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Mulheres são mais afetadas por disfunção na ATM, que provoca dor e estalos ao abrir a boca

As causas são multifatoriais e abrangem trauma na região, ansiedade e hábitos parafuncionais como o bruxismo

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São Paulo

Dor, estalos e dificuldade para abrir e fechar a boca são sinais de que algo está errado com a articulação temporomandibular, a ATM.

Essa é uma das conexões mais complexas do corpo humano e é acionada até mesmo enquanto dormimos, conforme contraímos os músculos da face, rangemos os dentes e engolimos a saliva.

A ATM liga a mandíbula ao osso temporal na base do crânio e se move em três direções: para baixo e para cima, para a esquerda e para a direita e para frente e para trás. Ela possui uma cavidade com líquido sinovial, que funciona como um lubrificante, e um disco articular, de estrutura fibrocartilaginosa, que tem a função de proteger e possibilitar o encaixe entre superfícies ósseas.

Os problemas que surgem nessa região são chamados de disfunção temporomandibular (DTM), que pode ter origem muscular —quando envolve músculos mastigatórios— ou articular —quando atinge ossos e disco articular.

Ilustração nas cores branco, bege, azul marinho, vermelho e verde mostram uma mulher de perfil revelando a arcada dentária dela e sua articulação temporomandibular
Fatores anatômicos, aspectos comportamentais e alterações hormonais ligadas ao ciclo menstrual são fatores que ajudam a explicar a prevalência de DTM nas mulheres - Nadezhda Popova/Adobe Stock

As causas da DTM são multifatoriais e abrangem traumas na região, prótese mal adaptada, doenças sistêmicas (como a artrite reumatóide e artrose), fatores anatômicos, distúrbios do sono e fatores psicossociais (como estresse, ansiedade e depressão), que podem levar a hábitos parafuncionais — aqueles que fazemos de forma involuntária e inconsciente, sendo o mais conhecido deles o bruxismo, que ocorre quando rangemos os dentes sem querer, especialmente enquanto dormimos.

Os sintomas são dores na musculatura da mastigação e na ATM, que podem irradiar para a região da cabeça e do pescoço, barulhos como estalos e ruídos na articulação, dificuldade para abrir ou fechar a boca e sensação de que a mandíbula sai do lugar ao fazer alguns movimentos.

"Estudos epidemiológicos clínicos e populacionais indicam que os sinais e sintomas podem aparecer em até 60-70% da população. Este número varia bastante entre os estudos por falta de uma metodologia padronizada", informa a SBDOF (Sociedade Brasileira de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial).

As mulheres são pelo menos quatro vezes mais propensas a sofrer de DTM. Fatores anatômicos, aspectos comportamentais, psicossociais e alterações hormonais ligadas ao ciclo menstrual também foram estudados no intuito de justificar a maior prevalência no sexo feminino, também de acordo com a SBDOF.

Marcos Pitta, cirurgião bucomaxilofacial, explica que as mulheres costumam ter os ligamentos mais elásticos do que os homens. "Quando o músculo faz força, o ligamento estica e o disco articular sai da posição correta", diz.

O disco articular fora do lugar é uma das alterações anatômicas mais comuns na ATM, ressalta Pitta. "Um dos sinais é quando você abre a boca e ouve um estalo. Esse barulho acontece porque o disco vai e volta."

Metade da população tem o disco articular fora do lugar sem apresentar nenhum sintoma, afirma Pitta. "É uma condição frequente, não é considerada uma patologia. Mas quando a pessoa sente dor, mostra dificuldade para abrir a boca ou sente a mandíbula travada, é preciso buscar tratamento."

Foi o que aconteceu com a publicitária Elisabete Costa, 56. Ela conta que já havia recebido o diagnóstico de bruxismo, mas nunca deu muita importância para o problema. Até que, durante um almoço, sentiu que sua mandíbula estava fora do lugar.

