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Maya Eigenmann

Relação de qualidade entre pais e filhos é proteção contra traumas

Temos o poder de fomentar a saúde de crianças e adolescentes a cada interação amorosa e respeitosa que temos com eles

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Maya Eigenmann

É pedagoga, educadora parental e pós-graduada em neurociências e educação positiva. É casada com Haroldo e mãe de Luca e Nina

Nos anos 1950, o psicólogo inglês Dr. John Bowlby publicava seus primeiros trabalhos sobre a Teoria do Apego. Separando-se da então predominante teoria freudiana na explicação das dinâmicas entre pais e filhos, Bowlby começa a observar e classificar reações que crianças têm ao serem separadas de suas mães por algumas horas. No decorrer das pesquisas observacionais, começa a se materializar uma previsibilidade do comportamento dessas crianças dependendo de quão segura ou insegura fosse a sua relação com estes adultos cuidadores primários. O trabalho de Bowlby e sua Teoria do Apego seriam os primeiros indícios concretos e cientificamente observados de como a qualidade da relação de um adulto cuidador influencia diretamente no bem-estar de sua criança.

Ilustração de Lívia Serri Francoio mostra criança brincando em um carrossel. O fundo é branco, cheio de bolinhas azuis. O carrossel, bem no meio da cena, tem apensa três cavalos, dois cor de laranja e um amarelo. Ele é desenhado com traços cor de laranja, fundo branco e detalhes em amarelo. A menina está sentada no cavalo amarelo, em primeiro plano. Ela usa calça branca com listras azuis e camiseta rosa. Os cabelos sçao longos e lisos e estão presos com uma trança. Ela tem uma expressão serena.
Relação saudável entre pais e filhos ajuda a diminuir os riscos da criança desenvolver traumas - Lívia Serri Francoio

Com o início de estudos concretos sobre trauma nos anos 1970, fomentados, principalmente, para entender melhor os comportamentos desnorteados dos veteranos norte-americanos – muitos regressos da guerra do Vietnã com síndrome do transtorno pós-traumático – começa a se jogar luz sobre o fato de o trauma ser, realmente, um trauma, e de como ele afeta a vida das pessoas.

A Teoria do Apego e os estudos sobre trauma foram, e ainda são, essenciais para começarmos a pensar em como as experiências que vivemos nos afetam. No âmbito familiar, isso se torna ainda mais importante, levando em consideração que nós, os pais ou adultos cuidadores, impactamos nossas crianças o tempo todo. Podemos sentir um grande peso diante disso ou podemos enxergar nisso uma linda oportunidade.

Eu decidi, há mais de cinco anos, começar a enxergar a potência do que posso proporcionar aos meus filhos através da maneira como me relaciono com eles e de como essa minha relação com eles se torna o maior fator protetivo contra traumas.

Traumas não são benéficos. Ao contrário do que ouvimos dizer por aí, não é pela dor que prosperamos, mas pelo amor. Não precisamos sobreviver a muitos traumas na infância para nos tornarmos "fortes". Pais e adultos cuidadores não precisam ser duros com as crianças para torná-las "resilientes". Há muitos estudos, dentre eles o estudo sobre as Experiências Adversas na Infância (ACEs, em inglês), de 1998, que expõe o quanto as experiências traumáticas na infância afetam e prejudicam a saúde emocional e física de uma pessoa.

Não acredito que seja possível criar filhos sem trauma algum, mas acredito firmemente que podemos prevenir traumas e reduzir os danos dos nossos próprios traumas em nossos filhos. E o caminho para fazê-lo já fora escancarado no século passado, por meio dos estudos de Bowlby: é na qualidade da relação dos pais com a criança que se encontra a maior fonte de proteção e prevenção ao trauma e seus efeitos. Por mais que tenhamos tido pais feridos e que tenhamos nos tornado filhos sobreviventes, nós podemos quebrar esse ciclo.

Nós, pais, temos o poder de fomentar a saúde física e emocional dos nossos filhos a cada interação amorosa e respeitosa que temos com eles. Fortalecemos literalmente seus sistemas imunológicos através da nossa atenção e conexão. Estimulamos a mielinização dos neurônios de um bebê através de muito colo, porque, sim, ao contrário do que se ouve dizer, de que colo "estraga" bebês, a ciência prova contrariamente. Fomentamos um desenvolvimento sadio do cérebro dos nossos filhos quando promovemos um ambiente familiar acolhedor e seguro.

Não há glória no trauma. Que possamos, dia após dia, nos dedicarmos em criar relações respeitosas com os filhotes da nossa espécie. Nas palavras de Charles Raison: "Uma geração cheia de pais que amam seus filhos profundamente poderia mudar o cérebro da próxima geração, e com isso, o mundo."

Lembremo-nos: a raiva não educa. A calma educa.

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