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Camarão faz bem? A resposta é complicada

O consumo levanta questões de saúde e impacto ambiental, especialmente devido ao uso de conservantes e práticas de cultivo prejudiciais

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Erik Vance
The New York Times

O camarão é uma boa fonte de proteína, comparável, por exemplo, a um filé de costela. É rico em cálcio e vitamina B12. Tem baixo teor de gordura saturada, o que o torna saudável para o coração. E, embora o camarão seja rico em colesterol, os especialistas não se preocupam tanto com o efeito do colesterol dietético na saúde.

Camarões em close
O consumo de camarões levanta questões de saúde e impacto ambiental, especialmente devido ao uso de conservantes e práticas de cultivo prejudiciais

Mas, se a busca é por outros benefícios nutricionais que esperam dos frutos do mar, pode haver decepção. As caudas de camarão não são particularmente ricas em ômega-3, ferro ou iodo. "Do ponto de vista nutricional, é como a carne branca do mar", disse Zach Koehn, pesquisador de nutrição do Centro de Soluções Oceânicas da Universidade de Stanford.

A maioria dos frutos do mar é mais rica em nutrientes do que a carne terrestre, mas algumas espécies de camarão estão no fim dessa lista, perto do fundo, junto com bacalhau e tilápia. O frango tem mais proteína, e frutos do mar como sardinha, salmão e ostras são muito mais ricos em nutrientes.

No entanto, como estão no fundo da cadeia alimentar, os camarões geralmente não tendem a acumular toxinas ambientais, como mercúrio ou dioxinas, encontradas em grandes predadores como atum ou peixe-espada. Isso os coloca na lista de "melhores escolhas" da Food and Drug Administration, dos Estados Unidos, para mulheres grávidas e crianças, o que significa que são considerados seguros para consumo duas ou três vezes por semana.

Então, existem desvantagens para a saúde ao consumir camarão? Algumas. Camarões congelados podem conter conservantes como tripolifosfato de sódio e bissulfito de sódio, que pessoas com sensibilidades a sulfito (dióxido de enxofre) ou fosfato podem querer evitar. O camarão cultivado pode apresentar alguns problemas próprios, dependendo do país de origem e das condições das fazendas individuais.

Mercúrio e arsênico podem se acumular no lodo sob os tanques de camarão, afirma José Antonio Rodríguez Martín, biólogo que estudou o assunto para o Instituto Nacional de Pesquisa e Tecnologia Agrícola e Alimentar na Espanha.

No entanto, mesmo os níveis mais altos de metais pesados que Martín encontrou em camarões cultivados no Equador foram metade do que se vê no atum menos contaminado. Ele disse que isso significava que não representavam "risco excessivo" para a maioria das pessoas.

Em muitos países, as fazendas de camarão também usam grandes quantidades de antibióticos para manter os animais saudáveis. Alguns desses medicamentos, como nitrofuranos, podem causar danos ao fígado e estão ligados ao câncer, e quase todos são proibidos nos Estados Unidos.

As remessas que cumprem a legislação dos EUA são seguras —mas nem todas as remessas cumprem, explica Julie Lively, especialista em crustáceos e professora associada no AgCenter, da Universidade Estadual da Louisiana. Sua pesquisa, e a de outros, encontrou antibióticos proibidos em camarões importados, bem como conservantes não rotulados.

Embora o camarão importado contaminado seja um problema que precisa de mais pesquisas, ela disse que provavelmente não representava um risco grave à saúde, comparando-o com o risco representado pela embalagem plástica. "Isso meio que se resume à escolha pessoal," disse ela. No entanto, ela acrescentou que os antibióticos podem causar uma reação alérgica em pessoas sensíveis a eles.

Os custos ambientais e humanos do camarão

Agora, para as realmente más notícias: quando se trata da saúde dos oceanos, muitos especialistas dizem que o camarão está entre os alimentos mais prejudiciais que se pode comer. Isso não porque os camarões estão ameaçados —a maioria das espécies é resiliente— mas por causa do que se precisa fazer para obtê-los.

A maioria dos camarões nos pratos americanos, por exemplo, é importada, principalmente da Ásia e América Latina. Mais da metade deles são criados em fazendas: redes extensas de tanques costeiros densamente povoados, muitas vezes próximos ao oceano. Construí-los destrói habitats costeiros cruciais, como manguezais e outros pântanos. E, uma vez construídas, as fazendas podem poluir ainda mais as costas com escoamento de fertilizantes e antibióticos.

Os camarões selvagens também vêm com um enorme custo ecológico: captura acessória. Como os camarões são pequenos, as redes usadas para capturá-los tendem a pegar tudo em seu caminho. Em alguns países, até 90% do que sobe em uma rede de camarão não é camarão. Esses tubarões, tartarugas, peixes jovens e centenas de outras espécies tendem a morrer nas redes ou no convés do barco.

Em alguns lugares, a produção de camarão tem sido absolutamente horrível para os humanos também. Em 2015, a Associated Press revelou o uso generalizado de trabalho escravo na indústria de camarão tailandesa. O Departamento de Trabalho dos EUA também chamou a atenção para a produção de camarão em Bangladesh, Myanmar e Camboja por usar trabalho infantil ou forçado.

Mais recentemente, uma reportagem investigativa do The Outlaw Ocean Project ofereceu uma visão condenatória da criação de camarão na Índia, o maior importador de camarão para os Estados Unidos, que levantou preocupações não apenas sobre as práticas de trabalho, mas também sobre antibióticos proibidos e danos ambientais.

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