Como manter os idosos seguros em meio ao calor

Se você tem mais de 65 anos, é importante levar a sério as altas temperaturas

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Dana G. Smith
The News York Times | The New York Times

Estamos vivendo os dias mais quentes da história. Ondas de calor cobriram países ao redor do mundo [e também no Brasil, com temperaturas atingindo mais de 40 ºC em várias cidades].

O calor excessivo pode ser mortal para qualquer pessoa, mas os adultos mais velhos são especialmente vulneráveis. Na onda de calor que sufocou a Europa no verão de 2022, as pessoas de 65 anos ou mais representaram aproximadamente 90% das mortes relacionadas ao calor.

Homem se refresca em um dia de calor extremo em Guadalajara, no México
Homem se refresca em um dia de calor extremo em Guadalajara, no México - Ulises Ruiz - 13.jun.23/AFP

Especialistas dizem que três fatores se combinam para aumentar o risco para os idosos: alterações biológicas que ocorrem naturalmente com a idade, taxas mais elevadas de doenças crônicas relacionadas à idade e maior uso de medicamentos que podem alterar a reação do corpo ao calor.

Veja como avaliar o risco de uma doença relacionada ao calor para você ou um ente querido, e como se manter seguro.


Como manter idosos seguros no calor extremo


Como o calor afeta o corpo idoso
O corpo humano possui dois mecanismos principais para se resfriar: a transpiração e o aumento do fluxo sanguíneo para a pele. Nos idosos, esses processos estão comprometidos —eles suam menos e têm má circulação em comparação com adultos mais jovens.

"Como os indivíduos mais velhos não conseguem liberar tão bem o calor, sua temperatura central sobe cada vez mais rapidamente", disse Craig Crandall, professor de medicina interna especializado em termorregulação no Centro Médico Southwestern da Universidade do Texas. "E sabemos que a temperatura central é a principal causa de lesões e mortes relacionadas ao calor."

Essas mudanças não acontecem repentinamente quando uma pessoa chega aos 65 anos; elas começam gradualmente na meia-idade, disse Glen Kenny, professor de fisiologia da Universidade de Ottawa, no Canadá. "É um declínio lento", disse ele. Mas você começa a ver diferenças perceptíveis "aos 40 anos, sem dúvida".

Condições crônicas que são mais comuns na velhice, principalmente doenças cardiovasculares e diabetes, podem agravar esses problemas. Um coração doente não consegue bombear tanto sangue, reduzindo ainda mais o fluxo sanguíneo para a pele. E se os nervos forem afetados em pessoas com diabetes grave, o corpo pode não receber a mensagem de que precisa começar a suar. (Os jovens com essas condições também correm maior risco de problemas relacionados ao calor.)

À medida que as pessoas envelhecem, também param de sentir tanta sede e tendem a beber menos. Em condições de calor, isso pode fazer com que fiquem desidratadas mais rapidamente, o que é "extremamente prejudicial para o controle da temperatura", disse o doutor Crandall.

Além disso, alguns idosos, especialmente se tiverem alguma forma de demência ou declínio cognitivo, também podem não perceber as mudanças de temperatura. Em consequência, não responderão adequadamente ao calor, tanto no plano biológico (através da transpiração) quanto no do comportamento (movendo-se para um lugar fresco).

Finalmente, certos medicamentos podem afetar a hidratação, o fluxo sanguíneo e até mesmo a reação de suor das pessoas, portanto, pergunte a seu médico sobre quaisquer medicamentos que você esteja tomando.

É claro que nem todas as pessoas da mesma idade respondem ao calor da mesma maneira. Os idosos que estão em boa forma física geralmente são mais resistentes, disse o doutor Crandall, porque têm melhor fluxo sanguíneo e suam mais do que seus pares sedentários.

Como ficar seguro
As pessoas muitas vezes pensam que o calor precisa ser extremo (digamos, acima de 38 ºC) para causar doenças, mas em idosos podem surgir sinais de exaustão por calor em temperaturas de apenas 26 ºC.

"Pessoas de 20 anos podem ficar ao ar livre durante horas num clima de 26o e geralmente ficar bem", disse a doutora Angela Primbas, geriatra da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) Saúde. "Isso não é verdade para os idosos."

O esforço físico aumenta o risco de uma pessoa sofrer doenças causadas pelo calor, porque o corpo começa a gerar ainda mais calor. Em dias quentes, disse Primbas, os idosos e as pessoas com problemas de saúde graves devem limitar as atividades ao ar livre, como caminhadas e jardinagem, às manhãs e noites mais frias, fazer pausas frequentes e beber bastante água. Escute o seu corpo com atenção: se a atividade começar a parecer mais difícil do que o normal, é um sinal para parar e encontrar um lugar para se refrescar.

Os sinais de desidratação ou exaustão pelo calor incluem tontura, vertigem, dor de cabeça, coração acelerado ou sensação de letargia. É especialmente importante de se observar a baixa energia —se a pessoa não está falando ou interagindo como de costume— em pessoas com deficiência cognitiva, que podem não perceber como estão quentes, ou não conseguir expressá-lo.

Embora os idosos enfrentem desafios únicos quando se trata de calor, as maneiras de se refrescar são iguais para qualquer idade. Se você ou um ente querido começar a sentir algum dos sintomas acima, a melhor coisa a fazer é ir para um lugar que tenha ar-condicionado, disse o doutor Kenny. A temperatura interna não precisa ser "abaixo de zero", acrescentou —basta estar em 25 ºC ou menos. Se não houver ar-condicionado em casa, verifique se há um centro de resfriamento no bairro.

Na falta de ar-condicionado, a água é "extremamente útil para reduzir o risco de lesões relacionadas ao calor", disse Crandall. Ele aconselha esfregar um cubo de gelo na pele, borrifar água fria, encharcar a camisa ou tomar um banho frio.

Faça o que fizer, leve o calor a sério. É a principal causa de mortes relacionadas ao clima nos Estados Unidos, e muitas dessas mortes são evitáveis.

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