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As crianças deveriam aprender na escola como evitar golpes online?

Não é razoável esperar que consumidores saibam quando estão sendo enganados, se até bancos e mídias sociais não conseguem fazer isso o tempo todo, dizem especialistas

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Yaniv Hanoch Stacey Wood
The Conversation ** | BBC News Brasil

Você ou alguém que você conhece foi vítima de um golpe virtual? Se sua resposta foi sim, saiba que isso não é incomum.

De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, os golpes aplicados pela internet cresceram 65,2% no Brasil em 2022.

E ser vítima desse tipo de crime não é uma realidade apenas para os brasileiros. O Gabinete de Estatísticas Nacionais (ONS) do Reino Unido relatou um aumento de 25% no número de fraudes em 2021 em comparação com o ano anterior.

Uma mulher branca, com cabelos castanhos e lisos presos num rabo de cavalo e vestindo blusa de manga longa amarela está sentada à mesa, diante de um notebook; ela segura um cartão de crédito com uma das mãos e, com a outra, toca a testa em gesto de preocupação
Qualquer um pode cair em golpes pela internet - Getty Images/via BBC News Brasil

Os golpes virtuais representam mais de 40% de todos os crimes contra indivíduos no Reino Unido e são o crime mais comum no país.

E como se essas estatísticas não fossem suficientemente alarmantes, há ainda evidências de que a Inteligência Artificial está dificultando detecção das fraudes.

Muitos culpam as vítimas por serem tolas ou inocentes o suficiente para cair em um golpe. Mas é hora de aceitar que isso pode acontecer com qualquer um.

Este problema é tão recorrente que precisamos parar de acreditar que apenas pessoas vulneráveis podem ser pegas pelas frau des. O cérebro humano não consegue acompanhar todos os novos tipos de golpe possibilitados pela tecnologia.

Portanto, precisamos de uma nova abordagem que responsabilize as instituições financeiras e as empresas pela identificação ou facilitação de fraudes —e que aproveite a IA para detectar transações suspeitas.

Não é razoável esperar que os consumidores saibam quando estão sendo enganados, se até os bancos e as plataformas de mídia social não conseguem fazer isso o tempo todo.

Quem são as vítimas?

Se lhe perguntassem quem tem mais chances de ser vítima de um golpe, qual seria a sua resposta? Se você é como a maioria das pessoas, provavelmente já pensou nos idosos. Banqueiros, especialistas em TI ou jovens adultos provavelmente nem passaram pela sua cabeça.

Mas o equívoco em relação a quem é mais vulnerável ou suscetível às fraudes é um dos principais obstáculos para resolver o problema.

Um estudo de 2010 realizado pela empresa de análise de crédito Experian, que examinou casos de roubo de identidade no Reino Unido, concluiu que dois grupos etários, 25-34 e 35-44, representavam 54% das vítimas, enquanto aqueles com mais de 65 anos representavam apenas 4% das vítimas desse tipo de fraude.

Quando os golpes envolvem criptomoedas, as vítimas tendem a ser jovens, bem-educadas e investidores que possuem carteiras de risco.

Basta olhar a lista dos principais investidores (e vítimas) dos escândalos da corretora de criptomoedas FTX e da startup de tecnologia médica Theranos para perceber que mesmo os investidores e celebridades mais experientes podem ser enganados.

Entre as vítimas desses dois casos estavam magnatas da comunicação social, políticos e gestores de hedge funds.

Um relatório de 2023 da associação comercial para o setor bancário e de serviços financeiros do Reino Unido UK Finance indica que os jovens entre 18 e 24 anos são cada vez mais alvo de golpistas e estão muito mais propensos a se tornarem vítimas de esquemas de roubo de identidade do que aqueles com 65 anos ou mais.

Além disso, a taxa de jovens de 13 a 17 anos que são vítimas de golpes por meio de jogos teve um aumento acentuado.

