, tivemos ganhos muito claros na atenção do gato quando o dono usava a fala especial para gatos", disse Mouzon.

As descobertas mostraram que "os gatos prestam muita atenção em seus cuidadores, não apenas no que estão dizendo, mas como dizem", disse Kristyn Vitale, professora assistente de saúde e comportamento animal no Unity College, no Maine (EUA), que não participou do novo estudo.

O estudo complementa a pesquisa de Vitale sobre as relações entre um gato e seu dono. Essa relação é tão importante, descobriu a pesquisa, que reproduz a conexão entre um gatinho e sua mãe.

"É possível que comportamentos de apego originalmente destinados a interações com a mãe tenham sido modificados para interações com seus novos cuidadores, os humanos."

Ao contrário dos cães, "a maioria dos gatos prefere a interação humana a outras recompensas, como comida ou brinquedos", disse Vitale.

A genética também pode desempenhar um papel no motivo pelo qual os cães são mais fáceis de estudar e são considerados mais amigáveis.

"Os cães foram selecionados artificialmente há centenas ou milhares de anos devido precisamente à sua capacidade de serem treinados, seja como cães pastores, cães de caça ou qualquer outra coisa", disse Sarah Jeannin, especialista em comportamento canino da Université Paris Nanterre, que não participou do novo estudo.

Jeannin contestou o estereótipo de que os cães estão mais próximos dos humanos do que os gatos.

"As pessoas dizem que os cães são os melhores amigos do homem, que se pode confiar neles e que são muito leais. Mas não sabemos o que os cães realmente pensam", disse ela. "Na verdade, é apenas uma projeção nossa de que os cães são apaixonados por nós."

"Durante anos, os cientistas não fizeram as perguntas certas sobre os gatos", disse Mouzon. Agora, quem está convencido da deslealdade dos gatos não vai gostar das respostas que estão surgindo.

Afinal, os gatos não nos odeiam, disse Vitale, acrescentando que "um crescente corpo de trabalho apoia a ideia de que a interação social com os humanos é fundamental na vida de um gato".

De acordo com Mouzon, só porque os gatos reagem de maneira sutil não significa que eles sejam indiferentes.

"Gatos não fazem o que você espera que eles façam. Mas se os gatos não vêm quando os chamamos, pode ser porque estão ocupados fazendo outra coisa ou descansando", disse ela.

"As pessoas têm esse tipo de expectativa porque quando você chama um cachorro ele vem. Mas se você chamar um humano que estiver tirando uma soneca do outro lado da casa, ele vem?"

Tradução por Luiz Roberto M. Gonçalves

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