Pesquisa desvenda mito de que beber cerveja antes de destilados evita ressaca

Estudo apontou que gravidade do mal-estar após a ingestão de drinques depende mais de como cada corpo processa o álcool

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Dani Blum
The New York Times

Ouvimos essa frase há anos: "cerveja antes dos destilados e nunca mais tenha ressaca", é um dos mantras de estudantes universitários ou qualquer outra pessoa ansiosa para evitar o mal-estar depois da bebedeira.

As pessoas há muito tempo tentam "manipular" seus padrões de consumo de álcool para amenizar os efeitos da ressaca na manhã seguinte. Mas, embora muitos jurem que esses ditados são verdadeiros, os especialistas dizem que as evidências por trás deles são obscuras.

Cerveja e destilado de um bar nova-iorquino
Cerveja e destilado de um bar nova-iorquino - Eric Helgas/NYT

Poucos estudos investigaram se há alguma verdade nessas afirmações, em parte porque esse tipo de pesquisa é cara, desafiadora e demorada, explica Kai O. Hensel, pesquisador do Hospital Universitário Helios Wuppertal, na Alemanha.

Mas em um dos estudos mais rigorosos sobre o assunto até o momento, publicado em 2019, Hensel e seus colegas se propuseram a fazer exatamente isso.

Eles recrutaram 90 estudantes com idades entre 19 e 40 anos de uma universidade na Alemanha e os dividiram em três turmas. No primeiro dia, um dos grupo bebeu um Pilsener de 5% de álcool (fornecido pela cervejaria Carlsberg) até que suas concentrações de álcool no hálito atingissem 0,05%, depois beberam um vinho branco de 11% de álcool até que o mesmo nível atingisse 0,11%.

O segundo grupo passou pelo mesmo teste, mas na ordem oposta. E aqueles que estavam no terceiro, foram instruídos a beber apenas cerveja ou vinho.

Enquanto os participantes bebiam, os pesquisadores perguntavam sobre o bem-estar e o quão bêbados se sentiam. Eles também receberam refeições padronizadas e água, depois foram dormir no local do estudo.

Na manhã seguinte, os participantes avaliaram a intensidade dos sintomas da ressaca —incluindo o quão cansados, sedentos, tontos e nauseados estavam— numa escala de 0 a 7.

Pouco mais de uma semana depois, os pesquisadores repetiram todo o processo, mas trocaram a ordem de consumo de álcool entre os grupos —aqueles que tinham bebido cerveja primeiro, consumiram vinho, e vice-versa– e as pessoas do grupo de controle que tinham tomado vinho no primeiro dia mudaram para cerveja, e aqueles que tinham bebido cerveja mudaram para vinho.

Quando os pesquisadores compararam as pontuações de ressaca dos participantes ao longo dos dias, eles descobriram que a ordem de consumo de bebidas não afetava uniformemente os sintomas de ressaca, diz Hensel.

Não havia uma sequência ideal de bebidas que se aplicasse a todos, informou ele. A gravidade das ressacas das pessoas dependia mais de como seus corpos eram capazes de processar o álcool.

"Nossas descobertas desmentem os mitos antigos", escreveram os pesquisadores no estudo.

A maneira mais fácil de minimizar a probabilidade de uma ressaca é também a mais óbvia: beber menos, diz Emmert Roberts, professor clínico sênior de psiquiatria de dependência no King's College London.

Algumas bebidas alcoólicas são mais propensas do que outras a fazer você se sentir mal na manhã seguinte, explica Roberts. Bebidas mais escuras, como uísque e conhaque, estão associadas a ressacas mais intensas do que destilados de cores mais claras, incluindo vodka e gim. Isso ocorre porque bebidas mais escuras contêm concentrações mais altas de congêneres, compostos produzidos naturalmente durante o processo de destilação e fermentação, que contribuem para as cores, sabores e aromas das bebidas.

O vinho tinto também é conhecido por causar dores de cabeça no dia seguinte, por razões que os pesquisadores não entendem completamente.

Destilados em geral têm uma concentração de álcool mais alta do que cerveja ou vinho, então se você beber quantidades equivalentes, o álcool é mais propenso a fazer você se sentir pior, disse Roberts.

Não há muitas maneiras comprovadas de evitar ressacas. Manter-se hidratado pode ajudar, diz Sarah Andrews, professora assistente de psiquiatria e ciências comportamentais da Johns Hopkins Medicine.

Alternar bebidas alcoólicas com água também pode diminuir a velocidade com que você está bebendo, potencialmente ajudando você a beber menos no geral. E garantir que haja comida em seu estômago antes de beber também é útil, já que beber de estômago vazio pode deixá-lo mais intoxicado.

Mas se sua única forma de evitar uma ressaca é seguir as instruções de um ditado fofo, não vai funcionar, disse Andrews.

"Há tantos mitos sobre o uso de álcool que precisam ser desmentidos", disse ela. "E este é definitivamente um deles."

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