Desenvolvimento de programas educacionais e terapêuticos

Muitas escolas em todo o mundo introduziram programas de segurança online. Muitos dos que são oferecidos atualmente, no entanto, tendem a ser bastante limitados sobre como se proteger contra golpes.

A instituição de caridade infantil NSPCC, por exemplo, tem programas para proteger as crianças contra abusos online e ensinar como podem se manter mais seguras ao utilizar as redes sociais —mas não para fraudes online.

Página mostra etapa de login em um site
Crimes virtuais também são recorrentes entre jovens, ressaltam especialistas - Getty Images/via BBC News Brasil

A prevenção contra golpes deve ser ensinada nas escolas e universidades como parte do currículo.

Para os idosos, as instituições de caridade AARP e AgeUK oferecem orientação e recursos, mas não está claro até que ponto eles são eficazes ou amplamente utilizados.

Faltam dados e análises sobre a eficácia dos programas e formações de prevenção contra fraudes existentes hoje.

Mas precisamos desenvolver programas para cada faixa etária e avaliar a sua eficácia.

Melhorar a dissuasão

Uma das teorias mais importantes da criminologia é a teoria da dissuasão, que afirma que a redução do crime está relacionada com a severidade da punição e, mais importante, com a probabilidade do criminoso ser pego.

Pesquisas sugerem que aumentar as chances dos criminosos serem presos é muito mais eficaz do que aumentar a punição.

No entanto, os golpistas não têm muito com o que se preocupar. Segundo dados do governo do Reino Unido, as fraudes representam mais de 40% de todos os crimes no país, mas recebem menos de 1% dos recursos policiais.

As empresas devem proteger melhor os consumidores

Durante a pandemia de Covid-19, o Google bloqueou 18 milhões de e-mails fraudulentos sobre coronavírus todos os dias, segundo os meios de comunicação.

Mas apesar destes esforços, de acordo com um relatório da Comissão Federal de Comércio (FTC), uma agência dos EUA que luta pelos direitos do consumidor, as empresas de tecnologia e os sites de redes sociais ainda são um terreno fértil para os golpistas.

Na verdade, segundo a FTC, um quarto das pessoas que perderam dinheiro devido a fraudes afirmaram que o golpe começou em plataformas de redes sociais.

A natureza dos sites de mídia social oferece aos golpistas a capacidade de se esconderem atrás de personas falsas e fingirem ser um negócio legítimo. Eles também permitem que os golpistas alcancem milhões de pessoas ao apertar um único botão —especialmente os adultos mais jovens, que tendem a ser usuários mais assíduos e prolíficos de redes sociais.

A FTC emitiu ordens para uma série de redes sociais —incluindo Meta, TikTok e YouTube— buscando informações sobre como essas empresas examinam anúncios e golpes maliciosos e nefastos.

Introduzir novas políticas

Deputados da Califórnia estão considerando um projeto de lei que oferece aos idosos maior proteção contra fraudes, responsabilizando os bancos quando facilitam transações fraudulentas.

No Reino Unido, a ex-secretária do Interior Suella Braverman apresentou ao Parlamento, em maio de 2023, uma estratégia contra golpes que propõe uma série de medidas como a proibição de todas as chamadas telefônicas relacionadas a produtos financeiros.

Estes dois projetos de lei fazem parte de um movimento na direção certa, mas é necessário mais trabalho —e com urgência.

Gestores públicos devem atribuir financiamento à investigação e às agências de aplicação da lei, introduzir leis que proporcionem maior proteção às pessoas e colaborar com organismos internacionais de aplicação da lei, como a Interpol.

A fraude afeta a sociedade em todos os níveis: indivíduos, organizações e governos. E estamos todos juntos nisso, gostemos ou não.

** Este artigo foi publicado no The Conversation e reproduzido aqui e na BBC News Brasil sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original.

Yaniv Hanoch é professor em Ciência da Decisão na Universidade de Southampton, no Reino Unido. Stacey Madeira é professora de Psicologia, na Scripps College, na Califórnia, EUA.

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