Raiva pode ter impacto positivo na motivação; veja como canalizar o sentimento

Ter uma vida equilibrada por diferentes emoções é mais satisfatório do que ser incessantemente positivo, diz estudo

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Christina Caron
The New York Times

Uma pesquisa publicada na revista Journal of Personality and Social Psychology, da Associação Americana de Psicologia, sugere que há um lado positivo em sentir raiva. O estudo aponta que ela seria mais útil em motivar pessoas a superar obstáculos e alcançar objetivos do que um estado emocional neutro.

Pesquisadores recrutaram estudantes da Universidade Texas A&M, nos Estados Unidos, para uma série de sete experimentos. Em alguns deles, provocaram raiva ao mostrar aos alunos imagens que insultavam sua escola, como a equipe universitária de futebol americano usando fraldas e mamadeiras.

"Funcionou bem", diz Heather Lench, principal autora do estudo e professora do departamento de Ciências Psicológicas e Cerebrais da Texas A&M.

Mulher negra de meia-idade toma café e apoia uma das mãos na cabeça. Está sentada em uma mesa ao ar livre.
Sentir raiva, em equilíbrio com outras emoções, pode trazer mais benefícios do que ser positivo o tempo todo - Adobe Stock

A raiva ajudou os estudantes a resolverem mais quebra-cabeças, afirmam Lench e sua equipe. Isso porque os jovens foram convidados a participar de um jogo desafiador no computador e, quando notaram que era quase impossível vencer, ficaram enfurecidos. Nesse momento, eles se movimentaram mais rápido e seu tempo de reação diminuiu.

Outros experimentos também mostraram que a raiva pode ser benéfica. "Por muito tempo, havia essa ideia de que ser positivo o tempo todo significaria uma 'vida bem vivida', e era isso que deveríamos buscar", diz Lench.

"Mas há cada vez mais evidências de que uma vida equilibrada por uma mistura de emoções parece ser mais satisfatória e positiva a longo prazo."

Abrace sua raiva

Muitos de nós aprendemos a reprimir emoções negativas e focar no positivo. Mas especialistas sugerem que ser incessantemente positivo pode ser prejudicial.

"A maioria das expressões de positividade carece de nuances, compaixão e curiosidade", escreve a terapeuta Whitney Goodman em seu livro "Toxic Positivity" ("Positividade Tóxica", em tradução livre).

"Elas vêm de maneira impositiva, orientando como alguém deveria se sentir e apontando que o que ela está sentindo naquele momento está errado."

Todas as emoções podem ser úteis, segundo o psicólogo Ethan Kross. "Evoluímos para experimentar emoções negativas", diz ele, que é diretor do Laboratório de Emoção e Autocontrole da Universidade de Michigan (EUA).

Kross afirma que a raiva também pode surgir depois de uma ofensa, quando a pessoa ainda acredita que pode corrigir a situação. "Pode ser energizante."

Analise sua raiva

O primeiro passo é reconhecer que você está com raiva. "Parece óbvio, mas não é", diz Daniel Shapiro, professor associado de Psicologia da Faculdade de Medicina de Harvard e do Hospital McLean e autor de "Negotiating the Nonnegotiable" ("Negociando o Inegociável", em tradução livre).

É importante perguntar a si mesmo: O que estou sentindo agora? Do que se trata isso? "Ficamos com raiva quando sentimos que há um obstáculo que nos impede", diz ele.

A raiva pode derivar de emoções que nos abalam, como vergonha, humilhação ou a sensação de não sermos apreciados. Em outros momentos, a raiva pode ser desencadeada quando sentimos uma ameaça à nossa identidade —por exemplo, quando nossas crenças ou valores estão sendo atacados, diz Shapiro.

Estabeleça uma meta saudável

Quando a raiva surge, é importante lembrar-se do objetivo inicial. Caso contrário, a raiva pode rapidamente sair de controle, produzindo uma resposta desproporcional às circunstâncias, ou durar um tempo excessivo.

Um dos exemplos seria uma discussão com um cônjuge. "Alguns estudos mostraram que expressar raiva e ter uma discussão confrontadora pode melhorar o relacionamento, desde que seu objetivo seja fortalecê-lo, expressar suas necessidades ou chegar a um compromisso", afirma Lench.

Mas se a pessoa se importa principalmente em estar certa e em vencer a discussão, isso pode "levá-la a ser agressiva de uma maneira prejudicial", acrescenta.

Para discutir construtivamente com alguém, o professor Shapiro recomenda imaginar o que a outra pessoa está sentindo e olhar o problema através dos olhos dela —assim haverá mais chances de influenciá-la. Isso não significa que é preciso concordar, mas se a raiva estiver consumindo tudo, será necessário se afastar para acalmar.

Aprenda a usar a raiva no ambiente de trabalho

No trabalho, é possível canalizar a energia da raiva para alcançar metas relacionadas ao desempenho. "Por exemplo, alguém que não recebeu a revisão anual ou a promoção que desejava pode usar essa raiva para planejar etapas e se sair melhor no próximo ano", afirma David Lebel, professor associado da Universidade de Pittsburgh (EUA).

"E se você levantar um problema com seus colegas de trabalho ou seu gerente, tente acompanhá-lo com uma sugestão que ajude a resolver o problema ou peça ajuda para encontrar uma solução", completa.

Às vezes, gênero, raça ou posição de alguém na organização podem tornar algumas conversas mais difíceis no escritório. Simone Stolzoff, especialista em ambiente de trabalho e autora de "The Good Enough Job" ("O Trabalho Bom o Suficiente", em tradução livre), sugere buscar apoio dentro e fora do escritório.

"Encontre solidariedade entre outros colegas, especialmente aqueles do seu nível", afirma Stolzoff. "Juntos, vocês podem expressar demandas ou falar sobre o que precisa ser mudado 'de maneira ponderada e considerada'".

Por fim, tenha cuidado ao desabafar

Desabafar pode parecer bom, mas geralmente não produz soluções, afirma o psicólogo Ethan Kross. Então, busque por apoio social de pessoas que sejam objetivas e que possam ajudar a reorganizar as circunstâncias.

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