"Coloquei o garfo na boca e travei. Aquilo me assustou muito, pois senti um movimento de gancho. Como se algo tivesse saído do lugar, mas voltado logo em seguida", relata Elisabete.

Coloquei o garfo na boca e travei. Aquilo me assustou muito, pois senti um movimento de gancho. Como se algo tivesse saído do lugar, mas voltado logo em seguida

Elisabete Costa

publicitária

Isso aconteceu em 2020, no início da pandemia da Covid-19, quando a publicitária estava cuidando do pai, que estava doente.

"Eu estava passando por um momento de muito estresse. Eu ouvia um barulhinho do lado esquerdo da mandíbula, como se fosse um ossinho esmigalhado, mas não tinha tempo para cuidar de mim naquele momento."

O problema foi se agravando, até que a publicitária começou a sentir dificuldade para abrir a boca. "Procurei um profissional que me deu uma placa de mordida, para usar durante a noite, mas não resolveu."

Por recomendação de sua dentista, Elisabete marcou uma consulta com Pitta. Ela fez um tratamento com relaxante muscular de uso oral e toxina botulínica aplicada na região da ATM, em 2022.

"Hoje eu consigo bocejar, coisa que eu não conseguia antes. Também não acordo mais com dor nem ouço nenhum barulho na articulação. E, o mais importante, consigo comer tranquilamente, sem medo de ficar com a mandíbula travada", afirma.

Fotografia colorida foca a boca de uma mulher branca que está usando uma placa de acrílico transparente
Placas de mordida ajudam a relaxar os músculos da região durante o sono e podem ser indicadas em casos de DTM - Zarina Lukash/Adobe Stock

Pitta diz que o tratamento conservador, que ajuda o paciente a relaxar a musculatura da região, é o mais recomendado para a maioria dos casos.

"Cada caso é avaliado individualmente e o diagnóstico é clínico, feito durante a consulta. O profissional vai descobrir de onde vem a dor, se é muscular ou intra-articular. Quando o paciente apresenta dificuldade para abrir a boca, podemos pedir um exame de ressonância magnética para saber o que está causando essa limitação", conclui.

Mesmo quando o disco articular está fora do lugar, a cirurgia para o reposicionamento dessa estrutura só é necessária em poucos casos. "O procedimento só é indicado quando o disco é o impedidor do movimento da mandíbula, quando ele trava lá na frente e impede o movimento da mandíbula", explica Pitta.

A cirurgia é considerada minimamente invasiva, mas deve ser feita em hospital, com anestesia geral. O cirurgião reposiciona o disco articular no lugar correto e fixa essa estrutura com uma âncora, que pode ser de polietileno ou de titânio, e reconstrói o ligamento.

"No entanto, o paciente precisa saber que hoje temos recursos para tratar o problema sem precisar de uma intervenção cirúrgica", afirma Pitta.

Entre eles, aponta o cirurgião bucomaxilofacial, estão o uso medicamentos como relaxantes musculares e antidepressivos (quando a tensão é causada por transtornos de ansiedade, por exemplo), de placas de mordida, aplicação de toxina botulínica, fisioterapia e acupuntura.

Ainda antes de partir para a cirurgia é possível tentar uma artrocentese, que é um procedimento minimamente invasivo em que o profissional faz uma infiltração com soro fisiológico na ATM. "Mas a artrocentese só é utilizada naqueles casos em que o disco articular é a causa do problema, e se o paciente não respondeu ao tratamento conservador."

O tratamento para a DTF pode envolver mais de um profissional, já que a condição é multifatorial.

O cirurgião-dentista especialista em disfunção temporomandibular e dor orofacial (DTM-DOF) é o profissional mais indicado para fazer o diagnóstico. O tratamento vai abordar questões biológicas, como condições inflamatórias, até questões comportamentais, como ansiedade e alterações no padrão de sono.

Por isso, após a avaliação com um cirurgião-dentista, é possível que esse profissional faça encaminhamento do paciente para um fisioterapeuta, um neurologista, um psicólogo ou um psiquiatra.

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